quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eu, me apegar?


Você é cheio dos encantos e dos perigos, mas eu estou atenta, não vou me apegar. Afinal, por que me apegaria?
Ora... você não acha que eu me deixaria levar assim, tão facilmente, não é? Só porque ninguém pisca desse jeito que você pisca, meio que em câmera lenta, meio que desplugado do mundo, não quer dizer que consiga me enfeitiçar. Nem mesmo quando lê concentrado, fazendo o mundo parar de girar, ou quando o ritmo dessas piscadelas muda em função do seu humor. Nem assim conseguirá fazer com que me apegue.
Estou atenta a você e a esse seu jeito sui generis de menino. Quando você digita, olhando na tela e na tecla, na tecla e na tela, como desculpa para um intervalo à reflexão, com todo cuidado, relendo o que escreveu, avaliando e voltando às teclas bem devagar, eu quase me desmancho. Mas não, não estou me apegando!
Por mais tentadora que seja essa sua forma simples e franca de ver o mundo, de viver a vida, já me protegi toda de você. Não adianta tentar! Só porque minhas pernas ficam totalmente bambas quando você me encara bem de frente, desse jeito que eu não me lembro ter sido encarada antes, e porque quando aperta os olhos só pra me provocar eu perco totalmente o rumo, a noção de tempo e espaço, não quer dizer que tenha me apegado a você.
E não me venha falar com esse seu jeitinho, não. Está certo, não há no mundo alguém que misture na fala, no jeito, no som e nos movimentos esse feitiço misto de criança e ao mesmo tempo essa postura de homem tão bem resolvido consigo mesmo. Mas eu estou forte também com relação a isso, não cairei na sua teia. Por mais que tenha atingido meu ponto fraco com essa sua mania de fazer acontecer sem dizer palavra alguma.
É verdade que o jeito que você me beija chega a ser até covardia. Eu tinha esquecido como era perder o chão durante um beijo... e eu ficaria horas a fio solta por aí, presa apenas em seus lábios... e esqueceria da vida bagunçando seu cabelo, carinhando suas sobrancelhas... e descobrindo meu próprio corpo através de você... e... Mas não! Não vou me apegar, e tenho dito!
E só porque onde quer que eu esteja, estão também suas músicas, suas expressões criativas, suas tiradas inusitadas, não vá achando que me apeguei. Nem porque fico rindo sozinha, lembrando das coisas que você diz e faz, ou porque fico horas e horas tentando desvendar essa sua naturalidade – que, aliás, me surpreende todos os dias, a cada aparição sua.
É verdade, admito, que te paquero o dia todo, detalhe por detalhe, e que adoro absolutamente tudo em você. Mas não vou me apegar, não, tá?
O fato de ler e reler seus e-mails e suas mensagens compulsivamente não quer dizer nada também. Só porque sou viciada no seu jeito de escrever e de se expressar, não garante que, um dia, talvez , eu me apegue. Nem de te enxergar em tantas letras de músicas. Nem de sentir seu cheiro de repente, nos lugares mais improváveis. Nem... Estou atenta! Muito atenta!
Já percebi que é um sedutor nato. Suas músicas te denunciam. Você todo se denuncia, porque não faz questão nenhuma de fingir ser o que não é. E isso já bastaria para que eu me apegasse – caso não estivesse tão segura agora, claro.
Segura de que você é, definitivamente, alguém a quem apegar-se é pouco. Você entra na gente como um fluído e vai se espalhando de uma maneira contra a qual não há defesa. Não há como apegar-se a você porque a gente passa direto por esse estágio meio termo do gostar. Ou gosta de uma vez, ou adora, você não dá outras alternativas menores.
E isso tudo porque você é assim, exatamente do jeitinho que é. Porque me deixa de pernas moles e coração aos pulos. Porque nunca sei bem como agir, quando ir, quando ficar. Por você, me deixo levar, perco o controle de minhas próprias resistências. Você põe em xeque toda a segurança emocional que eu criei, com tanto custo, para me proteger da dominação humana.
Há tantos porquês! Foi ali, na primeira vez que o vi, que me apeguei a você, e desse baque que eu nunca consegui entender bem, jamais vou esquecer. Eu te vi e já soube que era alguém especial pra mim. E agora, no meio dessa fantasia que você me faz experimentar, fico sem minhas principais defesas, afinal, diante de você sou apenas eu, da forma mais pura que consigo ser. E até isso me intriga nessa sua arte de ameaçar minha fortaleza íntima.  
Porque você chegou em um momento em que eu estava em busca de mim mesma, com pedaços vitais espalhados por aí. Sem dizer nada, pegou minha mão, me fez lembrar tanto do que sou e me desafia nesse reencontro comigo mesma. Você desperta a loucura que habita em mim, mas que andava adormecida, que o tempo neutralizou. E que saudade que eu estava desse meu lado!
Enfim... você me assusta e me fascina, e eu tinha esquecido do quanto esse efeito me desperta e me empolga. Você é um risco bom de se correr. Desses, cujo o apego permanece para sempre e vai crescendo, e vai crescendo...



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