Você
é um erro que eu já havia cometido antes. Um erro que já havia
prometido a mim mesma que não cometeria mais, um pedido íntimo para ser
menos impulsiva. Mas não deu. Eu não consegui resistir àquele seu jeito
de olhar e o mundo de possibilidades que eu enxerguei através disso. Não
resisti ao calor, ao sufoco, à intensidade. Havia uma chama, entende?
Mas o tempo passa e apaga as chamas, com sorte deixa alguma brasa
apenas. E eu sempre esqueço que o tempo vai passar e destruir essas
chamas que eu uso para aquecer mais meus caminhos.
Você
é um sonho que eu já havia sonhado antes. Mais uma daquelas fantasias
que eu pensei que a idade curaria. Não deu de novo. Sou imune a certas
curas e totalmente propensa a certas doenças. A doença do romantismo,
por exemplo. É sempre ela que me empurra para os mesmos erros, as mesmas
esperanças , efeitos colaterais que até passam, mas que deixam cicatrizes.
Você
é uma vontade que eu já senti antes. Uma provocação, uma insistência,
um absurdo. Você é a lição que eu pensei que já tivesse aprendido. É meu
céu e meu inferno. É mais um dos meus grandes enganos à espera de algo
definitivo. Sim, eu gosto do movimento, nunca digo não a ele, mas espero
ansiosa por algo que me faça aquietar. E eu quis tanto
que fosse você!
Deve
ser porque, apesar de tudo isso, você é a presença que eu não havia
tido ainda. Você é o retrato de um empenho que eu ainda não tinha
experimentado; é a confluência de uma série de capacidades que eu não
sabia que possuía. Você é a dedicação, a tolerância, a paciência, a
vontade que eu não fazia ideia que pudesse ter.
Você
é o encontro que eu ansiava, mas que eu nem achava que vinha. É a maior
espera da minha vida! Você é um misto de satisfação e revolta que vem e
volta, uma montanha russa instalada bem no meio do meu estômago. As
vezes tenho vontade de te bater, mas todo o meu corpo só sabe mesmo é te
carinhar.
Você
é o amor que eu ainda não havia sentido. Um amor que eu não conhecia,
não entendia, não alcançava. Você é o símbolo do meu inimaginável, o
meu maior desafio. Quantas e quantas vezes eu pensei em sair correndo de
você! No entanto, são maiores ainda as vezes em que eu não consigo
me ver longe disso tudo que você me traz todos os dias.
Sim, foram muitas as vezes que eu pensei que isso era qualquer coisa,
menos amor. Mas foram incontáveis as vezes em que eu tive certeza de que
é o maior amor que eu já pude sentir.
Você
é a contradição da minha própria verdade: a chama que o tempo apaga mas
que acende de novo quando eu menos imagino; o erro que, de tanto ser
cometido, acaba virando acerto; o sonho que se realiza todos os dias; a
espera que dói mas da qual não consigo abrir mão. Você é a coragem que se renova conforme o perigo.
Talvez você seja tão meu, mas tão meu, que por isso mesmo causa essa bagunça toda. Afinal, só alguém realmente meu conseguiria desbravar tanto esse tudo que sou eu.