segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Mãe

Ontem eu chorei um choro que precisava. Sozinha, isolada, eu chorei alto, protestei e chamei, chamei o quanto pude, mesmo sabendo que a voz que eu esperava não me responderia. Ontem eu me fechei em um lugar onde pudesse, simplesmente, chorar sem a companhia e nem a solidariedade de ninguém. Chorei por você e pela falta que me faz, mais e mais, a cada novo dia. Chorei por mim e pela constatação da minha impotência diante da realidade da vida e da morte, e ídem pela minha fraqueza diante desse mundo que ficou, de repente, tão gigantesco e inexplorável sem a sua companhia.

É fácil chorar ao lado de outras pessoas. Elas podem chorar junto, ou então se solidarizar com aquelas lágrimas que sequer traduzem a imensidão de uma dor ou de uma saudade. É fácil chorar com abraços por perto, com presenças, com apoio. Difícil é chorar com e pela ausência, a covarde ausência que se impõe sem que exista nenhum mecanismo de defesa contra ela. Sim mãe, é bem mais difícil chorar sozinha, tentando entender a sua própria dor e não conseguir transformá-la em nada além de lágrimas que se esparramam no rosto da gente enquanto a dor e a impaciência se esparramam na alma.

Ontem eu precisava chorar esse choro sozinho, sufocado, calado, evitado. Eu precisava soluçar, chamar seu nome, dialogar com você naquele silêncio impenetrável, mudo. Ainda me falta gritar, como tenho também vontade, mas aquelas lágrimas, nos minutos em que duraram enquanto o fim da tarde anunciava a noite e o escuro declarado do meu dia, serviram como parte desses gritos que tanto pedem pra sair em forma do seu nome. Mãe! Mãe!

Eu poderia ter acendido mais velas pra você ontem. Poderia ter feito preces também durante o dia. Mas eu preferi chorar, chorar sozinha, sem a complacência de ninguém, sem a companhia e a dor de mais ninguém por perto, só a minha. Eu preferi chorar por ter perdido você. Chorei porque hoje você está em algum lugar de Deus e eu estou aqui.

Essas lágrimas ainda descerão mais vezes, mãe. Elas virão lavar a minha solidão, minha raiva e meu inconformismo. Elas terão de vir mãe, e eu peço que você as compreenda, as perdoe. O tempo, que não anda, talvez possa ser empurrado por essas correntezas que saem dos meus olhos até que um dia Deus permita que eu navegue de novo até você, minha Ilha.

3 comentários:

  1. Simplesmente EMOCIONANTE!

    Arrepiei ao ler suas lindas palavras. Isso, de fato, é uma homenagem justa àquelas que no primeiro dia de nossas vidas, nos colocou no colo e nos alimentou pela primeira vez. Parabéns, moça. Lindo texto!

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  2. Muito lindo, belo, cheio de emoção e sentimento...ele nos permite visualizar uma dor existente e uma saudade que eu sei que perdura com ou sem lágrimas.

    que Deus te abencoe por tudo...

    Jornalista Meireles

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