terça-feira, 29 de junho de 2010
"A"
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Aconchego
Aconchegou-me depressa. Não me olhou no rosto para admirar-me, tomou essa decisão antes porque estava realmente disposto, como eu sonhei um dia. E na sintonia maluca de uma paixão apressada, propôs-me um sonho. Não precisou de provas para acreditar-me. Não fez reservas quanto a minha sede de poesia. Aceitou o convite para uma fantasia ainda em formação e desacreditada por tanta gente que cruzou nossos caminhos com coragem de homem e pureza de menino. Tentou, seguindo os impulsos de um coração em busca, e deixou-me tentar, incentivou-me a acreditar. E então aconchegou-me novamente ao olhar nos olhos inúmeras vezes já no primeira contato; ao sorrir-me livre e provocar meu riso; ao aceitar-me de novo, só que agora em novo encontro. Desde então, se dá a chance e me dá uma chance sem medo, sem vergonha, sem insegurança.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Abandono
sexta-feira, 9 de abril de 2010
A maior das vontades
Mais não foi.
Volto pra fila de espera.
Tinha tudo pra ser amor, e um amor daqueles.
Com gosto de aventura,
Com cheiro de pecado,
Com suspiros de cansaço.
Com um pouco de tudo que duas almas jovens anseiam.
Você tinha tudo pra ser o amor que eu tenho urgência.
O amor pra já, de pressa, de carência.
Amor de sede e de fome.
Aquele amor quente de longe e de perto.
Amor de descoberta constante.
De crise de consciência e tudo.
Um amor atemporal,
Daqueles que se vive apenas por um tempo mas não se esquece jamais.
Amor não feito para sempre,
Mas certamente eternizado nessas saudades românticas
que alimentam o espírito quando ficamos velhos.
Você tinha tudo pra ser o cara da vez,
Aquele que quebraria toda a empáfia da minha segurança atual.
Aquele que me faria ansiar por encontros noturnos improvisados,
que acontecem em lugares nada apropriados.
Um amor bem mal planejado, intempestivo, que quebra barreiras.
Amor na medida, de tão errado.
Neste momento, é de um amor assim que eu preciso.
Um amor ousado, uma paixão declaradamente paixão,
Que quebre um pouco das tantas barreiras que eu construí em mim.
Tinha tudo pra ser amor, prazer, calor, adrenalina
e depois despedida.
Pena.
A despedida veio antes.
Ficamos na teoria de uma possível rebeldia,
Da intenção de construir uma fuga só nossa.
De um capítulo de vida que só seria publicado depois que todos se fossem.
Nem sequer começou
Porque de tão utópica, foi vítima da realidade.
E a realidade não é romântica.
Muito menos cega, como pretendíamos.
A realidade não é perfeita como o nosso plano,
Mas é eficiente para o cumprimento de regras chatas.
Ficamos na vontade.
Lembrarei de você como um amor que, sim,
Poderia mesmo ter sido,
Que eu gostaria que tivesse acontecido,
E que seria muito bom. Deixaria marcas.
Mas que a minha atual caretice não comporta, não sustenta.
Resta-me, novamente, a resignação.
E aqui, de volta na fila de espera,
Lembrarei dessa vontade que ficou.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Amar como eu te amei
quarta-feira, 3 de março de 2010
Franqueza tola
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
internALIZo
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Abraçar-te
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
17 de dezembro
Há, mesmo, flores por todos os lados. Mas algumas pessoas são únicas na arte de nos fazer percebê-las
Certas coisas têm um gosto tão especial que elas podem acontecer poucas ou muitas vezes durante a vida; seguidamente ou apenas de tempos em tempos; a sensação é sempre a mesma: inesquecível. Ganhar flores é uma dessas coisas.
Tudo que vem da natureza sugere romance, poesia, pureza. Dizem que a maneira mais limpa de o ser humano renovar suas energias é aprendendo a entrar em contato com a natureza e tirar dela as forças necessárias para seguir. Para isso, basta aprender a admirá-la, a senti-la, a incorporá-la como uma filosofia natural de vida. Poucas pessoas sabem disso ainda, infelizmente, por isso, para repor essas energias a que todos somos tão dependentes, roubam umas das outras, de uma forma errada e muito pesada.
Cada pessoa desenvolve uma forma diferente de tirar do seu semelhante um pouco da energia que precisa pra se manter de pé e ativo. Uns usam de autoritarismo, outros de pressão, outros investem em sentimentos de inferioridade ou humilhação, outros abusam da bondade alheia, enfim, são muitas as formas, conscientes ou não. Mas o ideal mesmo, o mais correto e de valor mais legítimo, é retirar da natureza, numa troca mágica de admiração espontânea, a energia da vida.
Essa troca, quando é aprendida, vai sendo aprimorada ao longo da existência, e cada vez adquirimos uma força vital mais segura, tranqüila e sábia, como a natureza. E também, à medida que avançamos nessa interação fantástica, menos esforço fazemos e mais prazer incorporamos. De repente, dedicar amor, atenção e uma admiração torna-se um hábito natural.
Ganhar flores sugere mais do que a beleza do ato, a gentileza, a vontade de justificar um bem-querer especial. Ganhar flores, pra mim, é receber um convite muito sincero a admirar a beleza da vida, de Deus, do existir. É um chamado à consciência para ser feliz com o mais simples que há, a olhar pra dentro de si, a mergulhar mais fundo dentro da própria alma – assumir um grau a mais do próprio conhecimento. Uma simples flor, tão pura, tão singela, me soa como um chamado de atenção que diz: “não perca tanto tempo com coisas menores quando há todo um mistério a se desbravar de dentro pra fora”. Ganhar flores é um sinal para se respirar mais fundo, sem culpa, sem medo, e olhar pra vida de uma forma diferente, autêntica, livre.
As flores, ao serem dadas de presente, são automaticamente carregadas pelos sentimentos vitais da amizade, do amor, da admiração, da gratidão e tudo o que se deseja passar a quem recebe esse lindo presente. Só que não pára por aí. Mais do que carregar sentimentos tão necessários, você leva pra dentro da casa dessa pessoa uma infinidade de intenções benditas que se espalham gradualmente com o perfume, a beleza e a presença inquestionável desse pedaço de natureza que ilumina qualquer ambiente e acalenta qualquer coração.
E quando um presente desse ainda vem acompanhado com a surpresa de um mistério, e mais tarde com uma revelação tão doce, o presente se torna eterno, assim como a amizade que jamais deixará de florescer no coração de quem foi tão ternamente lembrado e tão belamente homenageado.
Como as dificuldades da vida tornam-se pequenas diante de um lembrete desse! Um recado suave, porém gritante, que só faz dizer o quanto vale a pena estar vivo e encontrar pessoas incríveis, e sentir essa coisa louca, inexplicável e fantástica chamada AMIZADE.
Mi, seu presente, que veio carregado de sua presença – ainda mais, porque eu sempre te carrego em meu coração – encheu minha casa de alegria e minha alma de ESPERANÇA! E como eu estava carente desse sentimento! A surpresa foi linda e eu nunca irei esquecer, porém, foi mais especial ainda depois que eu descobri que vinha de você, minha grande amiga!
Milhões de vezes OBRIGADA! Tanto pela gentileza, quando pela lembrança, mas principalmente pela importância que você, e as flores que brotam no seu caminho, têm na minha vida. Estamos tão longe, mas eu nunca senti assim. De tantos amigos que estão por perto, você está entre os mais presentes, os mais sinceros e os mais necessários.
Jamais irei esquecer esse perfume que você espalhou no meu dia, no meu coração, na minha história.
Te amo!
Aliz
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Tudo aquilo que me condena
Ronda no ar aquele fluído diferente.
Há quanto tempo não o via!
Pensei até que nunca mais voltasse,
Que nunca mais o sentiria.
Conformei-me com as amenidades
E imaginei-me até refeita dos pecados.
Acreditei que a ausência dessas sensações
Tivesse me livrado.
Mas os descaminhos me atraem,
Já me conformei com essa verdade.
O comum não transporta para o universo
Das paixões que povoam a eternidade.
Tem um cheiro, um gosto,
Um perigo... pura magia!
É mistério, medo e pecado,
Emoções que não se vive todo dia.
Que destino terei eu
Por essa propensão ao clandestino?
Mas que culpa tenho eu
Se é o que escreveu o meu destino?
Não são leves as punições
Que tais deslizes aplicam durante a vida.
Longos períodos de solidão, ostracismo
E muitas, muitas outras feridas.
Dói no ego de mulher,
Pesa no âmago cada impossibilidade.
Tudo polui o liquido do corpo,
Escorre da alma o veneno mortal dessa afinidade.
Mas é sedutor, irresistível!
Tão voraz, intenso, impetuoso.
Me faz até mais altiva.
Inconfundível , como tudo que é perigoso.
É que esse fluído de vida
Não se compara a nenhum outro.
Cada um tem seu ponto fraco, desalinho,
E cá estou eu confirmando o meu de novo .
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Solidão
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Ele pensa que eu não sei
Pé na estrada.
Dificilmente liga o som. Assim que inicia seu trajeto, quase sempre a um rumo incerto, ele prefere mergulhar nos seus pensamentos grandiosos sem interrupções. A música lhe provoca emoções satisfeitas só mais tarde, na eterna busca noturna longe de casa.
Vai enrolando uma mechinha de cabelo acima da testa, e segue viagem: o início de mais um desafio ou a continuidade deles. Pelo menos é nisso que ele procura pensar pra ter coragem de assumir seu volante e partir, como já fez tantas e tantas vezes.
Conforme vai enrolando essa mecha de cabelo, vai alimentando seus sonhos ambiciosos, suas projeções de futuro, vai antevendo o sucesso que tanto persegue.
A estrada, o movimento dos dedos no cabelo, a solidão são suas terapias. Ele mergulha profundamente naquilo que tem de mais seu e que jamais revela a ninguém. Imagino o misto de sensações que se misturam ali, naquela alma inquieta, insatisfeita, misteriosa.
Atravessa cidades e Estados como se tivesse nascido de um caminhão, feito para as rodovias, para as distâncias. Distâncias tão pequenas perto daquelas que impôs entre ele e os demais seres humanos. Vive sozinho e assim se aceita.
Talvez não aceite e nem goste da solidão verdadeiramente, mas nunca admitirá isso a ninguém. Em sua mente, é melhor assumir a condição do que expor aquilo que pode desencadear suas maiores fraquezas.
Lá vai ele, mergulhado em si próprio numa busca para a qual ainda não existem mapas. Ele ainda vive sem norte, simulando direções.
Ignorando paisagens e personagens, vai passando pela vida, veloz, frenético, ansioso, desesperado por respostas e oportunidades. Não vê, mas entende e memoriza tudo à sua volta. Pouco lhe importa, o único lugar que tem medo de desbravar verdadeiramente é sua personalidade, suas ações e reações, as causas que acumula – os efeitos das ventanias que planta.
Não é ruim, não. É único. Tão único que sente dificuldades extremas de se encaixar nesse mundo, nesse formato fútil de conveniências. Talvez ele seja o mais puro dos sobreviventes.
Lá vai ele, fazendo poeira de pneu, deixando uma calmaria a que os seus não estão acostumados. Dali a pouco ele volta – se Deus quiser ele volta -, e traz de novo o barulho, a inconstância, a contradição, a raiva. E traz também o antídoto que só ele possui: cura da nossa saudade.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Deixe-me
Por favor!
Eu não fui feita pra esses modelos,
Essas frescuras atuais.
Deixe-me aqui, é melhor.
Se fingir não é meu forte,
Imagine o suplício que me é ser agradável.
Se não me gostam naturalmente
Então prefiro impor-me assim,
Reclusa em minha solidão segura e honesta.
Sim, sim, tudo me serve de experiência
Mas, sinceramente?
Esse traquejo que as novas relações exigem
Não me são úteis em nada
E em nada me motivam.
É. Deixe-me aqui
Saia e feche a porta.
Eu ainda aprecio minha própria companhia
Ao ponto de não querer cativar mais ninguém -
A não ser aqueles
Que ainda não aderiram à receita pronta
De como serem cativados.
Vou me recolher, sim
Mas só porque não deixo de acreditar
Nos encantamentos
e nas pessoas e providências espontâneas
Que de tacanhas no passado
Parecem-me tão divinas hoje.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Um ano
O que é uma data ‘símbolo’ diante de cada um desses dias de ausência? Na amargura da minha dor que não cessa, é uma amostra do quanto o tempo ignora as nossas maiores tristezas. Aqui fora – ou aqui dentro, eu não sei bem onde estamos -, a vida continua, implacável, frenética, e te obriga a agir como se não estivesse faltando pedaço algum, como se a morte fosse natural para nós tanto quanto é para ela. E nesse movimento todo, vamos fingindo uma satisfação que se mantém graças a uma boa vontade nossa que funciona dia sim, dia não.
Mas e por dentro? Engana-se quem pensa que o passar do tempo conforta ou recompõe. A verdade é que quanto mais os dias passam, mais frangalhos colecionamos, mais se perdem esses fragmentos que representam o tudo que somos. O amanhecer perde a poesia quando nos lembra do número que soma na conta da mais impotente saudade. Nós não temos defesa alguma quando a morte visita a nossa casa e leva uma das vidas que mantém a nossa acesa, pulsante. Somos obrigados a conviver com a falta pesadamente constante que nos endurece mais e mais. Nos cobram força, coragem, continuidade... mas como ter força diante de objetos, lugares, marcas, minúcias que permanecem em forma de lembranças tão vivas quanto o amor que não tem tempo nem lugar pra existir? Como evitar esse buraco gigante que se forma bem no meio do nosso caminho e que não pode ser preenchido nunca mais? Escalamos. Talvez sob esse aspecto demonstremos um tantinho de heroísmo herdado de Deus: nós suportamos o insuportável porque alguém inventou que é preciso continuar.
Há um ano, exatamente, iniciei a maior de minhas lutas, a mais íntima, a mais solitária, a mais quieta, portanto, a mais difícil de todas. Porque encarar a vida com todos os seus desafios e possibilidades é uma escolha, mas aceitar a morte de quem amamos é uma imposição fatal. Mesmo sendo causadoras de todos os problemas do mundo e do espírito, as pessoas são o que há de mais valioso nessa existência. Nada se compara ao valor delas, da força de sua presença, do poder de tudo o que representam dentro de nosso lar.
Há um ano eu busco uma forma de honrar o que me foi ensinado sobre valentia, dignidade, fé, coragem, força. Mas confesso que nesse tempo todo tenho aprendido mais sobre a incrível mágica do amor, que transcende até a dimensão que guarda nossos seres mais amados. Graças a isso eu ainda suporto colecionar meus dias vazios, que por um acaso, fazem aniversário hoje.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Encontros
- Eu tive a prova -
Não acontecem apenas nos sonhos:
Um dia chega a hora.
Muito além das circunstâncias
Há tantos outros detalhes.
Há presença, palavras, sentidos
Descobertas insuperáveis.
Do doce encontro repentino
Ficam os perfumes da saudade.
E esse toque perfeito não esmaece,
Só ganha intensidade.
Depois de um encontro assim
É o tempo que assume as rédeas
Enquanto o coração acarinhado
Espera e tem fé na volta de tal época.
O que tornaria esse encontro
Algo tão esperado:
Serão os sonhos íntimos, sufocados,
Por tanto tempo sonhados?
Há pessoas muito aguardadas
Para protagonizar certos momentos
Vem delas o dom e o encanto
Que eternizam os sentimentos.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Um boteco pra chamar de meu
Tem dias na vida,
Que sem nenhuma explicação,
Os anjos presenteiam a gente
Com uma divina inspiração.
Foi num desses momentos de sorte
Que tive o tal insight
De juntar um povo incrível
Que se reunia num determinado site.
Apaixonei-me, foi incontrolável.
Só estava acompanhando o trabalho de um ídolo:
O jornalista Ricardo Kotscho,
Que sem querer reuniu esse povo lindo.
Papo vai, papo vem, sem moderação,
Algo nunca visto em qualquer outro blog.
Interação inédita e espontânea que era
Puro prazer, puro hobby.
Só que mais do que opinar –
E nunca foi preciso pensar igual –
Nós conversávamos on line
Numa troca sem igual.
Até mesmo o Kotscho,
Tão famoso e tão humilde,
Dividia-se em seus mil afazeres
E se juntava a todos nesse lead.
Era algo diferente.
Havia uma sintonia incrível. Inusitado!
Mesmo diante de tantas ideologias
O diferente era muito respeitado.
E a coisa era tão boa
Que começou a incomodar.
Do nada, surgiram cachorros loucos
Invadindo o Balaio só pra atacar.
O Kotscho, muito a contragosto,
Fez de tudo pra evitar,
Mas pra manter a qualidade do blog
Foi obrigado a moderar.
Não tem nada, não.
Deixa esse povo se esgoelar!
Os ataques não serviram de nada
A amizade só cresceu nesse lar.
Foi então que tive
O tal momento de iluminação!
Que tal criar um espaço
Pra juntar todo esse povo bão?
Hoje, o Balaio do Kotscho
Ganhou uma filial:
É o Boteco do Balaio,
Livre, louco, informal.
Tem piada, polêmica e sinceridade.
Não existe regra nem despeito.
Todo mundo se gosta e se entende, transparente,
Porque lá prevalece o respeito.
Mas o melhor de tudo ainda
Nem é o próprio ‘conversê’,
São os botequeiros - humanos maravilhosos -
Que eu tive a sorte de conhecer.
domingo, 14 de junho de 2009
Um chamado
Deixe-se levar
Eu clamo!
É na perda dos sentidos
Que você encontra
O caminho para a tua alma.
É teu dever
Confiar no que é
E em tudo
Que ainda será capaz.
Invencionices de gente
Que teve tempo sobrando
São esses conceitos,
Esses medos,
Essas regras.
Receitas mortais,
Acredite.
Não passam disso
Essas fórmulas mágicas
Para viver e morrer,
Que pregam
sobre o certo e o errado.
Oportunismo,
Atraso,
Conveniência.
Tudo que é genuinamente errado.
Não se deixe poluir
Por necessidades tão primárias,
Por verdades alheias.
Que verdade pode ser maior
Do que a liberdade
E a independência de sua alma?
Você sabe,
No teu íntimo,
O que é o certo.
É a ele que você deve lealdade.
Livre-se das amarras
Que te limitam os movimentos
Há tanto tempo.
Escreva sua própria cartilha
E acredite fielmente nela,
Defenda-a dos maledicentes,
Dos invejosos,
Dos incapazes.
E não a empreste a ninguém.
Você sabe
Que só avança de verdade
Aquele que não tem medo
De construir seu próprio caminho.
quarta-feira, 6 de maio de 2009
O namorado dos meus sonhos
Ele não precisa se preocupar em ser perfeito. Para quê desperdiçar energia com ilusões sem nexo? Basta ter disposição para sonhar junto e, quando os sonhos não combinarem, tiver compreensão suficiente para entender meus sonhos mais íntimos, assim como quero respeitar os dele.
Eu não busco um príncipe encantado, muito pelo contrário, procuro um homem o mais humano possível. Gente suficiente para sorrir, chorar, desejar, aprender, sentir: reconstruir-se o tempo todo, sem pressa, com naturalidade, sem preconceitos e julgamentos desumanos. Um homem que já tenha se dado conta daquilo que mais vale a pena na vida: momentos, pessoas, sentimentos.
Não precisa representar, fingir ser o que não é, dizer ter o que não tem. Pra mim é suficiente que ele se aceite, se goste e carregue consigo aquela motivação bendita que existe nas pessoas prósperas, que não desistem de seus sonhos, que lutam por seus ideais na proporção exata: sem se deixar apagar pelo comodismo e nem se deixar dominar pela ganância.
O namorado perfeito é aquele que demonstra suas imperfeições com simplicidade, sem medo, seguro das qualidades que possui e que podem compensar os defeitos. Um homem assim conseguirá enxergar a mulher que sou, com minhas limitações, e amar-me da mesma forma, com a mesma intensidade.
Meu namorado dos sonhos saberá que duas pessoas, por mais que se amem, não se bastam, e que cada um representa um universo infinito, e entenderá isso. Atualizado e inteligente, já terá se livrado de conceitos arcaicos como posse, ciúme, pressão, obrigação. Esse homem saberá que apenas o amor mantém um casal, e que a confiança é a saúde de qualquer relacionamento.
Esse homem, namorado, amante, amigo, de sentimentos maduros e coração aberto, bem como espírito livre, saberá mergulhar seu corpo e sua alma na medida certa, sem exageros, sem dependência, sem grandes expectativas: ele desfrutará de cada dia e cada descoberta. Ele entregará e exigirá mais do que corpo, mas alma, sem que isso aprisione qualquer um dos dois.
E por fim, meu amado terá entendido que amor não tem nada a ver com dilúvios, tempestades, idas e voltas, crises periódicas e outras desculpas que casais imaturos usam para justificar uma relação doente. Amor de verdade não tem nada a ver com sacrifício e dor. Um amor pleno, como só o meu namorado poderá me dar e eu a ele, transcenderá paz aos nossos corações.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Te amo até o fim
Em códigos, como sempre, mas não posso reclamar. A luz púrpura do meu coração cintila com as mais simples palavras desse, que eu chamo amor de alma. Como contê-lo diante dessa sugestão?
Ele nunca me diz as coisas diretamente. Mas nas suas tentativas, que eu sempre finjo não compreender pra ver se ele se irrita e se expressa mais explicitamente, eu me refugio de volta no castelo dos sonhos que nunca consegui abandonar de vez.
Quando eu penso que terei de me contentar com seu silêncio sempre sugestivo, vem ele de repente, com alguma frase, alguma música, algum filme pra me recomendar.
Recomendar que eu não esqueça nunca. Lembrar-me de que os acontecimentos, mesmo sem explicação, nunca significam ausência e que as declarações estão sempre no ar e no coração, só não podem ser ditas com todas as letras.
Que um amor, as vezes, não é capaz de brecar um outro, diferente. É, ele me mostrou que existem tipos diferentes de amor... alguns explícitos, públicos; outros secretos, mudos, escondidos no fundo da alma.
Ele me ensinou um pouco de tudo. A sorrir, a sofrer, a me fortalecer diante das adversidades causadas por um coração egocêntrico e inconstante, mas repleto e intenso. Me ensinou que as despedidas acontecem, mesmo que nunca sejam formais e definitivas, mas que ausência não tem nada a ver com isso. E ele me mostrou também o quanto pode ser relativo esse conceito de ausência. Ela é imaterial, mas não deve ser levada muito a sério.
Os amores de alma são feitos para serem incompreensíveis, como esse que eu relato aqui. Amor que existirá até o fim. E o fim é tão impalpável quanto o sentimento em si. Se não há limites para o amor, existirá, então, um ponto final numa história dessas?
Agora, com o tempo me pressionando a crescer, eu entendo um pouco mais os recursos abstratos prediletos do amor. Do amor que ele tem por mim, mas que ninguém pode saber. Nem eu.
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Detalhes que faltam

Faz tanto tempo que eu não vejo esse sorriso.
Será que ainda é o mesmo?
Ou será que se aprimorou mais
Na arte de irradiar a paz?
Faz tanto tempo que eu não vejo esse olhar.
De verde profundo e incerto,
Que confunde, que tonteia.
Serão os mesmos olhos, a mesma teia?
Faz tanto tempo que eu não ouço o grave da sua voz.
Terá ainda o mesmo tom, a mesma sinfonia?
Soa, ainda, como melodia nos momentos de maior tormento,
Enquanto age forte, segura e suave, por dentro?
De novo

Encompridou-se o caminho
Bem em frente a mim.
De todos os atalhos que me apareciam antes,
Tornou-se estrada sem fim.
Despertei no meio dessa estrada
Sem placas, sem nada.
Chão de pedra e areia fina,
Não tem seta, nem direção, nem mapa.
Levantei devagar
Da surpresa nessa trilha,
Sem saber se corria ou andava,
Ou se de Deus ainda era filha.
Sozinha de novo nessa andança,
E sem destino - pra variar.
Sacudi o pó, sequei a lágrima
E corri, sem pensar.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
O sol da tua boca

O sorriso que me abateu
E me bambeou as pernas
Se abriu como um sol
Que carregas na boca
E que mantém a minha oca.
Já não houve mais
Como evitar essas lembranças.
Foi uma apresentação sua
De dentro pra fora.
Me resgatou do ontem para o agora.
A luz branca desse sol
Que guardas no céu que é tua boca
Me raiam determinadas, duras.
Mesmo longínquas,
Deténs as minhas curas.
Pena esse sol não penetrar de fato minha pele.
Enquanto não forem meus
Esses tais raios iluminados,
Permanecerei coberta por nuvens
Em um verão frio e nublado.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Ano-Novo-Ano
a duração de um ano depende muito do que vivemos enquanto ele acontece. Há épocas em que o ano parece voar, mas há situações que nos fazem sentir como se o tempo parasse. Vivemos, nos mínimos detalhes, momentos bons e ruins durante esses 365 dias e, lá no final, fazemos um balanço bem superficial para determinar se foi bom ou ruim. Bem, cada um desses momentos nos marcam muito, mas sem eles o ciclo não se completaria e nós não poderíamos dar continuidade a um novo ciclo. Momentos bons ou ruins são sempre aprendizados e o importante é que sejamos conscientes disso. Mas o mais importante é estar receptivo para essas lições da vida, afinal, são os empurrões que precisamos para evoluir e progredir. Em 2009, eu desejo que essa vontade de aprender fique ainda mais apurada no espírito de vocês, ao passo que o medo - qualquer que seja - desapareça, dando espaço à coragem e à ousadia.
Neste momento fechamos mais um ciclo e cada um vai avaliá-lo à sua maneira. Bom ou ruim, aconteceu e nos mudou de alguma forma. Espero que todos vocês tenham mudado para melhor, pois é essa a nossa missão principal aqui. E como a vida é maravilhosa, o término de um ciclo é também o começo de outro: novas oportunidades, mais chances, recomeço, renovação... maravilhoso, não é mesmo? Então, aproveitemos essa oportunidade para sermos o que ainda não conseguimos ser, para ter o que ainda não conquistamos, para chegar aonde queríamos chegar, mas principalmente, que melhoremos tudo que ainda falta melhorar. Que haja amizade sincera em seu dia-a-dia, bondade aonde quer que vá, união na família, produtividade e satisfação no trabalho, harmonia e realização em todos os setores de nossa vida! Mas não podemos esquecer do que é básico: fé, saúde, proteção, força, e paz.
E como em time que está ganhando não se mexe, desejo estar com vocês nos dias de 2009 e nos outros que virão, assim como quero que vocês se lembrem e saibam que podem contar comigo também. Muita felicidade, sonhos realizados e crescimento a todos!!! Obrigada por fazerem parte da minha vida.
2009 beijos
Aliz
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Sobre amores platônicos
Verdade! O platônico é amar à distância, a quem nem conhecemos de verdade, e se conformar com isso. É amar o mistério, a falta de intimidade, o desconhecimento. O ser amado é mitificado, é colocado em uma posição de endeusamento, de perfeição que só pode existir quando não conhecemos alguém suficientemente para reconhecer nela o que carrega de mais mortal, o que a iguala às outras pessoas. Quando esse encanto é quebrado, o amor acaba, porque esse é um amor que não resiste a decepções, ele sobrevive de uma imagem que ele mesmo criou, e não de aspectos naturais e comuns.
É difícil entender um amor platônico ou o que nos leva a sentir algo assim por alguém, e as vezes chega a parecer até ridículo. Muitas pessoas criticam esse tipo de amor por simplesmente não entenderem como é possível amar tanto algo que não está ao nosso alcance, que é perfeito demais para ser real, obra da nossa imaginação. Mas essa definição que eu li na entrevista caiu como uma luva para entender o sentido desse amor que invade alguns corações.
Depois que a vida anda, já conscientes desses processos todos, vemos que amar platonicamente nos fez chegar a algum lugar, foi como uma ponte que nos ligou, de alguma forma ou outra, ao que somos e temos hoje. Talvez o platônico traga mais resistência aos sentimentos, mais aceitação, até resignação. Talvez nos faça crescer através do sofrimento que nós mesmos nos impomos ao amar o impossível. Serve sempre de canal, de fuga, de opção. Para qualquer decepção ou dor, voltamos correndo a ele, que nessas horas parece ser um porto seguro perto de tudo o que se vê aí fora. No entanto, também pode facilitar a nossa fuga do mundo real, o esforço que se faz para não enfrentar a vida e seus descaminhos, 0 que não é nada bom, mas também não deixa de resultar, mais tarde, em alguma lição valiosa.
Não importam os caminhos que pegamos, as escolhas que fazemos, tudo nos leva – com demora ou não – a aprender algo que precisávamos muito aprender. O amor platônico deve ser um desses caminhos tortos, mas que para muitos parece ser mais fácil, quando não temos muita certeza da direção a tomar. Amar um ideal de pessoa que só existe em contos e fantasias não deixa de ser uma forma de, mais tarde, amar incondicionalmente a realidade de alguém bem imperfeito, mas insubstituível pelo resto da vida.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Você não envelheceria

Você não chegou a envelhecer. Mais do que jovial, foi menina, com toda a ternura e doçura que essa fase pode sugerir. Mas mesmo que eu lamente não ter podido ver você envelhecer, ao mesmo passo em que você não pôde me ver amadurecer, eu sei que essa coisa toda é ilusão da minha cabeça. Por mais tempo que você tivesse aqui na Terra, não envelheceria jamais.
Os anos não tiraram de você esse frescor de alma, essa vontade intensa de viver os prazeres mais simples da existência. Você guardava tudo em uma caixinha muito especial, que eu sei, chama-se sabedoria. Cada emoção e sensação que você curtiu com a intensidade desse espírito criança, sensível e especial, foram compondo o ser rico em amor e sensatez que marca a lembrança de todos que sentem sua falta hoje. Nós não sabíamos de onde vinha esse toque angelical e essa facilidade em compreender a vida que você exalava, mas agora sentimos, através da saudade, o quão gigante você sempre será.
A força do tempo não conseguiu agir sobre você de nenhuma forma negativa. E mesmo que você permanecesse aqui além desses sessenta anos, ele só te tornaria melhor. A vida não anulou seus sonhos, suas fantasias, suas criancices, sua disposição para acreditar que tudo é melhor do que se pensa. Você já nasceu intocável para tudo que pudesse poluir sua pureza, seu dom celestial.
Você não segurou seu sorriso e nem seu pranto, dando à sua essência humana toda a liberdade que ela necessitava. Demonstrou a quem fosse, tudo o que estivesse sentindo no momento exato em que florescia, na alma tão bela, os mais puros sentimentos. Mas não havia mesmo o que esconder, afinal, você sempre foi cristalina e bondosa.
Isso tudo é muito curioso, porque você, embora com todos esses encantos infantis, possui qualidades típicas apenas das almas milenares. E eu sempre soube que dentro dessa roupa quentinha e cheirosa havia uma alma vinda de muitas e muitas dimensões. Mas como pode um espírito tão experiente conservar, ainda, o que de melhor Deus sonhou a seus filhos e guardou nas crianças? Sim, é justamente essa vivência toda. Você não foi feita para envelhecer.
Você veio, justamente, para rejuvenescer as almas imaturas, mas já corrompidas por sentimentos impuros, que nasceram ao seu redor e aprenderam com a sua presença o valor inquestionável do amor, da amizade, da compreensão, do respeito, da generosidade, da paz. Você foi o bálsamo de tranqüilidade que contagiou a todos bem no momento das tormentas e das dúvidas. Você provou com seu toque invisível a existência de Deus, de um céu infinito e da eternidade.
Mas chegou a sua vez de retornar ao seu lar – tão e tão seu, cheio de luz e bênçãos – e nos deixar aqui, pernas mais fortes, vistas mais apuradas, corações mais abertos, mas ainda egoístas a ponto de achar que você nos pertencia e que nunca poderia nos deixar. E você não deixaria se tivesse a escolha, mesmo sabendo que o paraíso a aguardava, tamanho seu desprendimento e simplicidade. Mas não houve escolha, já que Deus é sábio e precisava da sua luz em outro lugar. Aqui, você fez mais do que lhe foi confiado, e por isso tão pouco tempo parece tão bem aproveitado.
Deus sabia que todo o tempo não seria suficiente junto com você, e que não havia forma dessa separação ser menos dolorida. Todos nós, por mais mortais que sejamos, a queríamos para todo o sempre. Nós a levaremos para todo o sempre.
E se existe limite para tudo, inclusive para as nossas missões aqui na Terra, essa regra também não valeu pra você. Não houve velhice que te alcançasse, nem tempo que te superasse, nem nada que te suprisse. Assim como não há saudade maior do que a que você plantou nos corações que te assistiram e nem amor que se compare ao que você ensinou.
E não há distância que bloqueie as ondas de luz e da mais benéfica energia que você continua enviando a todos. Eternizada está entre nós sua alma imortal.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Menino sem bicicleta não é menino

O Victor, por relaxo, já estava sem bicicleta há um bom tempo. Também, brincava o dia todo e depois nem se dava o trabalho de guardá-la quando tinha que entrar. A coitada, além de ser usada em rampas e outras aventuras para as quais não era própria, ficava na chuva, no sereno, no relento. O tempo agiu rápido sobre ela, fazendo com que o Victor valorizasse sua companheira inseparável da pior maneira possível: pela falta. Chegou um tempo em que o pedal nem rodava mais, tudo endureceu na coitadinha.
Mais frustrante não poderia ser. O Victor mora em um lugar privilegiado para quem é moleque. Uma rua calma e bastante espaçosa pra pedalar, fazer rampa, derrapar e tudo o mais. Mas quando ele não pode brincar na rua, espaço não é problema dentro da chácara onde ele mora, e onde se reúnem, todas as tardes e finais de semana inteiros, um verdadeiro batalhão de meninos que nunca cansam de brincar e brigar. Então, imagine tudo isso, e todos eles juntos, cada um com a sua bike, e o Victor lá, com seus 10 anos de idade, a pé...
Os pais, enraivecidos pela falta de cuidado e zelo do filho, prometiam nunca mais lhe dar outra bicicleta. Aquela já devia ser a terceira, e como ele cresceu rápido, a última, já que era tamanho grande. Bicicleta é assim mesmo, chega um tempo, ainda na infância, que a gente ganha a última, e geralmente é quando chega a bicicleta grande, aquela que não tem mais pra onde evoluir. Mas o Victor não cuidou da dele e deu no que deu... todo mundo de bike, e ele correndo atrás, a sola de sapato mesmo.
As vezes ele emprestava a bicicleta da tia, mas isso lhe valia um bom sermão a cada emprestada. Ele, relaxado, ou deixava de guardar a bike, assim como fez com a dele, ou a devolvia com os pneus cheios de barro, e até coisa pior... de cachorro (éca!). Cada vez que ia pedir era um sermão de recomendações e ameaças, e a cada final de dia, ao devolver, era uma bronca diferente.
Um dia, de dentro do carro da mãe, ele se apaixonou. Viu numa loja especializada em magrelas uma bicicleta totalmente diferente. Nunca mais ela saiu de sua cabeça. Estilosa mesmo, formato diferente, banco continuado, rodas bem largas, parecia bem confortável... e cara! Se pedir uma bicicleta nova já era uma tarefa complicada, quem dirá uma daquela, quase três vezes mais cara que as outras comuns. Mas não tinha jeito, ele só queria aquela.
Pediu, pediu, pediu... o ano todo, cada vez que passava na porta da loja seus olhos brilhavam, seu coração batia mais forte. Ele estava apaixonado e, quando evocados seus sonhos de vida, nem titubeava em dizer: “eu quero aquela bicicleta”. Ficou prometido que, talvez, se ele merecesse, ganharia no dia do aniversário. Mas o Victor só faz aniversario em dezembro, portanto, havia ainda um longo caminho a seguir. Enquanto isso, ia quebrando o galho com a bike da tia, de vez em quando, sobre os mesmos protestos, ou,com a solidariedade dos amigos, brincava de esconde-esconde, pega-pega e outras coisas que não exigissem duas rodas.

Mas de longe, quem olhava, sabia que um menino, quando não tem uma bicicleta, perde um pouco sua identidade de menino. Ele fica meio sem jeito, desambientado, desmotorizado. Ele também se sentia assim, mas tinha fé que em seu aniversário isso mudaria, mesmo com as ameaças em volta por causa do inesquecível destino da magrela anterior. Esperou pacientemente e, a essa altura, a data se aproximava.
A surpresa veio antes do que ele esperava. Ainda faltavam alguns dias para completar os seus 11 anos quando tudo foi preparado. Parte da família se reuniu e comprou a tal bicicleta que rodava e reluzia em seus sonhos. O amor faz uns movimentos interessantes dentro de uma casa, não é mesmo? Mas ele mereceu sim... era um bom menino, embora meninos sejam sempre e cada vez mais moleques. Pelo menos ele tinha saúde pra isso e esse era o grande incentivo para aqueles pais, aquela tia e aquela bisavó que foram correndo providenciar o sonho do menino que parecia meio manco sem a sua bike.
Quando ele chegou em casa, seu pai mandou pegar o colchão no quarto do irmãozinho. Ele foi, meio a contra-gosto. Jamais iria imaginar que o seu sonho já estivesse reluzindo lá dentro, dias antes do seu aniversário, afinal, todo mundo dizia que ele não ia ganhar é nada. Abriu a porta e... “Nossa! Quem foi?”, disse, com um sorriso de orelha a orelha de menino agora realmente moleque, completo, feliz. Era isso mesmo que ele queria.
Já era noite e garoava, mas ele não podia esperar mais. Saiu com a sua bike novinha em folha, apresentando-a a cada pedrisco, cada pedaço de grama e de concreto onde ela passará com ele inúmeras vezes pelos próximos anos. E não parou aí. Todos os dias, ao chegar em casa, pega a sua bicicleta esquisita, toda diferente e estilosa, e sai, com os amigos, agora poderoso sob essas pernas extras que ele esperou durante quase um ano todinho. Não se vê mais o Victor sem a sua magrela, amiga, companheira e moleca também, só que essa teve a sorte de ser mais bem cuidada: mora dentro de casa, toma banho e é velada com muito esmero.
Um menino com sua bicicleta é um menino completo, moleque de verdade. E os adultos que sentam na escada do terraço pra ficar olhando aquela molecada toda fazendo peripécias sob duas rodas na rua sente isso de longe, e agradece a Deus por essa fase da vida.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Nós estaremos unidas (...)

Ouvi falar de um amor incomum. De um amor teimoso e mal criado as vezes. Um amor meio rebelde, meio idealista, meio ranzinza, desses que têm respostas para tudo bem na hora, que brigam e fazem de tudo para se impor. Não era um amor fácil, não, mas era um amor enorme. Um amor desses sem medida, sem cautela. Um amor que não se negava, marcante, inesquecível.
Esse amor tinha dono. Não parecia, mas tinha sim. Ele não dava muito o braço a torcer, mas era todo de alguém que sabia bem que o possuía. E era um amor tão enorme, tão desmedido... mas seu dono o merecia. Seu dono sabia entender aqueles rompantes, aquelas explosões, e até as suas necessidades de calmaria. O dono desse amor aí era sábio um tanto e perfeito o suficiente para vê-lo por dentro e adorá-lo até nessas tantas imperfeições e imaturidades de um amor que ainda tinha muito pra crescer.
E os dois juntos eram invencíveis, completos. Eram mágica de viver na própria rotina da Terra. Os dois se entendiam e se dedicavam de tal maneira que nada precisava ser explicado ou desculpado. Eles se viam por dentro, viam sim. A comunicação, as vezes, era surreal. Falavam as vozes altas, quase sempre, as risadas e os choros, mas também os olhares, os risos disfarçados, as palavras contidas, as vontades e os gestos sufocados. Falavam os gostos, os desejos, os sabores, as cores e tudo o mais. Tudo sempre, sempre intenso. Nessa história de amor tão natural e ao mesmo tempo tão incomum, tudo acontecia em forma de erupção. Era amor + amor, somado cada vez mais com o passar dos dias.
Fiquei sabendo desse amor por alto e, confesso, na hora achei normal. Amor é amor, sabe bem quem sente... mas não, era coisa imensa demais. Era um amor que não desgrudava, que não se via longe, não sabia e nem queria saber do distante. Era amor demais!
Um dia o dono do amor teve de partir e, na hora, não pôde levá-lo. Foi uma correria só, um choro infindável. Os dois não poderiam mais se ver e aquilo, sem qualquer prévio aviso ou preparação, foi um golpe baixo da vida, sufocante. Amor daqueles não se separa, não. Mas foi assim... um mudou de mundo e o outro teve de ficar, tudo em um sopro, um suspiro breve. Esse sopro revirou a vida do amor imenso, lhe trouxe um efeito maior do que um vendaval. O amor, embora enorme, ficou tão sem graça...
De tão revoltado que ficou, decidiu procurar e exigir dos céus uma alternativa, já que ninguém mais poderia ser a outra parte do seu próprio amor. Procurou, brigou, esperneou e nada, ninguém lhe deu resposta nenhuma. Aí, um dia, o amor resolveu, pela primeira vez, adotar a tal da resignação. Até então ele nem sabia o que era, mas teve de descobrir. Ficou sem cor, sem graça, sem vida, esperando por algo que nem ele sabia o quê. Aí a resposta veio.
Recuperando as forças, o amor viu que nada no mundo poderia separar dele o que o tornava tão imenso. Ele viu que nem as forças ocultas do universo são capazes de calar as canções que faziam festa em seu coração, as belezas que lhe reavivam os olhos, o sabor que sentia da vida. Não havia lugar no espaço que fosse longe o bastante para impedir as ondas de amor que iam e vinham, de lá pra cá, de cá pra lá, numa troca constante e eterna entre essas duas partes agora separadas. Mesmo longe, sem a visão, o olfato, o tato, a audição, ele sentia que algo insistia em preencher seu coração, em forçá-lo a levantar e a continuar. Era ele, o seu amor.
Nesse instante ele se sentiu poderoso e vingado. Era rebelde o danado, era bravo como ele só. Essa percepção mostrou o poder inabalável que ele, o amor, junto com o seu outro amor, tinham. E isso vinha... do amor, simples assim, que sentiam mutuamente, portanto, não havia como parar e nem acabar nunca. Esse amor gigante e recíproco nunca deixaria de existir e de crescer, porque as ondas são cada vez mais fortes e inundam esses dois. A vida não conseguiu calá-los e nem intimidá-los. Lhes tirou, é verdade, a escolha, mas não a possibilidade de continuarem amando um ao outro sem parar.
Esse amor nunca precisou de justificativas e nem de desculpas. Agora, ele também não precisa de provas e nem das obviedades da vida. Ele existe e não pára de crescer e se fortalecer. Mesmo com a falta, o amor continua aprendendo e seguindo o seu caminho, e isso o torna ainda mais especial, porque desarma o tempo e mostra pra ele que nada é capaz de anular algo tão verdadeiro e puro.
Ouvi falar desse amor e me arrepiei.
Ps: na noite em que ela se foi, poucas horas antes, eu reclamava porque teria de voltar ao trabalho e não queria deixá-la sozinha, ficar longe dela. Ela, com toda a sua doçura e sabedoria, disse bem de leve: "nós estaremos unidas por nossas almas e nossos corações". Agora, isso é tudo que me resta.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Desabrigo

Eu brigo com o tempo que passa lento,
E com todos os anjos do céu
Que desfrutam de você agora
Como só eu podia, outrora.
Eu sou aquela casa vazia,
Desabrigada de mim mesma
Pela ausência da sua alegria
E dos espaços que só você preenchia.
Eu sou o próprio silêncio instalado.
As defesas sufocadas, tão incapazes
Demonstram quão pequena sou.
Sem você fui privada dos meus lugares.