sábado, 21 de agosto de 2010

Intimidade


Entreolharam-se.
Havia uma chama.
Pouco identificável, verdade.
Mas algo ali derrama.

Se espalha,
Impregna.
Embora não haja certeza
Há sempre a proeza
Do que não mata, mas ensina.

Vibrando no respirar
Da insuficiência bendita
Mantendo acesa a sobrevivência,
O gosto pela vida.

E daí em diante
Olhos cada vez mais
Fixos, seduzidos,
Transformou-se em vulcão de libido
A intimidade em silencioso cais.



sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Afago


Deixa eu te afagar
De leve
De mansinho
Como quem doa carinho
Sem medida,
Sem espera,
Afinal,
Sem aquela pressa
Que faz da gente refém
Das coisas, de alguém.
Não.
Só me deixa te afagar.
Assim
De dentro pra fora
Sem ensaio
E sem hora
Só no embalo do ímpeto
De agradar.
Se me vê dessa forma,
Tão gentil,
Então me deixa exercitar
O dom raro de doar
O que mais ninguém
Se dá o direito
De praticar.
Isso é interesse.
Admito.
Mas é também humanidade
Um impulso
Uma vontade:
Mistura boa
Que só sente
Quem é gente.
E eu
E você
Tão apurados pela sensibilidade
Com esse talento
da tradução invisível
do dizer o indizível
temos, sim
O merecimento
De descobrir
O afago
O abrigo
A delícia e o castigo
Do gostar.





Inspiração



Sou governada pela inspiração
Mas ela me falta as vezes.
Muitas vezes.
E quando falta, parece que é pra sempre.
Demora pra voltar,
Deixa um vazio... um vão...
Que me separam do lado de lá,
O mesmo que torna tão melhor o lado de cá.
Depois retorna como um vulcão:
Intensa, sedenta, do jeito que gosto,
Fica um tempo, povoa tudo
Me devolve ao sonho.
Mas de repente, e novamente, se vai.
E deixa um vazio... um vão!
Mas estará tudo bem, enfim,
Enquanto ela voltar.