terça-feira, 11 de outubro de 2011

As horas que se somam à eternidade

As portas estavam trancadas e a luz apagada, só algumas pontinhas do sol que imperava lá fora entravam pelas frestas da janela e davam ao nosso cantinho aquele meio tom confortável. O silêncio era total. Nós dois estávamos em paz na companhia um do outro e nada precisava ser dito. Respirávamos baixinho, num cochilo meio lá meio cá. Com a cabeça acomodada entre seu ombro e parte do braço direito, que me segurava por baixo enquanto seu braço esquerdo me cobria por cima, eu segurava sua mão e naquele sossego impenetrável me senti a mulher mais protegida do mundo. Estávamos tão bem encaixados. 


Você dormia com a cabeça recostada à minha e seu suspiro, bem perto do meu ouvido, me fez relaxar profundamente. Não havia nada que eu pudesse querer naquele instante, tudo o que eu desejei por tanto tempo estava ali, acontecendo, e eu fiquei atônita ao perceber isso, como sempre fico quando me dou conta de algum sonho que se realiza. Você dormia tranquilamente, mas eu não consegui, só precisava curtir a sensação indescritível de um sonho de amor que se realizava comigo ali, tão consciente de tudo. Você me amparou de um jeito que eu ainda não tinha experimentado. Você estava ali, entregue, sem pressa, livre, e me deixando ser livre também, como tanto gosto. Só nós dois e o nosso acalanto, que se torna mais íntimo a cada dia, que nos aproxima cada vez mais. 

Naquele momento cheguei a pensar que nada poderia ser mais certo na vida. Não é possível que todas as razões que existem para que não estivéssemos ali, juntos, sejam mais fortes do que essa que nos leva a estar, sempre que possível, entrelaçados. Tudo o que somos quando estamos juntos, a forma como nos correspondemos e nos identificamos, é tudo tão raro. Exercitamos a aceitação e a admiração com tanta naturalidade! Não pode ser que essa história seja feita para acabar um dia. Pelo menos agora isso é impensável pra mim. 

Alguns minutos antes, eu passava a ponta dos dedos nas suas costas, no seu quadril, entre os cabelos da sua nuca e pensava: “sou apaixonada por você”. Estávamos desfrutando de algo que parece tão simples mas que eu sei, não acontece com tanta freqüência entre os casais. Não tinha acontecido comigo até então. Então eu entendi por que você lamentava, há poucos dias, o fim do que a gente tem. É porque isso que a gente tem é mágico demais pra acabar. Seria um desperdício enorme desse exercício de vida regada das mais sinceras ações.

Me deixa ver o seu amor mais de perto, me deixa te acariciar com mais freqüência, fica em silêncio comigo assim por uns minutos a mais. Isso me prende a você de uma forma como nunca fiquei presa antes. Me deixa ser importante na sua vida também. Sou tão apaixonada por você! Fica mais um pouco, deixa tocar mais uma música, segura a ponta dos meus dedos por mais um tempo, desse jeito que só você faz. Me concede o direito de rir das minhas próprias imperfeições só mais um pouquinho. Fica. Dois minutos, tá? Me deixa te mimar. Tenho tão pouco a te oferecer... mas nada pode impedir que esse pouco te seja entregue da forma mais sincera e mais amorosa. Eu posso fazer isso, eu quero. 


Quero te olhar de perto muitas e muitas vezes ainda e sentir, em todas elas, o gosto bom que isso tem. Ver seus olhos de menino se mexendo pra lá e pra cá conforme se expressa e lembrar, enquanto os observo, que foram eles que me capturaram há mais de um ano. Não há nada que eu não possa confessar a você. Assim como não há nada que eu queira te esconder. Diante de você sou exatamente como sempre quis. E diante do seu amor sinto uma disposição surpreendente em ser o melhor que posso, em oferecer tudo o que tenho, em, enfim, te fazer feliz. Sou mesmo, e ainda, e acho que sempre, apaixonada por você.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Versos sem categoria


São tão simplistas teus versos!
Não se encaixam em nenhuma categoria.
Não é arte, não é nada,
O que você pretendia?

São tão bobos teus poemas!
Cheios de rimas previsíveis.
Falam de sentimentos tão rasos,
Facilmente reconhecíveis.

Não sei a quem escreve tanto.
Intriga-me essa tua insistência.
Ou gosta de conversar com o vazio,
Ou quer provocar-me demência.

Investigo tuas letras,
Uma por uma, ponto e acento,
Fuço com zelo teus motivos,
Confundo-me de tanto que tento.

Irrita-me a tua pretensão.
Não é escritora nem dona da palavra,
E ainda assim expõe teu Português básico
Achando que meus sentimentos desbrava.

Desista!
Não hei de admirar-te.
Lerei tuas insanidades até meu último dia
Só pra desdenhar da tua arte.

Saiba que te leio com furor,
Revolta, maldade.
Poderia, ao menos, usar rimas mais nobres
Para denunciar minhas fraquezas à humanidade.

Sede de amanhã

A sede de amanhã
Que desperta a cada primeiro choro
Renova na multidão à volta
O vislumbre ao futuro.

Porque só o recém-chegado
Faz lembrar ao corpo cansado
Quantas possibilidades existem
Pra quem ainda não tem passado.

Despoluído de saudade,
Desprovido de lembrança,
O ser novo depende apenas
Do dia seguinte: sua única esperança.

Por isso é tão livre a alma nova.
Experimenta os instantes
Com tanta fé no que está por vir
Que não se torna refém do que houve antes.

Quem dera o ser vivido
Resgatasse essa sede;
Desejaria tanto o futuro
Que faria mais pleno seu presente.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

9 de setembro

Sei que pareço uma adolescente boba. Mal dormi esta noite de tanta ansiedade à espera deste amanhecer. Por que comemorar esse primeiro ano, afinal? Talvez porque eu tenha comemorado cada um dos dias que compõem esse ciclo que hoje se conclui. Mas como se trata de amor, eis a mágica: ele recomeça no mesmo compasso. Só isso já é motivo de festa para o meu coração infantil. E quiçá seja um ciclo sem fim! Mas o que é um dia, um único dia, diante de todos os dias em que tenho você? Não sei. É uma prova, eu acho. É a concretização de algo muito sonhado, muito esperado: você. É mais que presença, companhia, convivência. É viver.

Você é tão meu namorado! 
Você é o homem desenhado em todas essas linhas escritas em instantes de puro delírio, de puro desejo por algo que fizesse a vida ter um gosto que ainda não havia tido. O amor de paz tão idealizado, alegria compartilhada, intimidade que se descobre mais e mais. É o mais puro apreciar. Você materializa todas aquelas ideias, antes vagas, sobre amar por completo. Olho pra você e te compreendo, mergulho em suas razões. E isso acontece o tempo todo, quanto estamos juntos e quando estamos distantes. Analiso você, a cada experiência, e ainda encontro novos encantos.

Você é tão meu namorado!

Houve festa dentro de mim quando identifiquei você em meio a tanta gente por causa do conforto que trazia ao meu coração. Depois, houve festa novamente ao obter a reciprocidade da nossa bendita afinidade. Essa festa íntima só foi ganhando mais música e alegria com o tempo, à medida que a vida empurrava você pra mais perto de mim. E houve mais do que festa quando ganhei o primeiro beijo, o primeiro retorno, os demais encontros. E assim, um dia de cada vez, tenho observado cada uma das maravilhas que a sua presença opera em mim e tudo que eu tenho aprendido com você. Hoje, estou em festa porque tudo que tenho experimentado desde então só me faz bem, e embora ainda me comporte como uma menina boba e sonhadora, você tem me ajudado a crescer com o mais poderoso sentimento do mundo: o amor.

Você é tão meu namorado!

Não sei quantos dias mais teremos pela frente, mas cada minuto desse último ano foi saboreado por mim com uma intensidade inédita. Tenho tentado ser o melhor que posso, na tentativa jamais suficiente de retribuir a felicidade desse presente, do nosso hoje. Te amei sinceramente em cada um desses dias, um amor novo, um amor bem mais forte, um amor que quer sempre mais. Te amei por dentro, por fora, pedacinho por pedacinho. Te amei com admiração, com respeito, com entrega total. E sigo te amando, porque é isso que você me inspira.

Você é tão meu!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Te espero


Tempo
Pode passar como quiser
Rápido ou lento
Conforme suas intenções.
Não vou reclamar.
Quando você for vencido pelo sentimento
Ganharei um forte e demorado
Abraço de saudade:
A melhor de todas as recompensas
Por esperar,
Embora não sem dor,
Porém sem qualquer dúvida
Da força desse amor.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Durante seu sono


Gosto quando você dorme deitado no meu colo porque é nesse momento que eu me deparo com a minha própria capacidade de entrega, e isso faz com que eu consiga me conhecer melhor, pouco a pouco e repentinamente, sem uma real intenção. Só enquanto afago seus cabelos no meio da quietude desses instantes que consigo enxergar com uma clareza chocante o quanto nos transformamos diante de alguém que amamos e o quanto esse bem-querer ativa em nós uma série de desejos dos mais puros. Desejos esses que não exercemos ao longo do dia, com qualquer um. E eu até lamento por isso, mas como humana que sou, me permito esse momento de extrema lucidez pra reconhecer o quão mais fácil é exercitar nosso melhor diante de alguém que nos é valioso.

Fico olhando você lá, quietinho, tão bem encaixado no meu aconchego, e acabo sendo capturada por pensamentos sobre todas as coisas boas e simples que quero pra você: paz, felicidade, respeito, uma vida longa, sonhos realizados... Foi num desses momentos que me dei conta da oração rara que sai de mim exclusivamente pra você, sem planejamento nenhum. Eu apenas rogo a tudo que há de bom no universo para que te cuide muito bem. E como eu sei da força que esse tipo de oração tem sobre a energia vital, senti-me em paz por querer isso todas as vezes que te vejo dormindo, que é quando eu me obrigo a silenciar e simplesmente contemplar o seu sossego. O mesmo cuidado que tenho ao carinhar teu rosto de levinho, pra não te acordar, tenho ao pensar em coisas positivas para que nada contamine o seu descanso, que é também um momento sagrado no qual você me entrega sua confiança e intimidade.

Agora, que me dei conta desse ritual tão interno quanto espontâneo, fico curtindo com mais intensidade o amor que se movimenta em mim enquanto te observo. E todas as vezes é igual: como é fácil querer o bem assim. Então eu policio mais o que passa pela minha mente para emanar a você, ali, desligado e inconscientemente receptivo, as energias mais benéficas. Nesse momento de lucidez ímpar, tento não desviar-me de nada que polua os meus sentidos, de tão mágico que é estar diante do meu próprio melhor, estimulado por você, pelo que é pra mim. Com você lá, aninhado no meu colo, quero apenas colaborar para que o sentimento de paz que o seu cochilo sempre sugere, seja respeitado e contamine tudo que vier a seguir.

E assim eu vou te olhando, te paquerando, passeando com meus dedos em você até que o sono seja interrompido, o barulho invada o nosso espaço novamente e eu já tenha inundado o meu próprio coração desse amor desinteressado que me toma e me faz lembrar do quão grandiosos podemos ser diante de quem nos toca profundamente.

Gosto quando você dorme deitado no meu colo, porque isso me faz acordar para verdades humanas genuínas que o mundo, cada vez mais ligado, nos leva a esquecer. 


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Queria um beijo


Queria um beijo daqueles que não se precisa pedir. Um beijo impensado de tão desejado. De surpresa. Um beijo lento, sem pressa, sem ameaça, sem desconforto. Um beijo simples e honesto, sem grandes rompantes. Apenas um beijo dado com vontade. Nem rápido nem demorado, mas com sentimento. Beijo quentinho, que faz a gente amolecer inteira instantaneamente. Um beijo daquele que, de tão espontâneo, não se esquece mais. Daquele que deixa o gosto na boca da gente pra sempre. Como o primeiro beijo de um novo casal, cheio de descoberta, mas com mais intimidade. Tanta intimidade que a procura pelos lábios chega a ser intuitiva. Um beijo que abraça, curte, sente a outra pessoa por inteiro. Um toque leve de lábios, de línguas... olhos mansamente cerrados, mãos soltas, coração entregue. Beijo sem nota, sem avaliação. Beijo de namorado apaixonado. Beijo de saudade. Um beijo que, quando acaba, faz a gente respirar fundo e demorar pra abrir os olhos. Suave, calmo, de paz. Beijo que transmite aconchego, bem-querer, aceitação. Eu só queria, enfim, um beijo de amor. Agora. 


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Aprecia-me


Aprecia-me de novo
Como já se dispôs um dia.
Outro dia mesmo.
Quando me olhava e já sentia.

Aprecia-me de alguma forma
Não importa qual.
Busca com bondade, generosidade,
Algo que suplante o que tenho de mau.

Aprecia-me só mais uma vez
Pra eu lembrar o gosto bom
Que emanava de nós dois
Diante de um novo dom.

Aprecia-me com paciência,
Devagarinho, se for o caso.
Reencontre algum encanto,
Não me condene ao escasso.

Aprecia-me e deixe-me saber.
Porém, se não mais provoco-te motivação
Aceito seu silêncio, mas peço distância
Pois não existe amor sem admiração.


terça-feira, 5 de abril de 2011

Sob rodas


As rodas encostam no asfalto
E os poros já pedem pela intensidade.
Não se trata de uma viagem,
De uma corrida qualquer,
Trata-se do corpo misturando-se ao vento,
Dos pensamentos perdendo-se no intenso,
Da rotina comendo poeira na velocidade.
A vida vai acontecendo
Sobre essas duas rodas
Que mantém quente o asfalto
E exaltados os ânimos
De ser humano
- Eterno aprendiz -
Que se diverte enquanto desvia dos desafios.
Em frente.

(Esse poema eu criei para ilustrar o blog do meu super amigo Enriqueto Motoquento: http://guerreirodoasfalto.blogspot.com/) 



quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Bom, só quando recíproco


Não é só o amor que é bom apenas quando recíproco, mas também a saudade. Porque a saudade é uma das principais mensageiras do amor. É ela que sufoca, que desespera, que nos faz sentir na pele que estamos mesmo amando. Quando amamos alguém, sentimos saudade o tempo todo, em qualquer situação, mesmo após ter acabado de ver o ser amado.  Já quando essa falta não é sentida, então não deve... não pode ser amor. 

O ser amado faz falta na maior parte do tempo simplesmente porque se torna essencial, inevitavelmente. E mesmo que sua ausência seja justificável, compreensível, até mesmo necessária, uma vez que um pouco de distância conserva o relacionamento saudável, ainda assim carregamos o calorzinho da saudade no peito - mais mansa, mais amena, mas sempre ali. Afinal, seja qual for a situação, com a pessoa amada ao lado é muito melhor. 

Bom seria se pudéssemos saber mais da saudade que causamos lá do outro lado. No começo, com a paixão no auge, nem precisamos perguntar, essa falta é sempre relatada e das formas mais lindas possíveis. Mas depois ela vai sumindo até que você próprio sinta que não está fazendo falta alguma. E essa constatação machuca tão ou mais do que conviver em uma rotina na qual você não é mais é essencial. 

A saudade é a manifestação do amor em momentos e lugares improváveis. Incontrolável, ela nos lembra que o coração está repleto, que não estamos mais sozinhos.  E esse sentimento é tão idêntico ao amor que, quando escasso, gera a mesma e aparentemente incurável secura na alma. Não provocar saudade em quem amamos é duro e cruel, porque prenuncia um amor que já se foi sem nem sequer despedir-se. Ela nos traz de volta à dureza da realidade, e quando isso acontece é porque o sonho realmente acabou. E o amor é um sonho, o melhor de todos, mas que precisa ser forte e verdadeiro demais pra se mesclar à realidade a ponto de concretizar-se. Raras vezes é assim. 

E veja só, diante desse sofrimento que insistimos em experimentar vida afora, na eterna tentativa de tornarmo-nos raros enfim, quem segue nos acompanhando? A saudade. Essa megera que nos forçou reconhecer o fim do nosso sonho de amor continua a caminhada ao nosso lado ora em forma de lembranças, ora em forma de sufoco, eternamente em forma de lição. Ela nos faz sentir todo o tipo de falta: as doloridas, típicas do que foi e não volta mais; as necessárias, que têm um sentido maior; as irremediáveis, que carregamos o resto da vida e, sem elas, não conseguiríamos reconhecer nem a nós próprios, de tão intrínsecas.

O mais curioso nisso tudo é que vamos rodar, rodar e rodar e continuar buscando com uma necessidade insana a raiz de tudo isso: o amor. Tão logo nos recuperemos do trauma que causam tantas saudades acumuladas e não correspondidas, buscaremos amar novamente e provar as dores e as delícias que tantas saudades causam mais uma vez. E a lágrima que cai durante uma saudade recíproca é tão doce que não desejamos contê-la, pelo contrário, mergulhamos cada vez mais fundo no vício desse mel. Mas esse sabor é totalmente suplantado pelo amargo da lágrima que cai por causa daquela saudade que vai, porém, já  não volta mais.  


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Amor de Paz


Num relance desses que duram segundos
Lembrei-me do amor de paz
Que você sempre foi para mim.
Então senti-me envolta
Num abraço acolhedor
- invisível e indizível -
Idêntico aquele que senti
Quando encontrei seus olhos
Pela primeira vez.
Essa recordação bendita
Trouxe-me de volta à essência
Dos meus ideais mais íntimos,
De tudo o que eu sempre quis ser.
Agora exerço com consciência
A certeza desse amor de paz
Que acontece um dia de cada vez
E desfruto da libertação
Que isso reflete em mim e em você.
Não há melhor presente:
Um amor de paz vivido com liberdade.
Alimentado apenas
pela tranqüilidade de sabermo-nos onde,
de sentirmo-nos juntos sob os mesmos porquês
e da certeza de que todas as nossas oportunidades
ainda são coniventemente sonhadas.



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Não caibo nesse mundo

Eu não caibo nesse mundo.
Não por ser assim, grande, exagerada
Mas porque nem mesmo os meus
Possuem braços suficientes
Para acolherem-me totalmente.

Nós não cabemos nesse mundo:
Eu, meus conceitos, minhas crenças,
Meus volumes corpulentos.
Já dentro de casa enfrentamos a resistência,
A indisposição para enxergar
Além do volume de nossas existências.

Caberia nesse mundo, sim,
Se ele tivesse mais espaço
Para valores invisíveis a olho nu.
Ficaria realmente bem
Se confeccionassem modelos plus size
Que acondicionassem, simplesmente, mais amor.

Mas quem quer vestir isso?
Não está na moda.
Não eleva às custas de rebaixamento alheio.
Para quê ampliar os manequins
Se a visão de mundo e de vida
Não se ampliam fácil assim?

Eu não caibo nesse mundo
Não porque ocupo mais espaço
Do que os outros acham ocupar.
Mas porque acredito
Em valores muito aquém
Do que a maioria consegue acreditar.


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Contando minutos


Não vejo a hora de percorrer teu rosto com a palma das minhas mãos, como sempre faço, até que as pontas dos meus dedos entrem, devagarinho, por entre os fios dos seus cabelos lisinhos. E então, ficar observando você de olhos fechados, se deixando acariciar, enquanto emaranho minhas mãos em cada fio de cabelo seu, de novo, e de novo, e de novo, lentamente. Até que, de levinho, desça até seus braços, suas costas, seu peito, em movimentos circulares numa espécie de massagem em que as digitais flutuam sobre sua pele. E nesse passeio sem partida, sem chegada, percorro de um ombro a outro até te sentir estremecer de arrepio. Então rirei, como sempre acontece, e te darei beijos espalhados pelo corpo todo. Lábios em um canto de você, mãos espalmadas em outro, como se pudesse te abraçar inteiro e de uma só vez.

Não vejo a hora.

Perto assim eu sinto o seu cheiro me impregnar e nesse instante parece que nunca mais esse perfume vai sair de mim. Dá até pra acreditar que a solidão nem sequer existe; que o “sempre” é isso e nada mais. E é. Porque esse efeito fica mesmo depois que você vai embora e essa vontade permanece igual até o próximo encontro. Eu não canso de curtir você assim, de caminhar com os meus sentidos em você todo. Poderia ficar horas, dias, vidas inteiras a fio só te carinhando, te desvendando, mergulhando em você com meus olhos, minha pele e meu amor.

Só que desta vez, quero, preciso, olhar mais fundo nos seus olhos castanhos enquanto me delicio em você. Quero resgatar aquele silêncio que fazíamos lá no comecinho. Nos comunicávamos tão bem assim, lembra? Acho que preciso me entregar mais e me preocupar menos com detalhes externos, me desligar do mundo aí fora. Sinto uma pressa inexplicável de experimentar isso. De te deixar me experimentar assim, mais livre, mais pronta. Porque eu preciso que saiba que faço amor com você antes mesmo que nos toquemos. Preciso que meus olhos te digam o que a minha boca não sabe dizer.

Eu, as células do meu corpo, os impulsos do meu coração estamos contando os minutos para te ter pertinho de novo.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Feliz Natal! Feliz Ano-Novo!

Esse é o meu cartão de Natal a todos que me lêem nesse cantinho tão especial pra mim.
Obrigada!

Clique na imagem para vê-la maior.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ver-te


Olhar-te é o meu consolo
Preciso ver-te todos os dias!
Mesmo que não possa tocá-lo,
Apreciar-te me acaricia.

E agora, como será?
É mais do que uma parede
Isso que colocaram entre nossos olhares.
É a distância, é a sede.

Como convencer meus olhos
Dessa condição
Se desde o primeiro encontro
Eles te despertaram ao meu coração?

Vendo-te é que aprendi
A admirar-te nos detalhes,
A reconhecer-te nas minúcias
Desde os primeiros olhares.

E agora?
Que tristes serão meus dias!
Sem você, seus traços, seu sorriso,
Serei privada de minhas alegrias.

Olhar-te me fez descobrir
Que a vida nada mais é do que surpresa.
Você ressuscitou em mim o querer,
Derrubou todas as minhas certezas.

Longe de você volto à rotina seca e dura.
Morre toda a graça daqui em diante:
Não há fantasia nem sonho
Sem você ao meu alcance.


sábado, 25 de setembro de 2010

Você me ronda


Você está aqui agora. Me rondando. Sinto o seu cheiro, a sua respiração. Você esteve aqui o dia todo. Do meio da madrugada, quando eu acordei e, de imediato, fui invadida pela sua presença, até este momento. E continuará aqui, preenchendo cada minuto que demora tanto a passar quando não posso te ver. 
Está e permanecerá, sabe-se lá até quando, porque habita meu coração e eu já não posso fazer mais nada. Fico falando de você a mim mesma, tanto tanto... fico relembrando seus traços, suas expressões, suas características. Fico curtindo a saudade e contando o tempo, que passa tão rápido quando estamos juntos, e tão lento nesses dias em que sou forçada a suportar sua ausência.
Te conheci outro dia e já sinto tanta saudade. Como pode? É justo isso? Você me ronda, onde quer que eu vá. Eu te levo no corpo, na alma e no coração, e bem por isso não consigo mais separar as coisas. Você se espalha em todos os assuntos meus. Interfere nos meus interesses, na minha falta de rotina. E as vezes é tão forte que eu preciso apertar bem os olhos, respirar fundo, pra desligar do mundo durante um segundo, só um segundo que seja.
Mas você vem, você sempre vem. E aí eu sinto aquele arrepio na nuca, aquela coisa que me enfraquece, me deixa entregue. Pensar em você mexe com todos os meus sentidos, e já nem sei mais quantas vezes por dia isso se repete. Sei, isso sim, que o efeito não passa. Ele contamina, persiste, dura cada vez mais. 
E de repente, quando acho que vou enlouquecer com essa sua falta, você aparece, de algum jeito, me fazendo achar que está mesmo comigo, que temos, sim, uma sintonia incrível. Acho que você ouve os meus chamados, porque sempre acerta, sempre chega nos momentos mais críticos, provando que está mesmo me rondando. Que conseguimos fazer companhia um ao outro até de longe.
Minha saudade grita tanto que você deve ouvir daí. Só pode ser isso. Recorro ao silencio pra suportar. O silêncio me faz desligar do mundo um pouquinho e aí eu consigo voltar para o último lugar onde estivemos juntos. Voltar à última sensação, à última peripécia sua que me deixou ainda mais enfeitiçada. Eu só queria seus olhos mirados em mim agora, pra eu tentar te fazer sentir isso que eu não consigo materializar. 
Ainda bem que você me ronda. Que seu efeito não passa. Que você sempre vem. Cheguei a um ponto em que não dá mais pra ficar sem isso. Não dá mais pra ficar sem você. E realmente não fico. Perto ou longe, te quero me rondando. 


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eu, me apegar?


Você é cheio dos encantos e dos perigos, mas eu estou atenta, não vou me apegar. Afinal, por que me apegaria?
Ora... você não acha que eu me deixaria levar assim, tão facilmente, não é? Só porque ninguém pisca desse jeito que você pisca, meio que em câmera lenta, meio que desplugado do mundo, não quer dizer que consiga me enfeitiçar. Nem mesmo quando lê concentrado, fazendo o mundo parar de girar, ou quando o ritmo dessas piscadelas muda em função do seu humor. Nem assim conseguirá fazer com que me apegue.
Estou atenta a você e a esse seu jeito sui generis de menino. Quando você digita, olhando na tela e na tecla, na tecla e na tela, como desculpa para um intervalo à reflexão, com todo cuidado, relendo o que escreveu, avaliando e voltando às teclas bem devagar, eu quase me desmancho. Mas não, não estou me apegando!
Por mais tentadora que seja essa sua forma simples e franca de ver o mundo, de viver a vida, já me protegi toda de você. Não adianta tentar! Só porque minhas pernas ficam totalmente bambas quando você me encara bem de frente, desse jeito que eu não me lembro ter sido encarada antes, e porque quando aperta os olhos só pra me provocar eu perco totalmente o rumo, a noção de tempo e espaço, não quer dizer que tenha me apegado a você.
E não me venha falar com esse seu jeitinho, não. Está certo, não há no mundo alguém que misture na fala, no jeito, no som e nos movimentos esse feitiço misto de criança e ao mesmo tempo essa postura de homem tão bem resolvido consigo mesmo. Mas eu estou forte também com relação a isso, não cairei na sua teia. Por mais que tenha atingido meu ponto fraco com essa sua mania de fazer acontecer sem dizer palavra alguma.
É verdade que o jeito que você me beija chega a ser até covardia. Eu tinha esquecido como era perder o chão durante um beijo... e eu ficaria horas a fio solta por aí, presa apenas em seus lábios... e esqueceria da vida bagunçando seu cabelo, carinhando suas sobrancelhas... e descobrindo meu próprio corpo através de você... e... Mas não! Não vou me apegar, e tenho dito!
E só porque onde quer que eu esteja, estão também suas músicas, suas expressões criativas, suas tiradas inusitadas, não vá achando que me apeguei. Nem porque fico rindo sozinha, lembrando das coisas que você diz e faz, ou porque fico horas e horas tentando desvendar essa sua naturalidade – que, aliás, me surpreende todos os dias, a cada aparição sua.
É verdade, admito, que te paquero o dia todo, detalhe por detalhe, e que adoro absolutamente tudo em você. Mas não vou me apegar, não, tá?
O fato de ler e reler seus e-mails e suas mensagens compulsivamente não quer dizer nada também. Só porque sou viciada no seu jeito de escrever e de se expressar, não garante que, um dia, talvez , eu me apegue. Nem de te enxergar em tantas letras de músicas. Nem de sentir seu cheiro de repente, nos lugares mais improváveis. Nem... Estou atenta! Muito atenta!
Já percebi que é um sedutor nato. Suas músicas te denunciam. Você todo se denuncia, porque não faz questão nenhuma de fingir ser o que não é. E isso já bastaria para que eu me apegasse – caso não estivesse tão segura agora, claro.
Segura de que você é, definitivamente, alguém a quem apegar-se é pouco. Você entra na gente como um fluído e vai se espalhando de uma maneira contra a qual não há defesa. Não há como apegar-se a você porque a gente passa direto por esse estágio meio termo do gostar. Ou gosta de uma vez, ou adora, você não dá outras alternativas menores.
E isso tudo porque você é assim, exatamente do jeitinho que é. Porque me deixa de pernas moles e coração aos pulos. Porque nunca sei bem como agir, quando ir, quando ficar. Por você, me deixo levar, perco o controle de minhas próprias resistências. Você põe em xeque toda a segurança emocional que eu criei, com tanto custo, para me proteger da dominação humana.
Há tantos porquês! Foi ali, na primeira vez que o vi, que me apeguei a você, e desse baque que eu nunca consegui entender bem, jamais vou esquecer. Eu te vi e já soube que era alguém especial pra mim. E agora, no meio dessa fantasia que você me faz experimentar, fico sem minhas principais defesas, afinal, diante de você sou apenas eu, da forma mais pura que consigo ser. E até isso me intriga nessa sua arte de ameaçar minha fortaleza íntima.  
Porque você chegou em um momento em que eu estava em busca de mim mesma, com pedaços vitais espalhados por aí. Sem dizer nada, pegou minha mão, me fez lembrar tanto do que sou e me desafia nesse reencontro comigo mesma. Você desperta a loucura que habita em mim, mas que andava adormecida, que o tempo neutralizou. E que saudade que eu estava desse meu lado!
Enfim... você me assusta e me fascina, e eu tinha esquecido do quanto esse efeito me desperta e me empolga. Você é um risco bom de se correr. Desses, cujo o apego permanece para sempre e vai crescendo, e vai crescendo...



sábado, 21 de agosto de 2010

Intimidade


Entreolharam-se.
Havia uma chama.
Pouco identificável, verdade.
Mas algo ali derrama.

Se espalha,
Impregna.
Embora não haja certeza
Há sempre a proeza
Do que não mata, mas ensina.

Vibrando no respirar
Da insuficiência bendita
Mantendo acesa a sobrevivência,
O gosto pela vida.

E daí em diante
Olhos cada vez mais
Fixos, seduzidos,
Transformou-se em vulcão de libido
A intimidade em silencioso cais.



sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Afago


Deixa eu te afagar
De leve
De mansinho
Como quem doa carinho
Sem medida,
Sem espera,
Afinal,
Sem aquela pressa
Que faz da gente refém
Das coisas, de alguém.
Não.
Só me deixa te afagar.
Assim
De dentro pra fora
Sem ensaio
E sem hora
Só no embalo do ímpeto
De agradar.
Se me vê dessa forma,
Tão gentil,
Então me deixa exercitar
O dom raro de doar
O que mais ninguém
Se dá o direito
De praticar.
Isso é interesse.
Admito.
Mas é também humanidade
Um impulso
Uma vontade:
Mistura boa
Que só sente
Quem é gente.
E eu
E você
Tão apurados pela sensibilidade
Com esse talento
da tradução invisível
do dizer o indizível
temos, sim
O merecimento
De descobrir
O afago
O abrigo
A delícia e o castigo
Do gostar.





Inspiração



Sou governada pela inspiração
Mas ela me falta as vezes.
Muitas vezes.
E quando falta, parece que é pra sempre.
Demora pra voltar,
Deixa um vazio... um vão...
Que me separam do lado de lá,
O mesmo que torna tão melhor o lado de cá.
Depois retorna como um vulcão:
Intensa, sedenta, do jeito que gosto,
Fica um tempo, povoa tudo
Me devolve ao sonho.
Mas de repente, e novamente, se vai.
E deixa um vazio... um vão!
Mas estará tudo bem, enfim,
Enquanto ela voltar.


terça-feira, 20 de julho de 2010

Hoje, 20 de julho, Dia Mundial do Amigo



Hoje é 20 de julho, DIA MUNDIAL DO AMIGO, esse ser sobrenatural que entra nas nossas vidas e só opera o bem! Esse que não precisa de laços sanguíneos para que os consideremos mais do que familiares. Pessoas mágicas que vão se achegando, se achegando, mostrando seus encantos, se doando e, quando vemos, já estamos viciados na presença inestimável deles. Seres de luz que nos salvam tantas e tantas vezes durante a vida, emprestando seus ouvidos, partilhando de sua sabedoria, doando compreensão, nos dando a dádiva da verdadeira aceitação; abrindo os braços sem cerimônica num abraço tão gigante e tão fraterno que nem sabemos explicar. Amigos são pessoas tão iluminadas que, além de toda essa doação, também nos trazem grandes lições, pois através deles exercitamos o dom divino da admiração, do não-julgamento, da companhia desinteressada, do prazer de estar simplesmente perto, junto, pelo resto da vida. Amigos verdadeiros estão ao nosso lado nas vitórias e nas derrotas, sempre com a mesma devoção, além de nos acompanharem também por dentro, num apoio celestial que sempre nos mantém em pé, que nos dá força para continuar independentemente das situações enfrentadas.

É, amados e amadas, hoje é só uma data símbolo, mas muito merecida pela referência que faz a esses seres preciosos que temos em nossas vidas. Sem eles, como seríamos frios e amargurados! Como seríamos sozinhos, calados. Como seríamos tão mais egoístas e ignorantes sobre essa arte que é existir!

Obrigada por serem amigos, por fazerem parte da minha vida, por me acompnharem nessa caminhada e por possuírem todas essas qualidades que eu citei aí em cima. Há muitas outras, com certeza, mas não caberiam em escrita nenhuma. Porque vocês, amigos e amigas, são meu universo particular!

Beijos, carinhos, amor e gratidão

Aliz


segunda-feira, 19 de julho de 2010

Alguns humanos são assim



Cansa ser de ferro. Cansa ser forte. Cansa ser compreensivo, paciente, amigo. Cansa mesmo ser gente. Porque ser gente custa caro pra alma. Quanto maior a doação, mais gente você se torna; e quanto mais gente, mais abandonado. De fora, as pessoas enxergam a fortaleza que forjaram ao seu redor, esquecendo-se de tudo que se lança mão para amparar o outro as vezes. Porque ninguém é forte o tempo todo, muito menos nos momentos de fraqueza alheia. Mas uma vez forte, corajoso, os olhos ao redor criam um escudo à sua volta que, embora seja lisonjeiro, não é tão real. Você se torna tão autossuficiente diante dos demais que perde o direito de sentir-se como eles. E ser sobrenatural dói. Mas por incrível que pareça, quanto mais se preocupa com os outros, mais mortal se torna. Pena que ninguém nota isso. E quanto mais mortal, mais dores sente, mais carências, mais solidão, mais necessidade de aconchego, compreensão. Mas a falsa casca da valentia recobre tudo isso, e ninguém ousa tocá-la, parece aço. Mal sabem! É uma casca de ovo, um vidro fininho. Então, sem colo, sem abraço, vão acumulando-se os sentimentos mais bobos, mais infantis, todas as inseguranças, até que a vida passe e te ensine a curar suas próprias feridas, em silêncio, isoladamente, sem a chance de ser simplesmente gente - ainda mais frágil e necessitado do que todos aqueles a quem amparou.

Alguns humanos são assim.

Eu, carente



Sou carente e sou sozinha
Mesmo com tudo que faço
Pra evitar o isolamento.
Mas afasto, assusto os outros
Por excesso de sentimento.

Eu entendo o medo que causo,
O grude que aparento.
Mas sou tão livre, você nem sabe!
Nunca foi meu plano
Praticar o aprisionamento.


terça-feira, 29 de junho de 2010

"A"


Gosto de você devagarinho
Cada dia mais
Pedacinho por pedacinho
Dentro e fora, aliás.

Em meus planos de carinho
Estão todas as suas motivações.
Gosto de você quietinho
Tanto quanto a plenos vulcões.

Dos momentos que dividimos
Não abriria mão de nenhum,
Gosto do jeito que nos descobrimos,
De tudo que temos em comum.

Juntos nos fortalecemos,
Nos sentimos mais capazes.
Sonhamos até com o que seremos
Lá na frente, em qualquer fase.

Gosto de você por inteiro,
De toda essa coragem.
Não perde tempo com receios
Inseguranças, medos, bobagens.

Menino com vontade de viver
Dá gosto tê-lo por perto.
Me embriago na sua juventude
E juntos nos salvamos do deserto.


sexta-feira, 18 de junho de 2010

Aconchego


Aconchegou-me depressa. Não me olhou no rosto para admirar-me, tomou essa decisão antes porque estava realmente disposto, como eu sonhei um dia. E na sintonia maluca de uma paixão apressada, propôs-me um sonho. Não precisou de provas para acreditar-me. Não fez reservas quanto a minha sede de poesia. Aceitou o convite para uma fantasia ainda em formação e desacreditada por tanta gente que cruzou nossos caminhos com coragem de homem e pureza de menino. Tentou, seguindo os impulsos de um coração em busca, e deixou-me tentar, incentivou-me a acreditar. E então aconchegou-me novamente ao olhar nos olhos inúmeras vezes já no primeira contato; ao sorrir-me livre e provocar meu riso; ao aceitar-me de novo, só que agora em novo encontro. Desde então, se dá a chance e me dá uma chance sem medo, sem vergonha, sem insegurança.


Essa humanidade que demonstra abraçou-me o coração em cheio. Já tinha perdido certas crenças que agora você ressuscita, aos poucos, com tantos dons e simplicidade. Sua sede de viver e sentir se parece tanto com a minha! Sua transparência, sua alma escancarada me devolveu a esperança por um mundo mais aberto e mais sincero. Seu romantismo, sua alegria, sua vontade de acertar deixam-me sem reação diante dos fatos. Você me aconchega por inteiro e eu não consigo explicar. A cada dia, à medida que as descobertas vão acontecendo e que a entrega torna-se mais intensa, mais eu vislumbro daquela menina que tanto gostei de ser e que hoje descubro: não morreu. Graças a você e a esse aconchego que nos une.


quarta-feira, 12 de maio de 2010

Abandono

Lágrimas de abandono
Rolaram constantes
Daquele rosto ainda novo
E que mal demonstrava sofrimento.

Gritos de abandono
Soaram como sinos de revolta
Daquela boca que sempre
Sorriu frouxo a todo lado.

Mas o mais preocupante
Foi quando se instalou,
Devagar e sôfrego,
O silêncio de abandono.

Aquele corpo, aquela alma
Nunca souberam praticar
O silêncio,
A resignação.

E agora se cala, assim?
Enquanto a lágrima molhava o rosto
E o grito emitia sinais
Havia a bendita motivação que nos mantém em pé.

Porque mesmo que em forma de lágrimas ou gritos de dor,
Impõem-se a vontade e lutar.
E esse reflexo de sobrevivência
Mantém acesa a chama da vida.

Mas agora isso... o silêncio.
Silêncio de abandono.
Tão desamparada sentiu-se
Que resolveu deixar-se a si mesma.