sexta-feira, 9 de abril de 2010

A maior das vontades

Tinha tudo pra ser amor.

Mais não foi.

Volto pra fila de espera.

Tinha tudo pra ser amor, e um amor daqueles.

Com gosto de aventura,

Com cheiro de pecado,

Com suspiros de cansaço.

Com um pouco de tudo que duas almas jovens anseiam.

Você tinha tudo pra ser o amor que eu tenho urgência.

O amor pra já, de pressa, de carência.

Amor de sede e de fome.

Aquele amor quente de longe e de perto.

Amor de descoberta constante.

De crise de consciência e tudo.

Um amor atemporal,

Daqueles que se vive apenas por um tempo mas não se esquece jamais.

Amor não feito para sempre,

Mas certamente eternizado nessas saudades românticas

que alimentam o espírito quando ficamos velhos.

Você tinha tudo pra ser o cara da vez,

Aquele que quebraria toda a empáfia da minha segurança atual.

Aquele que me faria ansiar por encontros noturnos improvisados,

que acontecem em lugares nada apropriados.

Um amor bem mal planejado, intempestivo, que quebra barreiras.

Amor na medida, de tão errado.

Neste momento, é de um amor assim que eu preciso.

Um amor ousado, uma paixão declaradamente paixão,

Que quebre um pouco das tantas barreiras que eu construí em mim.

Tinha tudo pra ser amor, prazer, calor, adrenalina

e depois despedida.

Pena.

A despedida veio antes.

Ficamos na teoria de uma possível rebeldia,

Da intenção de construir uma fuga só nossa.

De um capítulo de vida que só seria publicado depois que todos se fossem.

Nem sequer começou

Porque de tão utópica, foi vítima da realidade.

E a realidade não é romântica.

Muito menos cega, como pretendíamos.

A realidade não é perfeita como o nosso plano,

Mas é eficiente para o cumprimento de regras chatas.

Ficamos na vontade.

Lembrarei de você como um amor que, sim,

Poderia mesmo ter sido,

Que eu gostaria que tivesse acontecido,

E que seria muito bom. Deixaria marcas.

Mas que a minha atual caretice não comporta, não sustenta.

Resta-me, novamente, a resignação.

E aqui, de volta na fila de espera,

Lembrarei dessa vontade que ficou.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Amar como eu te amei


Já estou com saudade de amar de novo, como um dia eu te amei.

Sinto falta daquela ousadia, aquela urgência de viver que eu aprendi depois que você chegou. Falta do pouco que eu fazia dos riscos que você sempre representou pra mim. Sinto falta de amar intensa e desmedidamente, como eu te amei desde o primeiro dia.

Eu sabia que iria acabar e que seriam minhas as lágrimas que lavariam as feridas que um amor assim deixa; sabia que o seu amor era frágil e tinha tempo de validade pré-determinado; sabia que o dia do sofrimento por não te ter por perto chegaria, e que com isso eu mesma me perderia, mas em momento algum me deixei amedrontar. E que saudade justamente dessa coragem que eu tinha de amar você!

Mesmo com todos os riscos, esse amor nunca me pareceu ameaça. Pra mim, ele era a aventura que eu sempre sonhei viver, era a oportunidade de experimentar a mim mesma e de conhecer a profundidade do meu coração. Esse amor era um presente de enormes laços vermelhos que eu desembrulhava todos os dias com a mesma emoção, era uma mistura de tudo um pouco do que eu nutria. Eu queria reaprender aquela capacidade incrível que tinha de sonhar junto, de aliar-me de olhos fechados às suas – que depois se tornaram nossas – fantasias.

Que saudade de ser de novo aquela menina simples, de alma escancarada, de corpo sempre pronto a se deixar explorar por você. Faz muita falta sentir aquela vontade que não tinha hora e nem lugar, aquela ansiedade pra te ver, das pernas trêmulas quando te via chegando e moles depois da despedida. Eu pisava nas nuvens por você, e até disso eu sinto falta. E é sufocante a saudade que tenho da trilha sonora da nossa vida oculta, que parecia tocar ininterruptamente no nosso planeta particular. Sinto falta até do romantismo que brotava em mim nessa época e que eu não consigo mais recuperar.

Eu te amei de um jeito tão meu, e tão franco, e tão inteiro, e que nunca mais consegui com ninguém. Eu te paquerei em todos os momentos, de perto e de longe, admirando você de corpo e alma, centímetro por centímetro, minuto por minuto. E agora, contabilizando números que se transformam em anos e que me distanciam tanto daquela que eu deveras gostei de ser, vou acumulando saudades tão arraigadas que só me fazem supor que nessa fase em que eu te amei tanto, foi a que, sem dúvida, mais amor me dei.

Esse amar tão completamente, sem se preocupar com as ameaças iminentes em nome apenas do que esse amor me deixaria de herança – a história, o aprendizado, a lembrança – eu desaprendi. Hoje eu desconfio de todos e virei refém do já famoso medo de amar, compartilhado por tantos corações machucados. Nada do que eu tenho visto ou vivido é tão forte que faça valer a pena outro risco, outra aventura, outra entrega dessas como a que eu só experimentei com você. Hoje eu sou normal até demais, moderada, irritantemente prudente de um jeito que eu nem sabia e nem queria ser quando tinha você por perto.

Juntos, éramos incomparáveis. E cada vez que eu mergulho na melancolia desse sonho que acabou, eu lembro da falta imensa e incorrigível que você e o amor que eu lhe tinha, o romantismo que eu nutria, me fazem. E é nessa hora que eu morro de saudade de mim.