segunda-feira, 16 de abril de 2007

Esperança


Estendi os braços e peguei uma carona num aviãozinho de papel que passou bem perto de mim. Agarrei forte em suas asas e, nesse instante, o vento abrandou sua força para não bater, só acariciar. Não sabia para onde ia o aviãozinho e nem tinha um destino programado, só queria voar dali para algum lugar que me trouxesse algo que eu já não sabia mais onde estava.


No instante em que levantei os braços senti uma energia benéfica, como uma voz garantindo segurança e pedindo apenas confiança. Me deixei levar pelo vento que se transformou em brisa, sobre campos que acenavam pra mim, entre nuvens que abriam caminho pra eu poder enxergar longe o azul simples e intenso.


O sol, amarelinho e purpurinado, gentil como ele só, diminuiu os raios que mandava em direção a Terra só pra não me queimar, e sorriu, glorioso, um riso de amizade e segurança. Os pássaros acompanhavam meu vôo incrível fazendo piruetas e cantando, com a simpatia única de amigos que eu nunca conheci, mas que sempre estiveram lá.


E cada vez que eu me desequilibrava, a terra lá em baixo se afofava, gritando para que eu me segurasse pra não perder o destino, mas caso caísse, me acolheria como um travesseiro gigante de plumas. E o ar era fresco e abundante... pacífico e só.

Então o aviãozinho olhou pra mim e perguntou onde eu gostaria que ele me levasse. Foi quando eu levantei meus olhos para o céu e gritei: “onde estárá?”. E num cochicho arrepiante o céu indicou ao aviãozinho amigo o lugar certo para me deixar.


Fui percebendo que a velocidade do meu vôo ia diminuindo, que, de leve, ia caindo, chegando mais perto do chão. E quando meus pés já se aproximavam de um solo que eu nunca pisei, brotaram, repentinas, flores coloridas e muito vívidas, sobre um campo verde e viçoso que abriu os braços para me receber.


De repente senti os pés tocarem o chão, os braços soltarem o aviãozinho, que me olhou e sorriu o sorriso mais leve e sincero que eu já vi num tom de despedida. O vento se fez ainda mais brando, o ar, agora mais quente e o Sol totalmente iluminado. Até que o silêncio tomasse por completo aquele lugar e eu, parada em meio a um paraíso gigante que oferecida de si toda a paz. Foram embora meus amigos, acenando de longe, espalhando perfume naquela imensidão.


Baixei os olhos da direção do céu pra contemplar aquela vista. A natureza fazia ciranda em volta de mim enquanto o mundo fazia silêncio e suspense, até que uma voz suave e misteriosa me disse: “Está aqui...”. Girei sobre mim mesma, sem saber pra onde ir e, confusa, fechei os olhos como quem não podia acreditar.


Disparei por entre as flores do campo que sorriam ao me dar passagem até ouvir de volta o som da vida, baixinho, delicado, anunciando que os sonhos nunca são em vão. Até que avistei, a uma distância tão generosa, o brilho daquilo que eu procurava há tanto tempo, de quem tinha se escondido de mim sem me ensinar a esquecer. Abriu os braços diante de mim como um mar, transparente e limpo onde eu mergulhei.


Quando percebi, dentro daquele abraço eu pairava pelo ar novamente. Reapareceram meus amigos filhos do tempo, da natureza, do universo, meu aviãozinho de papel, abrindo-se em forma de poesia, saudando aquela felicidade que se concretizava bailando céu adentro. Era a saudade que se despedia, dando lugar à esperança que renascia.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Quando eu estiver escrevendo



Quando eu estiver escrevendo
Não quero ser incomodada,
Não quero ouvir barulho algum,
Quero apenas sentir cada palavra.


E enquanto eu estiver assim
Nesse estado glorioso de isolamento,
Que me deixem flutuar e não se admirem
Se me virem rodopiando no vento.


Deixa-me sentir cada palavra
Cada ponto, cada acento.
E viva esse estado de alma interminável
Onde eu me escondo em busca de contentamento.


As letras quando estão soltas
Representam possibilidade sem fim.
E quando mostram-se fáceis de unir
Demonstram o infinito dentro de mim.


Cada palavra que se solta
E cada frase que se revela
Me trazem a sensação de ser
Realmente livre, realmente bela.


Por isso me deixem aqui no silêncio
Dos que fora estão.
Porque daqui de dentro soam gritos
De criatividade, paz, emoção.