segunda-feira, 23 de maio de 2011

Durante seu sono


Gosto quando você dorme deitado no meu colo porque é nesse momento que eu me deparo com a minha própria capacidade de entrega, e isso faz com que eu consiga me conhecer melhor, pouco a pouco e repentinamente, sem uma real intenção. Só enquanto afago seus cabelos no meio da quietude desses instantes que consigo enxergar com uma clareza chocante o quanto nos transformamos diante de alguém que amamos e o quanto esse bem-querer ativa em nós uma série de desejos dos mais puros. Desejos esses que não exercemos ao longo do dia, com qualquer um. E eu até lamento por isso, mas como humana que sou, me permito esse momento de extrema lucidez pra reconhecer o quão mais fácil é exercitar nosso melhor diante de alguém que nos é valioso.

Fico olhando você lá, quietinho, tão bem encaixado no meu aconchego, e acabo sendo capturada por pensamentos sobre todas as coisas boas e simples que quero pra você: paz, felicidade, respeito, uma vida longa, sonhos realizados... Foi num desses momentos que me dei conta da oração rara que sai de mim exclusivamente pra você, sem planejamento nenhum. Eu apenas rogo a tudo que há de bom no universo para que te cuide muito bem. E como eu sei da força que esse tipo de oração tem sobre a energia vital, senti-me em paz por querer isso todas as vezes que te vejo dormindo, que é quando eu me obrigo a silenciar e simplesmente contemplar o seu sossego. O mesmo cuidado que tenho ao carinhar teu rosto de levinho, pra não te acordar, tenho ao pensar em coisas positivas para que nada contamine o seu descanso, que é também um momento sagrado no qual você me entrega sua confiança e intimidade.

Agora, que me dei conta desse ritual tão interno quanto espontâneo, fico curtindo com mais intensidade o amor que se movimenta em mim enquanto te observo. E todas as vezes é igual: como é fácil querer o bem assim. Então eu policio mais o que passa pela minha mente para emanar a você, ali, desligado e inconscientemente receptivo, as energias mais benéficas. Nesse momento de lucidez ímpar, tento não desviar-me de nada que polua os meus sentidos, de tão mágico que é estar diante do meu próprio melhor, estimulado por você, pelo que é pra mim. Com você lá, aninhado no meu colo, quero apenas colaborar para que o sentimento de paz que o seu cochilo sempre sugere, seja respeitado e contamine tudo que vier a seguir.

E assim eu vou te olhando, te paquerando, passeando com meus dedos em você até que o sono seja interrompido, o barulho invada o nosso espaço novamente e eu já tenha inundado o meu próprio coração desse amor desinteressado que me toma e me faz lembrar do quão grandiosos podemos ser diante de quem nos toca profundamente.

Gosto quando você dorme deitado no meu colo, porque isso me faz acordar para verdades humanas genuínas que o mundo, cada vez mais ligado, nos leva a esquecer. 


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Queria um beijo


Queria um beijo daqueles que não se precisa pedir. Um beijo impensado de tão desejado. De surpresa. Um beijo lento, sem pressa, sem ameaça, sem desconforto. Um beijo simples e honesto, sem grandes rompantes. Apenas um beijo dado com vontade. Nem rápido nem demorado, mas com sentimento. Beijo quentinho, que faz a gente amolecer inteira instantaneamente. Um beijo daquele que, de tão espontâneo, não se esquece mais. Daquele que deixa o gosto na boca da gente pra sempre. Como o primeiro beijo de um novo casal, cheio de descoberta, mas com mais intimidade. Tanta intimidade que a procura pelos lábios chega a ser intuitiva. Um beijo que abraça, curte, sente a outra pessoa por inteiro. Um toque leve de lábios, de línguas... olhos mansamente cerrados, mãos soltas, coração entregue. Beijo sem nota, sem avaliação. Beijo de namorado apaixonado. Beijo de saudade. Um beijo que, quando acaba, faz a gente respirar fundo e demorar pra abrir os olhos. Suave, calmo, de paz. Beijo que transmite aconchego, bem-querer, aceitação. Eu só queria, enfim, um beijo de amor. Agora. 


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Aprecia-me


Aprecia-me de novo
Como já se dispôs um dia.
Outro dia mesmo.
Quando me olhava e já sentia.

Aprecia-me de alguma forma
Não importa qual.
Busca com bondade, generosidade,
Algo que suplante o que tenho de mau.

Aprecia-me só mais uma vez
Pra eu lembrar o gosto bom
Que emanava de nós dois
Diante de um novo dom.

Aprecia-me com paciência,
Devagarinho, se for o caso.
Reencontre algum encanto,
Não me condene ao escasso.

Aprecia-me e deixe-me saber.
Porém, se não mais provoco-te motivação
Aceito seu silêncio, mas peço distância
Pois não existe amor sem admiração.