quarta-feira, 21 de março de 2007

Assim são os inesquecíveis




Mudam as companhias, os cenários, a trilha sonora. Muda-se o estilo, o vestir, a cor dos cabelos, o clima, o gosto e até a forma de pensar. Mas há coisas que estão enraizadas, plantadas na alma para nunca mais morrerem. São como raízes de árvores milenares, ainda mais admiradas com o passar do tempo. Raízes que ultrapassam o espaço estipulado a elas. Na verdade, são como obras de arte - e de fato o são -, confeccionadas pelas mãos do destino, da vida, que nunca dão satisfação.

E a gente fica sem saber, sem entender o por quê... Por que será que mesmo depois de ter mudado o repertório, quando "aquela" música toca, a gente deixa de estar ali onde estava, para buscar algo que já foi? Por que, depois do cenário trocado, dos holofotes virados para outra direção, sempre tem alguma passagem que volta e nos carrega junto com ela para capítulos que já não se repetem mais? Sempre tem um cheiro diferente que invade o ambiente quando menos se espera e faz o tempo parar, recuar. Sempre tem uma palavra, um gesto, um objeto, um momento, uma mania que aparecem repentinos e atropelam o presente, puxando para o passado que nem pede autorização, apenas nos impõe as lembranças.

E são lembranças que nunca perdem a cor, o clima, o teor. Essas nunca perdem a majestade. A fase pode ser outra, mas sempre é tempo de voltar a sentir na alma momentos que mudaram a nossa história e nos fizeram teletransportar, sentir coisas que nunca poderão ser definidas com exatidão, sequer detalhadas. Apenas lembradas, mesmo quando se busca esquecer.

Os inesquecíveis não morrem, não acabam, não somem, não se apagam, não se desfazem... não se esquecem. Porque nunca perdem o vigor. As raízes, quando profundas demais, ocupam um espaço muito grande e abalam qualquer estrutura. E depois, mesmo que se tornem apenas história, ainda nos obrigam a admirá-las, e a carregar conosco pra sempre essa sensação de fervor nas veias e frescor na alma.

E os sinais nunca deixam de surgir, por mais que o futuro se faça presente, deixando o passado cada vez mais distante. Esses sinais não enxergam a distância. Quando eles surgem, sempre do nada, agarram a gente bem forte pelo coração e puxam para reviver , em segundos, o que o tempo não consegue apagar. É mais do que a velocidade da luz. São flashes que a gente enxerga por dentro e sente novamente igual, como se não tivesse acabado. Não importa quanto tempo faz e nem quão longe se está. Os sinais vêm, se transformam em lembranças e nos levam a sentir novamente tudo aquilo que o coração nunca vai querer deixar de sentir, simplesmente porque não consegue esquecer.

Assim são os inesquecíveis. E o são apenas porque foram reais e verdadeiros o suficiente para se tornarem eternos. E porque nunca é demais vivê-los e revivê-los, mesmo que por segundos que se repetem a vida inteira.

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