domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Terraço



Se um dia, por qualquer motivo, eu tiver de buscar outro lar, ele terá de ter um terraço igual a este aqui do lar em que vivo agora. E se não tiver, vou dar um jeito de construir. Não precisa ter luxo, basta que dê a volta em toda a casa, que caiba uma mesa bem grande de frente para a rua e que seja aberto – o suficiente para receber aqueles que trazem vida e lembranças eternas ao meu lugar. 

Se eu não puder mais desfrutar deste terraço onde cresci, brinquei, namorei, recebi amigos e fiquei sozinha por tantas e tantas horas olhando a chuva cair; onde estiquei as redes para relaxar olhando o verde vivo do gramado, contando as casas de João-barro no alto das árvores, admirando a garça que há décadas vive sob o telhado do vizinho e ouvindo o barulho do trem de carga que empurra o mato da linha quase abandonada, será por um motivo muito sério, porque não há nada que me faça desejar estar longe daqui.

Mas se acontecer, tentarei recriar um terraço exatamente assim, na esperança de reviver os instantes acolhidos neste espaço, debaixo deste telhado que nos protegeu de tantas chuvas, sóis, serenos, sem que tivéssemos de abrir mão de presenças, de horas, de sabores, de barulhos, de contemplações, de risos e silêncios. E vou continuar povoando a mesa de gente que eu amo, com a comida que eu gosto, em todas as oportunidades. E quando não houver ninguém, farei o mesmo que estou fazendo agora: sentarei nessa mesa enorme com papel e caneta, talvez até uns lápis de cor, e tentarei decifrar um pouco mais da minha alma, como só consigo aqui, olhando o movimento da rua, o soprar do vento, o cair das tardes. Sentindo com os olhos e com a pele as estações do ano mudarem. 

Daqui eu consigo ver os meninos brincando de carrinho ou rolando com os cachorros no chão; as avós os balançando na rede até dormirem; os churrascos com a turma da faculdade; a briga pelo primeiro pedaço do bolo de todos os aniversários; os almoços de família; as pessoas sentadas na beira do piso, balançando as pernas, jogando conversa fora nas tardes de domingo; as reflexões silenciosas de quando a gente só precisa de um tempinho pra pensar; os dias em que minha mãe e eu passávamos fazendo artesanato e falando sem parar; as vezes em que nos juntávamos para descascar toda a fava que meu irmão colhia da cerca; os papos que começavam do nada e iam longe; a churrasqueira de bloco; as gargalhadas; as respostas que só chegam quando se senta aqui. 

Se esta casa é o pedacinho do céu, como eu gosto de pensar (e como todas as casas devem ser), então talvez esse terraço seja a eternidade. A minha eternidade. Nele estão imortalizados os momentos que fizeram de mim o que sou hoje. Por ele passaram as coisas em que acredito, as escolhas que fiz, tudo o que mais desejei. Passaram as pessoas mais importantes da minha vida, as que mais me influenciaram e as que mais me ensinaram também. Onde muitas lágrimas rolaram e muita coisa foi dita. Onde palmas bateram trazendo boas e más notícias, surpresas e descobertas. Onde muitas esperas foram encerradas, muitos encontros, consumados. Onde, simplesmente, os dias se transformaram em anos, que se transformaram em lembranças, que se tornaram ensinamentos e, por fim, saudades.

E hoje estou aqui, no meu terraço, revivendo essas lembranças e pensando nos meus sonhos. No futuro que apenas eles me garantem. Acho que os primeiros sonhos, quando chegaram, nem precisaram atravessar portas para me encontrar. Eles devem ter me achado já no terraço da casa, onde desde pequenina eu fico à espera, criando e recriando cada um deles.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Um oceano de silêncio



Não conseguia compreender o seu silêncio. Sou barulhenta e bagunceira, e isso me torna insensível com os quietos. Com a verdade profunda. Com você, que nutre uma quietude que não aplaca apenas a fala, mas também os olhos, os movimentos, as intenções. Não consigo te ler! O não saber que esse silêncio impõe sempre me incomodou demais, porque eu preciso saber das coisas, gosto de ouvir o barulho das aflições, das exuberâncias, das contenções, das saliências, das dúvidas, das verdades, dos absurdos que compõem cada pessoa. Por mais incertos e tresloucados que sejam esses impulsos, prefiro ouvi-los. Assim como prefiro, desajustada, emiti-los.

Essa minha mania de viver depressa demais não te deixaria mesmo escapar, daí a vontade louca de te tomar num gole só. Mas você não é pra ser tomado em goles, quanto mais num só. Você é um oceano inteiro. Um oceano de águas inexploradas – as vezes temidas, as vezes desafiadas sem qualquer prudência, mas nunca navegadas de verdade. E só agora me dei conta que o seu silêncio é sua defesa. É a forma que encontrou de proteger-se dos medos, das grandes constatações, das próprias revelações. Então você se veste de jangada e se lança à deriva de si mesmo, e quem te sobrevoa se atenta à jangada solitária e esquece o oceano. E lá está você. Aparentemente feito de águas calmas e desabitado. Aparentemente. Escondido e inalcançável.

Senti-me culpada agora. Por fazer tanto barulho. Por não compreender o seu silêncio. Por não respeitar sua autoproteção em forma de sigilo. Por querer fazer onda no seu mar congelado. Só agora entendo muitas das coisas que você disse sem emitir ruído algum. Talvez eu aprenda com você a poupar também as cordas vocais da minha alma, que berra o tempo todo, propagando minha ânsia aos quatro ventos enquanto você só faz engolir a sua. Talvez eu aprenda, finalmente, a não impor minha música pobre aos ouvidos que me circundam. Senti-me egoísta e infantil agora. Porque você suporta as intempéries do tempo e do clima sem reclamar. Sozinho. Calado. Recebe e acolhe as gotas e os granizos despejados pelas tempestades que eu e outras nuvens pesadas impomos sobre você. Mesmo assim você se mantém. Poderia nos afogar se quisesse, mas prefere afogar-se no próprio mistério, e isso te torna cada vez mais profundo, mais distante da superfície. Mais calado.

Olhei nos teus olhos escuros com mais cuidado desta vez. Sem pensar apenas em mim, sem querer tanto, sem intenção nenhuma. Olhei em sossego e com o único intuito de buscar-te. Foi aí que enxerguei mais do que a jangada. Foi quando atentei-me à sua infinitude e à minha  superficialidade. Você é um mar repleto de tesouros e de histórias. De águas límpidas, mas não transparentes. Um oceano de segredos. Impenetrável. Uma dessas obras-de-arte naturais que ainda não encontrou um explorador à altura. Só o silêncio.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Presa na sua fantasia



As vezes você está tão perto, e quando acontece, sinto que finalmente alcancei aquele espacinho raro do seu coração. Mas de repente você se distancia e se fecha. Fico vendo isso acontecer sem saber onde errei, sem conhecer os porquês dessa sua fuga. E não poder fazer nada pra evitar é tão frustrante. Mas meu coração tolo não desiste e, teimoso, se adapta. Então, quando me acostumo a ter de esticar os braços pra te alcançar, você vem pra bem perto novamente e me faz crer que o meu amor foi aceito, que não há ameaças nem condições. Aí me aconchego no seu colo tão perfeito pra mim e me seguro bem forte, esperançosa de que assim permaneçamos até que a nossa música pare de tocar. 

As vezes você faz coisas que surpreendem até um coração romântico e incorrigível como o meu. Sem que eu espere, toma atitudes que gritam amor. Bem que me disseram que você não é de falar, só de fazer. Mas as vezes você se cala de um jeito que não há o que eu faça que consiga arrancar um suspiro seu. E eu tento, alfineto, investigo, observo, imploro, até que, exausta e confusa, simplesmente espero. E me conformo novamente com seu silêncio, por vezes frígido, cruel, insensível; por vezes indiferente, desatento. Aí me calo também, breco os rompantes da minha alma carente e sedenta, e penso estar aprendendo mais uma lição. É aí que seu amor ressuscita, renasce, se recobra do coma que me coloca de castigo, e se declara. 

Uma música, um carinho fora de hora, uma ligação surpresa, uma noite de amor incomum, aquele sorriso diferente, uma palavra, um agrado, cinco minutos a mais... São esses elementos que me prendem a você. Quando acho que não, você quer estar perto e só. O difícil é conseguir prever quando, porque as vezes sou eu que preciso que você queira estar perto. Perto de verdade. Prefiro acreditar que você esquece que eu também tenho necessidades que só você é capaz de suprir.

Será que esse amor, além de improvável, é tão provisório que não pode doar um pouco de segurança? Não faz sentido colecionar dias se eu não puder sentir que estivemos realmente juntos em cada um deles. O que é que te traz e o que é que te leva? Não tenho mais do que abrir mão, e não sei mais até onde posso compreender. Eu também preciso de um pouco de segurança. Pelo menos com relação ao que você sente. 

Algumas respostas encheriam de paz o meu coração e o deixariam mais forte para seguir adiante na nossa corda bamba. Mas acho que isso é pedir demais pra você, cada vez mais silencioso, reservado, arredio. E eu tenho te pedido muito mesmo. Está errado. O correto é não ter de pedir, e é isso que vou fazer daqui pra frente. Talvez pra compensar um pouco de tudo que você, indiretamente, me pede. E mesmo sem as respostas que tanto sonho, ainda estou disposta a me manter firme na corda bamba que leva até você e os seus extremos. Porque apesar do balanço e da ameaça de queda, você permanece aí, a poucos passos diante de mim e com os braços esticados para que eu não desista de alcançá-los. Apesar de tudo, sinto a ponta dos seus dedos, e eles dizem pra eu não cair e nem voltar atrás. Você ainda está comigo nessa aventura burra, perigosa, porém fascinante, e isso me prende à mesma fantasia.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Prova de amor em minutos

Aquelas horas foram provas de amor. Elas passaram voando. É sempre assim. Mas naquele dia elas nem sequer me seriam dadas. No entanto, você fez mágica com o seu relógio só para que o meu não parasse de correr. Porque é isso que acontece quando você não vem. Os ponteiros paralisam, a vida perde totalmente o ritmo, e eu, a noção de espaço. Era isso que estava fadado a acontecer com aquele sábado, quando você disse que não viria. Meu coração parou. De repente me vi perguntando: e agora? Como se nada mais pudesse salvar aquele restinho de dia, aquele final de semana inteiro. E não podia mesmo. Não havia nada capaz de trazer alegria semelhante a que sinto quando estamos dividindo as horas que são só nossas. 

Mas então, em um alô, você reintegrou todas as engrenagens que acendem as luzes da minha alma e que fazem o tempo valer a pena. O dia já estava findando e eu nem tinha mais esperanças, porém, ainda assim você veio e me acolheu o quanto pôde. Seu relógio dispunha de pouco tempo, e mesmo assim você fez valer cada minuto. Pura prova de amor. 

O tempo, que nunca nos é suficiente, não se fez de rogado, claro. Passou correndo. Quando vimos já era hora da despedida novamente. Mas você veio. E como não podia deixar de ser, impregnou a casa, meu corpo, meu coração com a sua presença insubstituível. Sob esse efeito é bem mais fácil aguardar pela próxima vez, ainda mais depois de uma surpresa tão significativa como aquela. Que não foi a primeira, reconheço. Eu nem te disse o quanto aquilo significou pra mim, mas sei que você imagina, caso contrário não teria encarado a estrada e os riscos que nos rondam para me mostrar que queria, sim, estar comigo. 

Aquelas horinhas salvaram dias inteiros! E hoje, só de lembrá-las, só de pensar na sua disposição, revivo os instantes que me fizeram sentir tão amada. Mais uma vez você me trouxe algo inusitado. Mais uma vez me deu uma lição. Eu do meu jeito e você do seu conseguimos dizer “te amo” através do tic tac do relógio que regula nossos instantes, porém eterniza nosso encontro. 

Vi que são necessários apenas alguns minutos para se dar a alguém uma prova de amor dessas que não se esquece jamais. Você me deu.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Medo de intimidade


Ontem, quando eu estava passando a ponta dos dedos em cada uma das dobrinhas do seu corpo, lembrei do medo que eu sempre tive de intimidade. Por que, com você, esse medo deixou de existir?

Quando eu pensava em compromisso, sentia-me ameaçada pela proximidade que toda convivência séria prevê. Eu pensava na perda da minha liberdade, da sagrada privacidade, em invasão ao meu corpo, aos meus hábitos, meus segredos. Mas ontem eu me vi ali, com você, tão em paz nessa entrega... Por que tudo é tão mais fácil com você? Não havia nada que eu não pudesse te confessar.

A nossa relação tem sido uma das mais incríveis escolas que a vida já me levou a frequentar em prol da arte que é existir. Eu sei que todo aprendizado é íntimo; coletivo mesmo é o ato de exercer o que se aprende, mas só se consegue praticar aquilo que realmente nos convence por dentro, que bate na alma primeiro. Só que no nosso caso, a lição tem sido mais pessoal e profunda do que qualquer outra. É um aprendizado que torna mais fácil a caminhada daqui em diante, e isso é tão meu!

Silenciosa, minuciosa, instintiva, essa lição vai acontecendo devagarinho, dia a dia, em sintonia com o amor que nos mantém juntos e que, ainda bem, é sempre tão natural. E assim vou aprendendo sobre a melhor forma de lidar com alguém que, até outro dia, era um completo estranho e, de repente, se tornou uma das pessoas mais importantes do mundo. E até pensar sobre isso me leva a entender muitas coisas que antes eram completamente incompreensíveis.

Permitir que você me conhecesse tão de perto fez com que permitisse a mim mesma uma exploração mais justa e aproveitável dos meus limites e das minhas capacidades, não só como mulher, mas como pessoa. Desde que chegou, você tem me apresentado ao que há de mais secreto em mim. E, estranhamente, isso não me causa mais temor. Pelo contrário, estou feliz. Feliz comigo e com você, meu amor, minha doce e ininterrupta descoberta.

Quantas e quantas vezes me pego intrigada pensando em você, em tudo que está acontecendo comigo desde que te conheci. E quantas dessas vezes agradeço por isso. Sim, você chegou na hora certa, quando eu estou mais preparada e com mais ânsia por experimentar algo mais intenso, mas nada disso seria possível se não tivesse encontrado alguém como você, que facilita tudo, que dá mais gosto aos dias, às novidades, às sensações.

Eu tinha medo da intimidade, do que ela poderia me custar, porque me baseava nas inconsistências vividas até então. Não havia outro parâmetro, só o do receio, da insegurança, da timidez, da falta da verdadeira entrega. Não conseguia entender o que levava as pessoas a fazerem certas escolhas por se desejarem tanto.

Hoje, o que restou foi a pressa de viver isso. Você me mostrou que há glórias na intimidade quando ela é dividida com respeito, naturalidade, aceitação – e tudo isso é fruto de amor. Não há invasão e nem perda. Há muitos ganhos, isso sim. Como esses que eu venho acumulando desde que você chegou. Agora eu identifico e sinto na pele a tal mágica da vida que faz com que certas pessoas se mereçam tanto.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

As horas que se somam à eternidade

As portas estavam trancadas e a luz apagada, só algumas pontinhas do sol que imperava lá fora entravam pelas frestas da janela e davam ao nosso cantinho aquele meio tom confortável. O silêncio era total. Nós dois estávamos em paz na companhia um do outro e nada precisava ser dito. Respirávamos baixinho, num cochilo meio lá meio cá. Com a cabeça acomodada entre seu ombro e parte do braço direito, que me segurava por baixo enquanto seu braço esquerdo me cobria por cima, eu segurava sua mão e naquele sossego impenetrável me senti a mulher mais protegida do mundo. Estávamos tão bem encaixados. 


Você dormia com a cabeça recostada à minha e seu suspiro, bem perto do meu ouvido, me fez relaxar profundamente. Não havia nada que eu pudesse querer naquele instante, tudo o que eu desejei por tanto tempo estava ali, acontecendo, e eu fiquei atônita ao perceber isso, como sempre fico quando me dou conta de algum sonho que se realiza. Você dormia tranquilamente, mas eu não consegui, só precisava curtir a sensação indescritível de um sonho de amor que se realizava comigo ali, tão consciente de tudo. Você me amparou de um jeito que eu ainda não tinha experimentado. Você estava ali, entregue, sem pressa, livre, e me deixando ser livre também, como tanto gosto. Só nós dois e o nosso acalanto, que se torna mais íntimo a cada dia, que nos aproxima cada vez mais. 

Naquele momento cheguei a pensar que nada poderia ser mais certo na vida. Não é possível que todas as razões que existem para que não estivéssemos ali, juntos, sejam mais fortes do que essa que nos leva a estar, sempre que possível, entrelaçados. Tudo o que somos quando estamos juntos, a forma como nos correspondemos e nos identificamos, é tudo tão raro. Exercitamos a aceitação e a admiração com tanta naturalidade! Não pode ser que essa história seja feita para acabar um dia. Pelo menos agora isso é impensável pra mim. 

Alguns minutos antes, eu passava a ponta dos dedos nas suas costas, no seu quadril, entre os cabelos da sua nuca e pensava: “sou apaixonada por você”. Estávamos desfrutando de algo que parece tão simples mas que eu sei, não acontece com tanta freqüência entre os casais. Não tinha acontecido comigo até então. Então eu entendi por que você lamentava, há poucos dias, o fim do que a gente tem. É porque isso que a gente tem é mágico demais pra acabar. Seria um desperdício enorme desse exercício de vida regada das mais sinceras ações.

Me deixa ver o seu amor mais de perto, me deixa te acariciar com mais freqüência, fica em silêncio comigo assim por uns minutos a mais. Isso me prende a você de uma forma como nunca fiquei presa antes. Me deixa ser importante na sua vida também. Sou tão apaixonada por você! Fica mais um pouco, deixa tocar mais uma música, segura a ponta dos meus dedos por mais um tempo, desse jeito que só você faz. Me concede o direito de rir das minhas próprias imperfeições só mais um pouquinho. Fica. Dois minutos, tá? Me deixa te mimar. Tenho tão pouco a te oferecer... mas nada pode impedir que esse pouco te seja entregue da forma mais sincera e mais amorosa. Eu posso fazer isso, eu quero. 


Quero te olhar de perto muitas e muitas vezes ainda e sentir, em todas elas, o gosto bom que isso tem. Ver seus olhos de menino se mexendo pra lá e pra cá conforme se expressa e lembrar, enquanto os observo, que foram eles que me capturaram há mais de um ano. Não há nada que eu não possa confessar a você. Assim como não há nada que eu queira te esconder. Diante de você sou exatamente como sempre quis. E diante do seu amor sinto uma disposição surpreendente em ser o melhor que posso, em oferecer tudo o que tenho, em, enfim, te fazer feliz. Sou mesmo, e ainda, e acho que sempre, apaixonada por você.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Versos sem categoria


São tão simplistas teus versos!
Não se encaixam em nenhuma categoria.
Não é arte, não é nada,
O que você pretendia?

São tão bobos teus poemas!
Cheios de rimas previsíveis.
Falam de sentimentos tão rasos,
Facilmente reconhecíveis.

Não sei a quem escreve tanto.
Intriga-me essa tua insistência.
Ou gosta de conversar com o vazio,
Ou quer provocar-me demência.

Investigo tuas letras,
Uma por uma, ponto e acento,
Fuço com zelo teus motivos,
Confundo-me de tanto que tento.

Irrita-me a tua pretensão.
Não é escritora nem dona da palavra,
E ainda assim expõe teu Português básico
Achando que meus sentimentos desbrava.

Desista!
Não hei de admirar-te.
Lerei tuas insanidades até meu último dia
Só pra desdenhar da tua arte.

Saiba que te leio com furor,
Revolta, maldade.
Poderia, ao menos, usar rimas mais nobres
Para denunciar minhas fraquezas à humanidade.

Sede de amanhã

A sede de amanhã
Que desperta a cada primeiro choro
Renova na multidão à volta
O vislumbre ao futuro.

Porque só o recém-chegado
Faz lembrar ao corpo cansado
Quantas possibilidades existem
Pra quem ainda não tem passado.

Despoluído de saudade,
Desprovido de lembrança,
O ser novo depende apenas
Do dia seguinte: sua única esperança.

Por isso é tão livre a alma nova.
Experimenta os instantes
Com tanta fé no que está por vir
Que não se torna refém do que houve antes.

Quem dera o ser vivido
Resgatasse essa sede;
Desejaria tanto o futuro
Que faria mais pleno seu presente.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

9 de setembro

Sei que pareço uma adolescente boba. Mal dormi esta noite de tanta ansiedade à espera deste amanhecer. Por que comemorar esse primeiro ano, afinal? Talvez porque eu tenha comemorado cada um dos dias que compõem esse ciclo que hoje se conclui. Mas como se trata de amor, eis a mágica: ele recomeça no mesmo compasso. Só isso já é motivo de festa para o meu coração infantil. E quiçá seja um ciclo sem fim! Mas o que é um dia, um único dia, diante de todos os dias em que tenho você? Não sei. É uma prova, eu acho. É a concretização de algo muito sonhado, muito esperado: você. É mais que presença, companhia, convivência. É viver.

Você é tão meu namorado! 
Você é o homem desenhado em todas essas linhas escritas em instantes de puro delírio, de puro desejo por algo que fizesse a vida ter um gosto que ainda não havia tido. O amor de paz tão idealizado, alegria compartilhada, intimidade que se descobre mais e mais. É o mais puro apreciar. Você materializa todas aquelas ideias, antes vagas, sobre amar por completo. Olho pra você e te compreendo, mergulho em suas razões. E isso acontece o tempo todo, quanto estamos juntos e quando estamos distantes. Analiso você, a cada experiência, e ainda encontro novos encantos.

Você é tão meu namorado!

Houve festa dentro de mim quando identifiquei você em meio a tanta gente por causa do conforto que trazia ao meu coração. Depois, houve festa novamente ao obter a reciprocidade da nossa bendita afinidade. Essa festa íntima só foi ganhando mais música e alegria com o tempo, à medida que a vida empurrava você pra mais perto de mim. E houve mais do que festa quando ganhei o primeiro beijo, o primeiro retorno, os demais encontros. E assim, um dia de cada vez, tenho observado cada uma das maravilhas que a sua presença opera em mim e tudo que eu tenho aprendido com você. Hoje, estou em festa porque tudo que tenho experimentado desde então só me faz bem, e embora ainda me comporte como uma menina boba e sonhadora, você tem me ajudado a crescer com o mais poderoso sentimento do mundo: o amor.

Você é tão meu namorado!

Não sei quantos dias mais teremos pela frente, mas cada minuto desse último ano foi saboreado por mim com uma intensidade inédita. Tenho tentado ser o melhor que posso, na tentativa jamais suficiente de retribuir a felicidade desse presente, do nosso hoje. Te amei sinceramente em cada um desses dias, um amor novo, um amor bem mais forte, um amor que quer sempre mais. Te amei por dentro, por fora, pedacinho por pedacinho. Te amei com admiração, com respeito, com entrega total. E sigo te amando, porque é isso que você me inspira.

Você é tão meu!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Te espero


Tempo
Pode passar como quiser
Rápido ou lento
Conforme suas intenções.
Não vou reclamar.
Quando você for vencido pelo sentimento
Ganharei um forte e demorado
Abraço de saudade:
A melhor de todas as recompensas
Por esperar,
Embora não sem dor,
Porém sem qualquer dúvida
Da força desse amor.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Durante seu sono


Gosto quando você dorme deitado no meu colo porque é nesse momento que eu me deparo com a minha própria capacidade de entrega, e isso faz com que eu consiga me conhecer melhor, pouco a pouco e repentinamente, sem uma real intenção. Só enquanto afago seus cabelos no meio da quietude desses instantes que consigo enxergar com uma clareza chocante o quanto nos transformamos diante de alguém que amamos e o quanto esse bem-querer ativa em nós uma série de desejos dos mais puros. Desejos esses que não exercemos ao longo do dia, com qualquer um. E eu até lamento por isso, mas como humana que sou, me permito esse momento de extrema lucidez pra reconhecer o quão mais fácil é exercitar nosso melhor diante de alguém que nos é valioso.

Fico olhando você lá, quietinho, tão bem encaixado no meu aconchego, e acabo sendo capturada por pensamentos sobre todas as coisas boas e simples que quero pra você: paz, felicidade, respeito, uma vida longa, sonhos realizados... Foi num desses momentos que me dei conta da oração rara que sai de mim exclusivamente pra você, sem planejamento nenhum. Eu apenas rogo a tudo que há de bom no universo para que te cuide muito bem. E como eu sei da força que esse tipo de oração tem sobre a energia vital, senti-me em paz por querer isso todas as vezes que te vejo dormindo, que é quando eu me obrigo a silenciar e simplesmente contemplar o seu sossego. O mesmo cuidado que tenho ao carinhar teu rosto de levinho, pra não te acordar, tenho ao pensar em coisas positivas para que nada contamine o seu descanso, que é também um momento sagrado no qual você me entrega sua confiança e intimidade.

Agora, que me dei conta desse ritual tão interno quanto espontâneo, fico curtindo com mais intensidade o amor que se movimenta em mim enquanto te observo. E todas as vezes é igual: como é fácil querer o bem assim. Então eu policio mais o que passa pela minha mente para emanar a você, ali, desligado e inconscientemente receptivo, as energias mais benéficas. Nesse momento de lucidez ímpar, tento não desviar-me de nada que polua os meus sentidos, de tão mágico que é estar diante do meu próprio melhor, estimulado por você, pelo que é pra mim. Com você lá, aninhado no meu colo, quero apenas colaborar para que o sentimento de paz que o seu cochilo sempre sugere, seja respeitado e contamine tudo que vier a seguir.

E assim eu vou te olhando, te paquerando, passeando com meus dedos em você até que o sono seja interrompido, o barulho invada o nosso espaço novamente e eu já tenha inundado o meu próprio coração desse amor desinteressado que me toma e me faz lembrar do quão grandiosos podemos ser diante de quem nos toca profundamente.

Gosto quando você dorme deitado no meu colo, porque isso me faz acordar para verdades humanas genuínas que o mundo, cada vez mais ligado, nos leva a esquecer. 


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Queria um beijo


Queria um beijo daqueles que não se precisa pedir. Um beijo impensado de tão desejado. De surpresa. Um beijo lento, sem pressa, sem ameaça, sem desconforto. Um beijo simples e honesto, sem grandes rompantes. Apenas um beijo dado com vontade. Nem rápido nem demorado, mas com sentimento. Beijo quentinho, que faz a gente amolecer inteira instantaneamente. Um beijo daquele que, de tão espontâneo, não se esquece mais. Daquele que deixa o gosto na boca da gente pra sempre. Como o primeiro beijo de um novo casal, cheio de descoberta, mas com mais intimidade. Tanta intimidade que a procura pelos lábios chega a ser intuitiva. Um beijo que abraça, curte, sente a outra pessoa por inteiro. Um toque leve de lábios, de línguas... olhos mansamente cerrados, mãos soltas, coração entregue. Beijo sem nota, sem avaliação. Beijo de namorado apaixonado. Beijo de saudade. Um beijo que, quando acaba, faz a gente respirar fundo e demorar pra abrir os olhos. Suave, calmo, de paz. Beijo que transmite aconchego, bem-querer, aceitação. Eu só queria, enfim, um beijo de amor. Agora. 


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Aprecia-me


Aprecia-me de novo
Como já se dispôs um dia.
Outro dia mesmo.
Quando me olhava e já sentia.

Aprecia-me de alguma forma
Não importa qual.
Busca com bondade, generosidade,
Algo que suplante o que tenho de mau.

Aprecia-me só mais uma vez
Pra eu lembrar o gosto bom
Que emanava de nós dois
Diante de um novo dom.

Aprecia-me com paciência,
Devagarinho, se for o caso.
Reencontre algum encanto,
Não me condene ao escasso.

Aprecia-me e deixe-me saber.
Porém, se não mais provoco-te motivação
Aceito seu silêncio, mas peço distância
Pois não existe amor sem admiração.


terça-feira, 5 de abril de 2011

Sob rodas


As rodas encostam no asfalto
E os poros já pedem pela intensidade.
Não se trata de uma viagem,
De uma corrida qualquer,
Trata-se do corpo misturando-se ao vento,
Dos pensamentos perdendo-se no intenso,
Da rotina comendo poeira na velocidade.
A vida vai acontecendo
Sobre essas duas rodas
Que mantém quente o asfalto
E exaltados os ânimos
De ser humano
- Eterno aprendiz -
Que se diverte enquanto desvia dos desafios.
Em frente.

(Esse poema eu criei para ilustrar o blog do meu super amigo Enriqueto Motoquento: http://guerreirodoasfalto.blogspot.com/) 



quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Bom, só quando recíproco


Não é só o amor que é bom apenas quando recíproco, mas também a saudade. Porque a saudade é uma das principais mensageiras do amor. É ela que sufoca, que desespera, que nos faz sentir na pele que estamos mesmo amando. Quando amamos alguém, sentimos saudade o tempo todo, em qualquer situação, mesmo após ter acabado de ver o ser amado.  Já quando essa falta não é sentida, então não deve... não pode ser amor. 

O ser amado faz falta na maior parte do tempo simplesmente porque se torna essencial, inevitavelmente. E mesmo que sua ausência seja justificável, compreensível, até mesmo necessária, uma vez que um pouco de distância conserva o relacionamento saudável, ainda assim carregamos o calorzinho da saudade no peito - mais mansa, mais amena, mas sempre ali. Afinal, seja qual for a situação, com a pessoa amada ao lado é muito melhor. 

Bom seria se pudéssemos saber mais da saudade que causamos lá do outro lado. No começo, com a paixão no auge, nem precisamos perguntar, essa falta é sempre relatada e das formas mais lindas possíveis. Mas depois ela vai sumindo até que você próprio sinta que não está fazendo falta alguma. E essa constatação machuca tão ou mais do que conviver em uma rotina na qual você não é mais é essencial. 

A saudade é a manifestação do amor em momentos e lugares improváveis. Incontrolável, ela nos lembra que o coração está repleto, que não estamos mais sozinhos.  E esse sentimento é tão idêntico ao amor que, quando escasso, gera a mesma e aparentemente incurável secura na alma. Não provocar saudade em quem amamos é duro e cruel, porque prenuncia um amor que já se foi sem nem sequer despedir-se. Ela nos traz de volta à dureza da realidade, e quando isso acontece é porque o sonho realmente acabou. E o amor é um sonho, o melhor de todos, mas que precisa ser forte e verdadeiro demais pra se mesclar à realidade a ponto de concretizar-se. Raras vezes é assim. 

E veja só, diante desse sofrimento que insistimos em experimentar vida afora, na eterna tentativa de tornarmo-nos raros enfim, quem segue nos acompanhando? A saudade. Essa megera que nos forçou reconhecer o fim do nosso sonho de amor continua a caminhada ao nosso lado ora em forma de lembranças, ora em forma de sufoco, eternamente em forma de lição. Ela nos faz sentir todo o tipo de falta: as doloridas, típicas do que foi e não volta mais; as necessárias, que têm um sentido maior; as irremediáveis, que carregamos o resto da vida e, sem elas, não conseguiríamos reconhecer nem a nós próprios, de tão intrínsecas.

O mais curioso nisso tudo é que vamos rodar, rodar e rodar e continuar buscando com uma necessidade insana a raiz de tudo isso: o amor. Tão logo nos recuperemos do trauma que causam tantas saudades acumuladas e não correspondidas, buscaremos amar novamente e provar as dores e as delícias que tantas saudades causam mais uma vez. E a lágrima que cai durante uma saudade recíproca é tão doce que não desejamos contê-la, pelo contrário, mergulhamos cada vez mais fundo no vício desse mel. Mas esse sabor é totalmente suplantado pelo amargo da lágrima que cai por causa daquela saudade que vai, porém, já  não volta mais.  


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Amor de Paz


Num relance desses que duram segundos
Lembrei-me do amor de paz
Que você sempre foi para mim.
Então senti-me envolta
Num abraço acolhedor
- invisível e indizível -
Idêntico aquele que senti
Quando encontrei seus olhos
Pela primeira vez.
Essa recordação bendita
Trouxe-me de volta à essência
Dos meus ideais mais íntimos,
De tudo o que eu sempre quis ser.
Agora exerço com consciência
A certeza desse amor de paz
Que acontece um dia de cada vez
E desfruto da libertação
Que isso reflete em mim e em você.
Não há melhor presente:
Um amor de paz vivido com liberdade.
Alimentado apenas
pela tranqüilidade de sabermo-nos onde,
de sentirmo-nos juntos sob os mesmos porquês
e da certeza de que todas as nossas oportunidades
ainda são coniventemente sonhadas.



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Não caibo nesse mundo

Eu não caibo nesse mundo.
Não por ser assim, grande, exagerada
Mas porque nem mesmo os meus
Possuem braços suficientes
Para acolherem-me totalmente.

Nós não cabemos nesse mundo:
Eu, meus conceitos, minhas crenças,
Meus volumes corpulentos.
Já dentro de casa enfrentamos a resistência,
A indisposição para enxergar
Além do volume de nossas existências.

Caberia nesse mundo, sim,
Se ele tivesse mais espaço
Para valores invisíveis a olho nu.
Ficaria realmente bem
Se confeccionassem modelos plus size
Que acondicionassem, simplesmente, mais amor.

Mas quem quer vestir isso?
Não está na moda.
Não eleva às custas de rebaixamento alheio.
Para quê ampliar os manequins
Se a visão de mundo e de vida
Não se ampliam fácil assim?

Eu não caibo nesse mundo
Não porque ocupo mais espaço
Do que os outros acham ocupar.
Mas porque acredito
Em valores muito aquém
Do que a maioria consegue acreditar.


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Contando minutos


Não vejo a hora de percorrer teu rosto com a palma das minhas mãos, como sempre faço, até que as pontas dos meus dedos entrem, devagarinho, por entre os fios dos seus cabelos lisinhos. E então, ficar observando você de olhos fechados, se deixando acariciar, enquanto emaranho minhas mãos em cada fio de cabelo seu, de novo, e de novo, e de novo, lentamente. Até que, de levinho, desça até seus braços, suas costas, seu peito, em movimentos circulares numa espécie de massagem em que as digitais flutuam sobre sua pele. E nesse passeio sem partida, sem chegada, percorro de um ombro a outro até te sentir estremecer de arrepio. Então rirei, como sempre acontece, e te darei beijos espalhados pelo corpo todo. Lábios em um canto de você, mãos espalmadas em outro, como se pudesse te abraçar inteiro e de uma só vez.

Não vejo a hora.

Perto assim eu sinto o seu cheiro me impregnar e nesse instante parece que nunca mais esse perfume vai sair de mim. Dá até pra acreditar que a solidão nem sequer existe; que o “sempre” é isso e nada mais. E é. Porque esse efeito fica mesmo depois que você vai embora e essa vontade permanece igual até o próximo encontro. Eu não canso de curtir você assim, de caminhar com os meus sentidos em você todo. Poderia ficar horas, dias, vidas inteiras a fio só te carinhando, te desvendando, mergulhando em você com meus olhos, minha pele e meu amor.

Só que desta vez, quero, preciso, olhar mais fundo nos seus olhos castanhos enquanto me delicio em você. Quero resgatar aquele silêncio que fazíamos lá no comecinho. Nos comunicávamos tão bem assim, lembra? Acho que preciso me entregar mais e me preocupar menos com detalhes externos, me desligar do mundo aí fora. Sinto uma pressa inexplicável de experimentar isso. De te deixar me experimentar assim, mais livre, mais pronta. Porque eu preciso que saiba que faço amor com você antes mesmo que nos toquemos. Preciso que meus olhos te digam o que a minha boca não sabe dizer.

Eu, as células do meu corpo, os impulsos do meu coração estamos contando os minutos para te ter pertinho de novo.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Feliz Natal! Feliz Ano-Novo!

Esse é o meu cartão de Natal a todos que me lêem nesse cantinho tão especial pra mim.
Obrigada!

Clique na imagem para vê-la maior.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ver-te


Olhar-te é o meu consolo
Preciso ver-te todos os dias!
Mesmo que não possa tocá-lo,
Apreciar-te me acaricia.

E agora, como será?
É mais do que uma parede
Isso que colocaram entre nossos olhares.
É a distância, é a sede.

Como convencer meus olhos
Dessa condição
Se desde o primeiro encontro
Eles te despertaram ao meu coração?

Vendo-te é que aprendi
A admirar-te nos detalhes,
A reconhecer-te nas minúcias
Desde os primeiros olhares.

E agora?
Que tristes serão meus dias!
Sem você, seus traços, seu sorriso,
Serei privada de minhas alegrias.

Olhar-te me fez descobrir
Que a vida nada mais é do que surpresa.
Você ressuscitou em mim o querer,
Derrubou todas as minhas certezas.

Longe de você volto à rotina seca e dura.
Morre toda a graça daqui em diante:
Não há fantasia nem sonho
Sem você ao meu alcance.


sábado, 25 de setembro de 2010

Você me ronda


Você está aqui agora. Me rondando. Sinto o seu cheiro, a sua respiração. Você esteve aqui o dia todo. Do meio da madrugada, quando eu acordei e, de imediato, fui invadida pela sua presença, até este momento. E continuará aqui, preenchendo cada minuto que demora tanto a passar quando não posso te ver. 
Está e permanecerá, sabe-se lá até quando, porque habita meu coração e eu já não posso fazer mais nada. Fico falando de você a mim mesma, tanto tanto... fico relembrando seus traços, suas expressões, suas características. Fico curtindo a saudade e contando o tempo, que passa tão rápido quando estamos juntos, e tão lento nesses dias em que sou forçada a suportar sua ausência.
Te conheci outro dia e já sinto tanta saudade. Como pode? É justo isso? Você me ronda, onde quer que eu vá. Eu te levo no corpo, na alma e no coração, e bem por isso não consigo mais separar as coisas. Você se espalha em todos os assuntos meus. Interfere nos meus interesses, na minha falta de rotina. E as vezes é tão forte que eu preciso apertar bem os olhos, respirar fundo, pra desligar do mundo durante um segundo, só um segundo que seja.
Mas você vem, você sempre vem. E aí eu sinto aquele arrepio na nuca, aquela coisa que me enfraquece, me deixa entregue. Pensar em você mexe com todos os meus sentidos, e já nem sei mais quantas vezes por dia isso se repete. Sei, isso sim, que o efeito não passa. Ele contamina, persiste, dura cada vez mais. 
E de repente, quando acho que vou enlouquecer com essa sua falta, você aparece, de algum jeito, me fazendo achar que está mesmo comigo, que temos, sim, uma sintonia incrível. Acho que você ouve os meus chamados, porque sempre acerta, sempre chega nos momentos mais críticos, provando que está mesmo me rondando. Que conseguimos fazer companhia um ao outro até de longe.
Minha saudade grita tanto que você deve ouvir daí. Só pode ser isso. Recorro ao silencio pra suportar. O silêncio me faz desligar do mundo um pouquinho e aí eu consigo voltar para o último lugar onde estivemos juntos. Voltar à última sensação, à última peripécia sua que me deixou ainda mais enfeitiçada. Eu só queria seus olhos mirados em mim agora, pra eu tentar te fazer sentir isso que eu não consigo materializar. 
Ainda bem que você me ronda. Que seu efeito não passa. Que você sempre vem. Cheguei a um ponto em que não dá mais pra ficar sem isso. Não dá mais pra ficar sem você. E realmente não fico. Perto ou longe, te quero me rondando. 


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eu, me apegar?


Você é cheio dos encantos e dos perigos, mas eu estou atenta, não vou me apegar. Afinal, por que me apegaria?
Ora... você não acha que eu me deixaria levar assim, tão facilmente, não é? Só porque ninguém pisca desse jeito que você pisca, meio que em câmera lenta, meio que desplugado do mundo, não quer dizer que consiga me enfeitiçar. Nem mesmo quando lê concentrado, fazendo o mundo parar de girar, ou quando o ritmo dessas piscadelas muda em função do seu humor. Nem assim conseguirá fazer com que me apegue.
Estou atenta a você e a esse seu jeito sui generis de menino. Quando você digita, olhando na tela e na tecla, na tecla e na tela, como desculpa para um intervalo à reflexão, com todo cuidado, relendo o que escreveu, avaliando e voltando às teclas bem devagar, eu quase me desmancho. Mas não, não estou me apegando!
Por mais tentadora que seja essa sua forma simples e franca de ver o mundo, de viver a vida, já me protegi toda de você. Não adianta tentar! Só porque minhas pernas ficam totalmente bambas quando você me encara bem de frente, desse jeito que eu não me lembro ter sido encarada antes, e porque quando aperta os olhos só pra me provocar eu perco totalmente o rumo, a noção de tempo e espaço, não quer dizer que tenha me apegado a você.
E não me venha falar com esse seu jeitinho, não. Está certo, não há no mundo alguém que misture na fala, no jeito, no som e nos movimentos esse feitiço misto de criança e ao mesmo tempo essa postura de homem tão bem resolvido consigo mesmo. Mas eu estou forte também com relação a isso, não cairei na sua teia. Por mais que tenha atingido meu ponto fraco com essa sua mania de fazer acontecer sem dizer palavra alguma.
É verdade que o jeito que você me beija chega a ser até covardia. Eu tinha esquecido como era perder o chão durante um beijo... e eu ficaria horas a fio solta por aí, presa apenas em seus lábios... e esqueceria da vida bagunçando seu cabelo, carinhando suas sobrancelhas... e descobrindo meu próprio corpo através de você... e... Mas não! Não vou me apegar, e tenho dito!
E só porque onde quer que eu esteja, estão também suas músicas, suas expressões criativas, suas tiradas inusitadas, não vá achando que me apeguei. Nem porque fico rindo sozinha, lembrando das coisas que você diz e faz, ou porque fico horas e horas tentando desvendar essa sua naturalidade – que, aliás, me surpreende todos os dias, a cada aparição sua.
É verdade, admito, que te paquero o dia todo, detalhe por detalhe, e que adoro absolutamente tudo em você. Mas não vou me apegar, não, tá?
O fato de ler e reler seus e-mails e suas mensagens compulsivamente não quer dizer nada também. Só porque sou viciada no seu jeito de escrever e de se expressar, não garante que, um dia, talvez , eu me apegue. Nem de te enxergar em tantas letras de músicas. Nem de sentir seu cheiro de repente, nos lugares mais improváveis. Nem... Estou atenta! Muito atenta!
Já percebi que é um sedutor nato. Suas músicas te denunciam. Você todo se denuncia, porque não faz questão nenhuma de fingir ser o que não é. E isso já bastaria para que eu me apegasse – caso não estivesse tão segura agora, claro.
Segura de que você é, definitivamente, alguém a quem apegar-se é pouco. Você entra na gente como um fluído e vai se espalhando de uma maneira contra a qual não há defesa. Não há como apegar-se a você porque a gente passa direto por esse estágio meio termo do gostar. Ou gosta de uma vez, ou adora, você não dá outras alternativas menores.
E isso tudo porque você é assim, exatamente do jeitinho que é. Porque me deixa de pernas moles e coração aos pulos. Porque nunca sei bem como agir, quando ir, quando ficar. Por você, me deixo levar, perco o controle de minhas próprias resistências. Você põe em xeque toda a segurança emocional que eu criei, com tanto custo, para me proteger da dominação humana.
Há tantos porquês! Foi ali, na primeira vez que o vi, que me apeguei a você, e desse baque que eu nunca consegui entender bem, jamais vou esquecer. Eu te vi e já soube que era alguém especial pra mim. E agora, no meio dessa fantasia que você me faz experimentar, fico sem minhas principais defesas, afinal, diante de você sou apenas eu, da forma mais pura que consigo ser. E até isso me intriga nessa sua arte de ameaçar minha fortaleza íntima.  
Porque você chegou em um momento em que eu estava em busca de mim mesma, com pedaços vitais espalhados por aí. Sem dizer nada, pegou minha mão, me fez lembrar tanto do que sou e me desafia nesse reencontro comigo mesma. Você desperta a loucura que habita em mim, mas que andava adormecida, que o tempo neutralizou. E que saudade que eu estava desse meu lado!
Enfim... você me assusta e me fascina, e eu tinha esquecido do quanto esse efeito me desperta e me empolga. Você é um risco bom de se correr. Desses, cujo o apego permanece para sempre e vai crescendo, e vai crescendo...



sábado, 21 de agosto de 2010

Intimidade


Entreolharam-se.
Havia uma chama.
Pouco identificável, verdade.
Mas algo ali derrama.

Se espalha,
Impregna.
Embora não haja certeza
Há sempre a proeza
Do que não mata, mas ensina.

Vibrando no respirar
Da insuficiência bendita
Mantendo acesa a sobrevivência,
O gosto pela vida.

E daí em diante
Olhos cada vez mais
Fixos, seduzidos,
Transformou-se em vulcão de libido
A intimidade em silencioso cais.



sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Afago


Deixa eu te afagar
De leve
De mansinho
Como quem doa carinho
Sem medida,
Sem espera,
Afinal,
Sem aquela pressa
Que faz da gente refém
Das coisas, de alguém.
Não.
Só me deixa te afagar.
Assim
De dentro pra fora
Sem ensaio
E sem hora
Só no embalo do ímpeto
De agradar.
Se me vê dessa forma,
Tão gentil,
Então me deixa exercitar
O dom raro de doar
O que mais ninguém
Se dá o direito
De praticar.
Isso é interesse.
Admito.
Mas é também humanidade
Um impulso
Uma vontade:
Mistura boa
Que só sente
Quem é gente.
E eu
E você
Tão apurados pela sensibilidade
Com esse talento
da tradução invisível
do dizer o indizível
temos, sim
O merecimento
De descobrir
O afago
O abrigo
A delícia e o castigo
Do gostar.





Inspiração



Sou governada pela inspiração
Mas ela me falta as vezes.
Muitas vezes.
E quando falta, parece que é pra sempre.
Demora pra voltar,
Deixa um vazio... um vão...
Que me separam do lado de lá,
O mesmo que torna tão melhor o lado de cá.
Depois retorna como um vulcão:
Intensa, sedenta, do jeito que gosto,
Fica um tempo, povoa tudo
Me devolve ao sonho.
Mas de repente, e novamente, se vai.
E deixa um vazio... um vão!
Mas estará tudo bem, enfim,
Enquanto ela voltar.