quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Solidão


Mas solidão, que coisa!
Por que tanta gente teme você?
És tão bendita, profunda, terapêutica!
Por que tantas queixas,
Tantos assombros,
Tantas fugas de tudo que a remete?
Eu, particularmente, não conheço nada melhor
Para conhecer-me mais completamente.
Te busco:
No silêncio, no escuro, no remoto.
Quando solitária
Sou muito mais eu,
Sei muito mais de mim,
Me descubro, me assusto, me divirto.
Me cultivo.
Por que causa esse terror?
Será que essas pessoas
Têm tanto medo assim de si mesmas?
Evitá-la, querida solidão,
É evitar-se a si mesmo.
Enquanto você nos ameaçar
Terei a certeza do valor
Da companhia que sou
A mim mesma.
Dos poderes que posso nutrir
Reclusa em você.
É o esconderijo que mais nos desnuda.
Enquanto continuar congelando,
Sem querer – querendo -
Almas desavisadas de seus próprios encantos
Eu saberei que a sua ameaça,
Na verdade,
É o maior de todos os mergulhos,
O mais intenso dos desafios,
O mais honesto esclarecimento.
Porque você,
Amiga solidão,
Afasta de mim os outros
E me aproxima muito mais de mim.
E é aí,
Nessa exclusão involuntária
E fantástica,
Que eu consigo entender esse mundo
E me encaixar melhor nele.
Enxergando com clareza
As missões que elegi um dia,
Em alguma dimensão,
Eu consigo amar com mais sinceridade
- graças ao dom supremo da compreensão –
Meus companheiros de carne,
De sonhos, de sentimentos,
Sem nunca abandoná-los.
Por mais apreço que tenha por ti,
Solidão.