sexta-feira, 23 de março de 2007

Cadernos


Tenho muitos cadernos novos guardados.


Eu os guardo com tanto cuidado, com tanto zelo!


Mas hoje estava aqui olhando um deles, tão bonito, tão limpinho, e pensei: “porque guardar tantos cadernos com páginas vazias? Porque evitar de preenchê-las, de usa-las? Por que esse medo de estragar? São simples cadernos. Quando acabar, você compra outro, que talvez seja até mais bonito. Mas o que vai assegurar mesmo sua beleza, é o que você pode registrar neles. De um jeito ou de outro, tudo que for gravado nessas linhas torna-se imortal. E dependendo da forma que você o fizer, pode transformar-se em ouro”.


Decidi soprar o pó de cima das caixas e tirar delas todos os cadernos novos que há anos envelhecem sem uso dentro delas. E vou me reproduzir em cada uma daquelas linhas. Sei que juntos podemos conseguir muitas coisas. Sei que através delas posso me conhecer cada vez mais.


Que sejam, então, eternas companheiras as linhas dos cadernos que eu tanto guardei. Vou devolvê-los ao objetivo comum do uso, e usá-los, enfim, para me descobrir na brancura dessas páginas. Pra me doar completamente nessas folhas da forma que eu souber.


Por causa desse amor todo pelos cadernos e do cuidado, do medo de perdê-los, deixei de usar, e sequer os vejo, já que dentro de caixas empoeiradas e esquecidas os tirei de circulação sem nem mesmo tentar. Que saiam, então, e ganhem vida, me trazendo também muita liberdade por meio disso que eu tanto amo: escrever.


Os cadernos serão, eternamente, o retrato da lição. A lição de casa, a anotação do que é aprendido, do que é discutido, o lembrete de tarefas, de segredos, de recados. Serão, eternamente, fonte de inesgotável inspiração. Com a vantagem de poder ser carregados para onde quer que vou. Eles estão sempre dispostos a ouvir o que tenho a dizer. E aceitam, silenciosos e leais, tudo que nele confesso, desde o que não sabemos e não conseguimos entender, até o que fazemos sem pensar.


Vou abrir os meus cadernos guardados. Vou marcá-los com a minha letra e a minha vontade de registrar a imensidão daquilo que se sente, mas nunca se sabe bem como explicar. Eles saberão.

Um comentário:

  1. Me identifico com suas impressões sobre o caderno, esse amigo do "peito" que guarda nosso passado pois nele contém marcas de nossos passos, de como foram dados e escolhidos para estarem ali. Talvez seja um retrato único e eterno, se permitimos, daquilo que não podemos esquecer, não como um bloco de notas, mas uma fotografia poética da nossa essência.
    Adoro escrever no caderno, e você?

    Beijos, adorei todos os textos.

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