segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Contando minutos


Não vejo a hora de percorrer teu rosto com a palma das minhas mãos, como sempre faço, até que as pontas dos meus dedos entrem, devagarinho, por entre os fios dos seus cabelos lisinhos. E então, ficar observando você de olhos fechados, se deixando acariciar, enquanto emaranho minhas mãos em cada fio de cabelo seu, de novo, e de novo, e de novo, lentamente. Até que, de levinho, desça até seus braços, suas costas, seu peito, em movimentos circulares numa espécie de massagem em que as digitais flutuam sobre sua pele. E nesse passeio sem partida, sem chegada, percorro de um ombro a outro até te sentir estremecer de arrepio. Então rirei, como sempre acontece, e te darei beijos espalhados pelo corpo todo. Lábios em um canto de você, mãos espalmadas em outro, como se pudesse te abraçar inteiro e de uma só vez.

Não vejo a hora.

Perto assim eu sinto o seu cheiro me impregnar e nesse instante parece que nunca mais esse perfume vai sair de mim. Dá até pra acreditar que a solidão nem sequer existe; que o “sempre” é isso e nada mais. E é. Porque esse efeito fica mesmo depois que você vai embora e essa vontade permanece igual até o próximo encontro. Eu não canso de curtir você assim, de caminhar com os meus sentidos em você todo. Poderia ficar horas, dias, vidas inteiras a fio só te carinhando, te desvendando, mergulhando em você com meus olhos, minha pele e meu amor.

Só que desta vez, quero, preciso, olhar mais fundo nos seus olhos castanhos enquanto me delicio em você. Quero resgatar aquele silêncio que fazíamos lá no comecinho. Nos comunicávamos tão bem assim, lembra? Acho que preciso me entregar mais e me preocupar menos com detalhes externos, me desligar do mundo aí fora. Sinto uma pressa inexplicável de experimentar isso. De te deixar me experimentar assim, mais livre, mais pronta. Porque eu preciso que saiba que faço amor com você antes mesmo que nos toquemos. Preciso que meus olhos te digam o que a minha boca não sabe dizer.

Eu, as células do meu corpo, os impulsos do meu coração estamos contando os minutos para te ter pertinho de novo.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Feliz Natal! Feliz Ano-Novo!

Esse é o meu cartão de Natal a todos que me lêem nesse cantinho tão especial pra mim.
Obrigada!

Clique na imagem para vê-la maior.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ver-te


Olhar-te é o meu consolo
Preciso ver-te todos os dias!
Mesmo que não possa tocá-lo,
Apreciar-te me acaricia.

E agora, como será?
É mais do que uma parede
Isso que colocaram entre nossos olhares.
É a distância, é a sede.

Como convencer meus olhos
Dessa condição
Se desde o primeiro encontro
Eles te despertaram ao meu coração?

Vendo-te é que aprendi
A admirar-te nos detalhes,
A reconhecer-te nas minúcias
Desde os primeiros olhares.

E agora?
Que tristes serão meus dias!
Sem você, seus traços, seu sorriso,
Serei privada de minhas alegrias.

Olhar-te me fez descobrir
Que a vida nada mais é do que surpresa.
Você ressuscitou em mim o querer,
Derrubou todas as minhas certezas.

Longe de você volto à rotina seca e dura.
Morre toda a graça daqui em diante:
Não há fantasia nem sonho
Sem você ao meu alcance.


sábado, 25 de setembro de 2010

Você me ronda


Você está aqui agora. Me rondando. Sinto o seu cheiro, a sua respiração. Você esteve aqui o dia todo. Do meio da madrugada, quando eu acordei e, de imediato, fui invadida pela sua presença, até este momento. E continuará aqui, preenchendo cada minuto que demora tanto a passar quando não posso te ver. 
Está e permanecerá, sabe-se lá até quando, porque habita meu coração e eu já não posso fazer mais nada. Fico falando de você a mim mesma, tanto tanto... fico relembrando seus traços, suas expressões, suas características. Fico curtindo a saudade e contando o tempo, que passa tão rápido quando estamos juntos, e tão lento nesses dias em que sou forçada a suportar sua ausência.
Te conheci outro dia e já sinto tanta saudade. Como pode? É justo isso? Você me ronda, onde quer que eu vá. Eu te levo no corpo, na alma e no coração, e bem por isso não consigo mais separar as coisas. Você se espalha em todos os assuntos meus. Interfere nos meus interesses, na minha falta de rotina. E as vezes é tão forte que eu preciso apertar bem os olhos, respirar fundo, pra desligar do mundo durante um segundo, só um segundo que seja.
Mas você vem, você sempre vem. E aí eu sinto aquele arrepio na nuca, aquela coisa que me enfraquece, me deixa entregue. Pensar em você mexe com todos os meus sentidos, e já nem sei mais quantas vezes por dia isso se repete. Sei, isso sim, que o efeito não passa. Ele contamina, persiste, dura cada vez mais. 
E de repente, quando acho que vou enlouquecer com essa sua falta, você aparece, de algum jeito, me fazendo achar que está mesmo comigo, que temos, sim, uma sintonia incrível. Acho que você ouve os meus chamados, porque sempre acerta, sempre chega nos momentos mais críticos, provando que está mesmo me rondando. Que conseguimos fazer companhia um ao outro até de longe.
Minha saudade grita tanto que você deve ouvir daí. Só pode ser isso. Recorro ao silencio pra suportar. O silêncio me faz desligar do mundo um pouquinho e aí eu consigo voltar para o último lugar onde estivemos juntos. Voltar à última sensação, à última peripécia sua que me deixou ainda mais enfeitiçada. Eu só queria seus olhos mirados em mim agora, pra eu tentar te fazer sentir isso que eu não consigo materializar. 
Ainda bem que você me ronda. Que seu efeito não passa. Que você sempre vem. Cheguei a um ponto em que não dá mais pra ficar sem isso. Não dá mais pra ficar sem você. E realmente não fico. Perto ou longe, te quero me rondando. 


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eu, me apegar?


Você é cheio dos encantos e dos perigos, mas eu estou atenta, não vou me apegar. Afinal, por que me apegaria?
Ora... você não acha que eu me deixaria levar assim, tão facilmente, não é? Só porque ninguém pisca desse jeito que você pisca, meio que em câmera lenta, meio que desplugado do mundo, não quer dizer que consiga me enfeitiçar. Nem mesmo quando lê concentrado, fazendo o mundo parar de girar, ou quando o ritmo dessas piscadelas muda em função do seu humor. Nem assim conseguirá fazer com que me apegue.
Estou atenta a você e a esse seu jeito sui generis de menino. Quando você digita, olhando na tela e na tecla, na tecla e na tela, como desculpa para um intervalo à reflexão, com todo cuidado, relendo o que escreveu, avaliando e voltando às teclas bem devagar, eu quase me desmancho. Mas não, não estou me apegando!
Por mais tentadora que seja essa sua forma simples e franca de ver o mundo, de viver a vida, já me protegi toda de você. Não adianta tentar! Só porque minhas pernas ficam totalmente bambas quando você me encara bem de frente, desse jeito que eu não me lembro ter sido encarada antes, e porque quando aperta os olhos só pra me provocar eu perco totalmente o rumo, a noção de tempo e espaço, não quer dizer que tenha me apegado a você.
E não me venha falar com esse seu jeitinho, não. Está certo, não há no mundo alguém que misture na fala, no jeito, no som e nos movimentos esse feitiço misto de criança e ao mesmo tempo essa postura de homem tão bem resolvido consigo mesmo. Mas eu estou forte também com relação a isso, não cairei na sua teia. Por mais que tenha atingido meu ponto fraco com essa sua mania de fazer acontecer sem dizer palavra alguma.
É verdade que o jeito que você me beija chega a ser até covardia. Eu tinha esquecido como era perder o chão durante um beijo... e eu ficaria horas a fio solta por aí, presa apenas em seus lábios... e esqueceria da vida bagunçando seu cabelo, carinhando suas sobrancelhas... e descobrindo meu próprio corpo através de você... e... Mas não! Não vou me apegar, e tenho dito!
E só porque onde quer que eu esteja, estão também suas músicas, suas expressões criativas, suas tiradas inusitadas, não vá achando que me apeguei. Nem porque fico rindo sozinha, lembrando das coisas que você diz e faz, ou porque fico horas e horas tentando desvendar essa sua naturalidade – que, aliás, me surpreende todos os dias, a cada aparição sua.
É verdade, admito, que te paquero o dia todo, detalhe por detalhe, e que adoro absolutamente tudo em você. Mas não vou me apegar, não, tá?
O fato de ler e reler seus e-mails e suas mensagens compulsivamente não quer dizer nada também. Só porque sou viciada no seu jeito de escrever e de se expressar, não garante que, um dia, talvez , eu me apegue. Nem de te enxergar em tantas letras de músicas. Nem de sentir seu cheiro de repente, nos lugares mais improváveis. Nem... Estou atenta! Muito atenta!
Já percebi que é um sedutor nato. Suas músicas te denunciam. Você todo se denuncia, porque não faz questão nenhuma de fingir ser o que não é. E isso já bastaria para que eu me apegasse – caso não estivesse tão segura agora, claro.
Segura de que você é, definitivamente, alguém a quem apegar-se é pouco. Você entra na gente como um fluído e vai se espalhando de uma maneira contra a qual não há defesa. Não há como apegar-se a você porque a gente passa direto por esse estágio meio termo do gostar. Ou gosta de uma vez, ou adora, você não dá outras alternativas menores.
E isso tudo porque você é assim, exatamente do jeitinho que é. Porque me deixa de pernas moles e coração aos pulos. Porque nunca sei bem como agir, quando ir, quando ficar. Por você, me deixo levar, perco o controle de minhas próprias resistências. Você põe em xeque toda a segurança emocional que eu criei, com tanto custo, para me proteger da dominação humana.
Há tantos porquês! Foi ali, na primeira vez que o vi, que me apeguei a você, e desse baque que eu nunca consegui entender bem, jamais vou esquecer. Eu te vi e já soube que era alguém especial pra mim. E agora, no meio dessa fantasia que você me faz experimentar, fico sem minhas principais defesas, afinal, diante de você sou apenas eu, da forma mais pura que consigo ser. E até isso me intriga nessa sua arte de ameaçar minha fortaleza íntima.  
Porque você chegou em um momento em que eu estava em busca de mim mesma, com pedaços vitais espalhados por aí. Sem dizer nada, pegou minha mão, me fez lembrar tanto do que sou e me desafia nesse reencontro comigo mesma. Você desperta a loucura que habita em mim, mas que andava adormecida, que o tempo neutralizou. E que saudade que eu estava desse meu lado!
Enfim... você me assusta e me fascina, e eu tinha esquecido do quanto esse efeito me desperta e me empolga. Você é um risco bom de se correr. Desses, cujo o apego permanece para sempre e vai crescendo, e vai crescendo...



sábado, 21 de agosto de 2010

Intimidade


Entreolharam-se.
Havia uma chama.
Pouco identificável, verdade.
Mas algo ali derrama.

Se espalha,
Impregna.
Embora não haja certeza
Há sempre a proeza
Do que não mata, mas ensina.

Vibrando no respirar
Da insuficiência bendita
Mantendo acesa a sobrevivência,
O gosto pela vida.

E daí em diante
Olhos cada vez mais
Fixos, seduzidos,
Transformou-se em vulcão de libido
A intimidade em silencioso cais.



sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Afago


Deixa eu te afagar
De leve
De mansinho
Como quem doa carinho
Sem medida,
Sem espera,
Afinal,
Sem aquela pressa
Que faz da gente refém
Das coisas, de alguém.
Não.
Só me deixa te afagar.
Assim
De dentro pra fora
Sem ensaio
E sem hora
Só no embalo do ímpeto
De agradar.
Se me vê dessa forma,
Tão gentil,
Então me deixa exercitar
O dom raro de doar
O que mais ninguém
Se dá o direito
De praticar.
Isso é interesse.
Admito.
Mas é também humanidade
Um impulso
Uma vontade:
Mistura boa
Que só sente
Quem é gente.
E eu
E você
Tão apurados pela sensibilidade
Com esse talento
da tradução invisível
do dizer o indizível
temos, sim
O merecimento
De descobrir
O afago
O abrigo
A delícia e o castigo
Do gostar.





Inspiração



Sou governada pela inspiração
Mas ela me falta as vezes.
Muitas vezes.
E quando falta, parece que é pra sempre.
Demora pra voltar,
Deixa um vazio... um vão...
Que me separam do lado de lá,
O mesmo que torna tão melhor o lado de cá.
Depois retorna como um vulcão:
Intensa, sedenta, do jeito que gosto,
Fica um tempo, povoa tudo
Me devolve ao sonho.
Mas de repente, e novamente, se vai.
E deixa um vazio... um vão!
Mas estará tudo bem, enfim,
Enquanto ela voltar.


terça-feira, 20 de julho de 2010

Hoje, 20 de julho, Dia Mundial do Amigo



Hoje é 20 de julho, DIA MUNDIAL DO AMIGO, esse ser sobrenatural que entra nas nossas vidas e só opera o bem! Esse que não precisa de laços sanguíneos para que os consideremos mais do que familiares. Pessoas mágicas que vão se achegando, se achegando, mostrando seus encantos, se doando e, quando vemos, já estamos viciados na presença inestimável deles. Seres de luz que nos salvam tantas e tantas vezes durante a vida, emprestando seus ouvidos, partilhando de sua sabedoria, doando compreensão, nos dando a dádiva da verdadeira aceitação; abrindo os braços sem cerimônica num abraço tão gigante e tão fraterno que nem sabemos explicar. Amigos são pessoas tão iluminadas que, além de toda essa doação, também nos trazem grandes lições, pois através deles exercitamos o dom divino da admiração, do não-julgamento, da companhia desinteressada, do prazer de estar simplesmente perto, junto, pelo resto da vida. Amigos verdadeiros estão ao nosso lado nas vitórias e nas derrotas, sempre com a mesma devoção, além de nos acompanharem também por dentro, num apoio celestial que sempre nos mantém em pé, que nos dá força para continuar independentemente das situações enfrentadas.

É, amados e amadas, hoje é só uma data símbolo, mas muito merecida pela referência que faz a esses seres preciosos que temos em nossas vidas. Sem eles, como seríamos frios e amargurados! Como seríamos sozinhos, calados. Como seríamos tão mais egoístas e ignorantes sobre essa arte que é existir!

Obrigada por serem amigos, por fazerem parte da minha vida, por me acompnharem nessa caminhada e por possuírem todas essas qualidades que eu citei aí em cima. Há muitas outras, com certeza, mas não caberiam em escrita nenhuma. Porque vocês, amigos e amigas, são meu universo particular!

Beijos, carinhos, amor e gratidão

Aliz


segunda-feira, 19 de julho de 2010

Alguns humanos são assim



Cansa ser de ferro. Cansa ser forte. Cansa ser compreensivo, paciente, amigo. Cansa mesmo ser gente. Porque ser gente custa caro pra alma. Quanto maior a doação, mais gente você se torna; e quanto mais gente, mais abandonado. De fora, as pessoas enxergam a fortaleza que forjaram ao seu redor, esquecendo-se de tudo que se lança mão para amparar o outro as vezes. Porque ninguém é forte o tempo todo, muito menos nos momentos de fraqueza alheia. Mas uma vez forte, corajoso, os olhos ao redor criam um escudo à sua volta que, embora seja lisonjeiro, não é tão real. Você se torna tão autossuficiente diante dos demais que perde o direito de sentir-se como eles. E ser sobrenatural dói. Mas por incrível que pareça, quanto mais se preocupa com os outros, mais mortal se torna. Pena que ninguém nota isso. E quanto mais mortal, mais dores sente, mais carências, mais solidão, mais necessidade de aconchego, compreensão. Mas a falsa casca da valentia recobre tudo isso, e ninguém ousa tocá-la, parece aço. Mal sabem! É uma casca de ovo, um vidro fininho. Então, sem colo, sem abraço, vão acumulando-se os sentimentos mais bobos, mais infantis, todas as inseguranças, até que a vida passe e te ensine a curar suas próprias feridas, em silêncio, isoladamente, sem a chance de ser simplesmente gente - ainda mais frágil e necessitado do que todos aqueles a quem amparou.

Alguns humanos são assim.

Eu, carente



Sou carente e sou sozinha
Mesmo com tudo que faço
Pra evitar o isolamento.
Mas afasto, assusto os outros
Por excesso de sentimento.

Eu entendo o medo que causo,
O grude que aparento.
Mas sou tão livre, você nem sabe!
Nunca foi meu plano
Praticar o aprisionamento.


terça-feira, 29 de junho de 2010

"A"


Gosto de você devagarinho
Cada dia mais
Pedacinho por pedacinho
Dentro e fora, aliás.

Em meus planos de carinho
Estão todas as suas motivações.
Gosto de você quietinho
Tanto quanto a plenos vulcões.

Dos momentos que dividimos
Não abriria mão de nenhum,
Gosto do jeito que nos descobrimos,
De tudo que temos em comum.

Juntos nos fortalecemos,
Nos sentimos mais capazes.
Sonhamos até com o que seremos
Lá na frente, em qualquer fase.

Gosto de você por inteiro,
De toda essa coragem.
Não perde tempo com receios
Inseguranças, medos, bobagens.

Menino com vontade de viver
Dá gosto tê-lo por perto.
Me embriago na sua juventude
E juntos nos salvamos do deserto.


sexta-feira, 18 de junho de 2010

Aconchego


Aconchegou-me depressa. Não me olhou no rosto para admirar-me, tomou essa decisão antes porque estava realmente disposto, como eu sonhei um dia. E na sintonia maluca de uma paixão apressada, propôs-me um sonho. Não precisou de provas para acreditar-me. Não fez reservas quanto a minha sede de poesia. Aceitou o convite para uma fantasia ainda em formação e desacreditada por tanta gente que cruzou nossos caminhos com coragem de homem e pureza de menino. Tentou, seguindo os impulsos de um coração em busca, e deixou-me tentar, incentivou-me a acreditar. E então aconchegou-me novamente ao olhar nos olhos inúmeras vezes já no primeira contato; ao sorrir-me livre e provocar meu riso; ao aceitar-me de novo, só que agora em novo encontro. Desde então, se dá a chance e me dá uma chance sem medo, sem vergonha, sem insegurança.


Essa humanidade que demonstra abraçou-me o coração em cheio. Já tinha perdido certas crenças que agora você ressuscita, aos poucos, com tantos dons e simplicidade. Sua sede de viver e sentir se parece tanto com a minha! Sua transparência, sua alma escancarada me devolveu a esperança por um mundo mais aberto e mais sincero. Seu romantismo, sua alegria, sua vontade de acertar deixam-me sem reação diante dos fatos. Você me aconchega por inteiro e eu não consigo explicar. A cada dia, à medida que as descobertas vão acontecendo e que a entrega torna-se mais intensa, mais eu vislumbro daquela menina que tanto gostei de ser e que hoje descubro: não morreu. Graças a você e a esse aconchego que nos une.


quarta-feira, 12 de maio de 2010

Abandono

Lágrimas de abandono
Rolaram constantes
Daquele rosto ainda novo
E que mal demonstrava sofrimento.

Gritos de abandono
Soaram como sinos de revolta
Daquela boca que sempre
Sorriu frouxo a todo lado.

Mas o mais preocupante
Foi quando se instalou,
Devagar e sôfrego,
O silêncio de abandono.

Aquele corpo, aquela alma
Nunca souberam praticar
O silêncio,
A resignação.

E agora se cala, assim?
Enquanto a lágrima molhava o rosto
E o grito emitia sinais
Havia a bendita motivação que nos mantém em pé.

Porque mesmo que em forma de lágrimas ou gritos de dor,
Impõem-se a vontade e lutar.
E esse reflexo de sobrevivência
Mantém acesa a chama da vida.

Mas agora isso... o silêncio.
Silêncio de abandono.
Tão desamparada sentiu-se
Que resolveu deixar-se a si mesma.


sexta-feira, 9 de abril de 2010

A maior das vontades

Tinha tudo pra ser amor.

Mais não foi.

Volto pra fila de espera.

Tinha tudo pra ser amor, e um amor daqueles.

Com gosto de aventura,

Com cheiro de pecado,

Com suspiros de cansaço.

Com um pouco de tudo que duas almas jovens anseiam.

Você tinha tudo pra ser o amor que eu tenho urgência.

O amor pra já, de pressa, de carência.

Amor de sede e de fome.

Aquele amor quente de longe e de perto.

Amor de descoberta constante.

De crise de consciência e tudo.

Um amor atemporal,

Daqueles que se vive apenas por um tempo mas não se esquece jamais.

Amor não feito para sempre,

Mas certamente eternizado nessas saudades românticas

que alimentam o espírito quando ficamos velhos.

Você tinha tudo pra ser o cara da vez,

Aquele que quebraria toda a empáfia da minha segurança atual.

Aquele que me faria ansiar por encontros noturnos improvisados,

que acontecem em lugares nada apropriados.

Um amor bem mal planejado, intempestivo, que quebra barreiras.

Amor na medida, de tão errado.

Neste momento, é de um amor assim que eu preciso.

Um amor ousado, uma paixão declaradamente paixão,

Que quebre um pouco das tantas barreiras que eu construí em mim.

Tinha tudo pra ser amor, prazer, calor, adrenalina

e depois despedida.

Pena.

A despedida veio antes.

Ficamos na teoria de uma possível rebeldia,

Da intenção de construir uma fuga só nossa.

De um capítulo de vida que só seria publicado depois que todos se fossem.

Nem sequer começou

Porque de tão utópica, foi vítima da realidade.

E a realidade não é romântica.

Muito menos cega, como pretendíamos.

A realidade não é perfeita como o nosso plano,

Mas é eficiente para o cumprimento de regras chatas.

Ficamos na vontade.

Lembrarei de você como um amor que, sim,

Poderia mesmo ter sido,

Que eu gostaria que tivesse acontecido,

E que seria muito bom. Deixaria marcas.

Mas que a minha atual caretice não comporta, não sustenta.

Resta-me, novamente, a resignação.

E aqui, de volta na fila de espera,

Lembrarei dessa vontade que ficou.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Amar como eu te amei


Já estou com saudade de amar de novo, como um dia eu te amei.

Sinto falta daquela ousadia, aquela urgência de viver que eu aprendi depois que você chegou. Falta do pouco que eu fazia dos riscos que você sempre representou pra mim. Sinto falta de amar intensa e desmedidamente, como eu te amei desde o primeiro dia.

Eu sabia que iria acabar e que seriam minhas as lágrimas que lavariam as feridas que um amor assim deixa; sabia que o seu amor era frágil e tinha tempo de validade pré-determinado; sabia que o dia do sofrimento por não te ter por perto chegaria, e que com isso eu mesma me perderia, mas em momento algum me deixei amedrontar. E que saudade justamente dessa coragem que eu tinha de amar você!

Mesmo com todos os riscos, esse amor nunca me pareceu ameaça. Pra mim, ele era a aventura que eu sempre sonhei viver, era a oportunidade de experimentar a mim mesma e de conhecer a profundidade do meu coração. Esse amor era um presente de enormes laços vermelhos que eu desembrulhava todos os dias com a mesma emoção, era uma mistura de tudo um pouco do que eu nutria. Eu queria reaprender aquela capacidade incrível que tinha de sonhar junto, de aliar-me de olhos fechados às suas – que depois se tornaram nossas – fantasias.

Que saudade de ser de novo aquela menina simples, de alma escancarada, de corpo sempre pronto a se deixar explorar por você. Faz muita falta sentir aquela vontade que não tinha hora e nem lugar, aquela ansiedade pra te ver, das pernas trêmulas quando te via chegando e moles depois da despedida. Eu pisava nas nuvens por você, e até disso eu sinto falta. E é sufocante a saudade que tenho da trilha sonora da nossa vida oculta, que parecia tocar ininterruptamente no nosso planeta particular. Sinto falta até do romantismo que brotava em mim nessa época e que eu não consigo mais recuperar.

Eu te amei de um jeito tão meu, e tão franco, e tão inteiro, e que nunca mais consegui com ninguém. Eu te paquerei em todos os momentos, de perto e de longe, admirando você de corpo e alma, centímetro por centímetro, minuto por minuto. E agora, contabilizando números que se transformam em anos e que me distanciam tanto daquela que eu deveras gostei de ser, vou acumulando saudades tão arraigadas que só me fazem supor que nessa fase em que eu te amei tanto, foi a que, sem dúvida, mais amor me dei.

Esse amar tão completamente, sem se preocupar com as ameaças iminentes em nome apenas do que esse amor me deixaria de herança – a história, o aprendizado, a lembrança – eu desaprendi. Hoje eu desconfio de todos e virei refém do já famoso medo de amar, compartilhado por tantos corações machucados. Nada do que eu tenho visto ou vivido é tão forte que faça valer a pena outro risco, outra aventura, outra entrega dessas como a que eu só experimentei com você. Hoje eu sou normal até demais, moderada, irritantemente prudente de um jeito que eu nem sabia e nem queria ser quando tinha você por perto.

Juntos, éramos incomparáveis. E cada vez que eu mergulho na melancolia desse sonho que acabou, eu lembro da falta imensa e incorrigível que você e o amor que eu lhe tinha, o romantismo que eu nutria, me fazem. E é nessa hora que eu morro de saudade de mim.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Franqueza tola

Hoje, um amigo se feriu
Por culpa da franqueza
Que sai de minha boca
e não mede a dureza.

Com esse vento violento
Que agitou todo o meu jardim
Uma pétala caiu
Da flor rara
Que leva uma cara
Pra desabrochar.

Desculpe, meu amigo
Falta-me o dom da sutileza.
Quis ser sincera, transparente
E acabei vítima da franqueza.

Que direito tenho eu
De apontar os teus erros?
Mais vale ignorá-los
condená-los direto
aos meus aterros
Do que decepcionar-te assim.

Você já sofre intensamente
por ser tão exigente
sem nunca contentar-se
com sua honra iminente.

Pudesse agora
Voltar cada palavra
Não hesitaria.
Compreenderia seu mau momento,
abraçaria o seu silêncio
e seria o teu remanso.

É tão humano e tão sensível
Que por vezes te torna criança.
Se perfeita fosse, jamais o magoaria:
Te seria um bálsamo de esperança.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

internALIZo

Poetizo

Polemizo

escandalizo

emudeço.

Imortalizo

mentalizo

memorizo

enlouqueço.

Verbalizo

normalizo

textualizo

estremeço.

Centralizo

Esquematizo

somatizo

esqueço.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Abraçar-te



Vim disposta a abraçar-te
Como as manhãs abraçam a relva
E como a relva abraça as folhas
E como as folhas abraçam as flores
E como as flores abraçam o olhar.

Vim disposta a abraçar-te o corpo
Como o sol o abraçaria diante do mar
E acariciar-te a fronte
Como um beijo de mãe em boa noite
E no despertar.

Vim disposta a manter-me do seu lado
A prestar-lhe toda a minha dedicação
Como fazem os anjos do céu
Em vigília por sua alma
Em eterna devoção

Vim elevar-te a auto-estima
Dar-te segurança, certeza, compreensão.
Vim admirar-te de perto e constante
Em nome de todos os instantes
Que habitaste meu coração.

Vim, enfim, entregar-te meu melhor
Como fazem os amigos verdadeiros
Nos momentos leves e nos derradeiros
Com inspiração espontânea e natural
Na mais profunda homenagem fraternal.