terça-feira, 29 de novembro de 2011

Prova de amor em minutos

Aquelas horas foram provas de amor. Elas passaram voando. É sempre assim. Mas naquele dia elas nem sequer me seriam dadas. No entanto, você fez mágica com o seu relógio só para que o meu não parasse de correr. Porque é isso que acontece quando você não vem. Os ponteiros paralisam, a vida perde totalmente o ritmo, e eu, a noção de espaço. Era isso que estava fadado a acontecer com aquele sábado, quando você disse que não viria. Meu coração parou. De repente me vi perguntando: e agora? Como se nada mais pudesse salvar aquele restinho de dia, aquele final de semana inteiro. E não podia mesmo. Não havia nada capaz de trazer alegria semelhante a que sinto quando estamos dividindo as horas que são só nossas. 

Mas então, em um alô, você reintegrou todas as engrenagens que acendem as luzes da minha alma e que fazem o tempo valer a pena. O dia já estava findando e eu nem tinha mais esperanças, porém, ainda assim você veio e me acolheu o quanto pôde. Seu relógio dispunha de pouco tempo, e mesmo assim você fez valer cada minuto. Pura prova de amor. 

O tempo, que nunca nos é suficiente, não se fez de rogado, claro. Passou correndo. Quando vimos já era hora da despedida novamente. Mas você veio. E como não podia deixar de ser, impregnou a casa, meu corpo, meu coração com a sua presença insubstituível. Sob esse efeito é bem mais fácil aguardar pela próxima vez, ainda mais depois de uma surpresa tão significativa como aquela. Que não foi a primeira, reconheço. Eu nem te disse o quanto aquilo significou pra mim, mas sei que você imagina, caso contrário não teria encarado a estrada e os riscos que nos rondam para me mostrar que queria, sim, estar comigo. 

Aquelas horinhas salvaram dias inteiros! E hoje, só de lembrá-las, só de pensar na sua disposição, revivo os instantes que me fizeram sentir tão amada. Mais uma vez você me trouxe algo inusitado. Mais uma vez me deu uma lição. Eu do meu jeito e você do seu conseguimos dizer “te amo” através do tic tac do relógio que regula nossos instantes, porém eterniza nosso encontro. 

Vi que são necessários apenas alguns minutos para se dar a alguém uma prova de amor dessas que não se esquece jamais. Você me deu.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Medo de intimidade


Ontem, quando eu estava passando a ponta dos dedos em cada uma das dobrinhas do seu corpo, lembrei do medo que eu sempre tive de intimidade. Por que, com você, esse medo deixou de existir?

Quando eu pensava em compromisso, sentia-me ameaçada pela proximidade que toda convivência séria prevê. Eu pensava na perda da minha liberdade, da sagrada privacidade, em invasão ao meu corpo, aos meus hábitos, meus segredos. Mas ontem eu me vi ali, com você, tão em paz nessa entrega... Por que tudo é tão mais fácil com você? Não havia nada que eu não pudesse te confessar.

A nossa relação tem sido uma das mais incríveis escolas que a vida já me levou a frequentar em prol da arte que é existir. Eu sei que todo aprendizado é íntimo; coletivo mesmo é o ato de exercer o que se aprende, mas só se consegue praticar aquilo que realmente nos convence por dentro, que bate na alma primeiro. Só que no nosso caso, a lição tem sido mais pessoal e profunda do que qualquer outra. É um aprendizado que torna mais fácil a caminhada daqui em diante, e isso é tão meu!

Silenciosa, minuciosa, instintiva, essa lição vai acontecendo devagarinho, dia a dia, em sintonia com o amor que nos mantém juntos e que, ainda bem, é sempre tão natural. E assim vou aprendendo sobre a melhor forma de lidar com alguém que, até outro dia, era um completo estranho e, de repente, se tornou uma das pessoas mais importantes do mundo. E até pensar sobre isso me leva a entender muitas coisas que antes eram completamente incompreensíveis.

Permitir que você me conhecesse tão de perto fez com que permitisse a mim mesma uma exploração mais justa e aproveitável dos meus limites e das minhas capacidades, não só como mulher, mas como pessoa. Desde que chegou, você tem me apresentado ao que há de mais secreto em mim. E, estranhamente, isso não me causa mais temor. Pelo contrário, estou feliz. Feliz comigo e com você, meu amor, minha doce e ininterrupta descoberta.

Quantas e quantas vezes me pego intrigada pensando em você, em tudo que está acontecendo comigo desde que te conheci. E quantas dessas vezes agradeço por isso. Sim, você chegou na hora certa, quando eu estou mais preparada e com mais ânsia por experimentar algo mais intenso, mas nada disso seria possível se não tivesse encontrado alguém como você, que facilita tudo, que dá mais gosto aos dias, às novidades, às sensações.

Eu tinha medo da intimidade, do que ela poderia me custar, porque me baseava nas inconsistências vividas até então. Não havia outro parâmetro, só o do receio, da insegurança, da timidez, da falta da verdadeira entrega. Não conseguia entender o que levava as pessoas a fazerem certas escolhas por se desejarem tanto.

Hoje, o que restou foi a pressa de viver isso. Você me mostrou que há glórias na intimidade quando ela é dividida com respeito, naturalidade, aceitação – e tudo isso é fruto de amor. Não há invasão e nem perda. Há muitos ganhos, isso sim. Como esses que eu venho acumulando desde que você chegou. Agora eu identifico e sinto na pele a tal mágica da vida que faz com que certas pessoas se mereçam tanto.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

As horas que se somam à eternidade

As portas estavam trancadas e a luz apagada, só algumas pontinhas do sol que imperava lá fora entravam pelas frestas da janela e davam ao nosso cantinho aquele meio tom confortável. O silêncio era total. Nós dois estávamos em paz na companhia um do outro e nada precisava ser dito. Respirávamos baixinho, num cochilo meio lá meio cá. Com a cabeça acomodada entre seu ombro e parte do braço direito, que me segurava por baixo enquanto seu braço esquerdo me cobria por cima, eu segurava sua mão e naquele sossego impenetrável me senti a mulher mais protegida do mundo. Estávamos tão bem encaixados. 


Você dormia com a cabeça recostada à minha e seu suspiro, bem perto do meu ouvido, me fez relaxar profundamente. Não havia nada que eu pudesse querer naquele instante, tudo o que eu desejei por tanto tempo estava ali, acontecendo, e eu fiquei atônita ao perceber isso, como sempre fico quando me dou conta de algum sonho que se realiza. Você dormia tranquilamente, mas eu não consegui, só precisava curtir a sensação indescritível de um sonho de amor que se realizava comigo ali, tão consciente de tudo. Você me amparou de um jeito que eu ainda não tinha experimentado. Você estava ali, entregue, sem pressa, livre, e me deixando ser livre também, como tanto gosto. Só nós dois e o nosso acalanto, que se torna mais íntimo a cada dia, que nos aproxima cada vez mais. 

Naquele momento cheguei a pensar que nada poderia ser mais certo na vida. Não é possível que todas as razões que existem para que não estivéssemos ali, juntos, sejam mais fortes do que essa que nos leva a estar, sempre que possível, entrelaçados. Tudo o que somos quando estamos juntos, a forma como nos correspondemos e nos identificamos, é tudo tão raro. Exercitamos a aceitação e a admiração com tanta naturalidade! Não pode ser que essa história seja feita para acabar um dia. Pelo menos agora isso é impensável pra mim. 

Alguns minutos antes, eu passava a ponta dos dedos nas suas costas, no seu quadril, entre os cabelos da sua nuca e pensava: “sou apaixonada por você”. Estávamos desfrutando de algo que parece tão simples mas que eu sei, não acontece com tanta freqüência entre os casais. Não tinha acontecido comigo até então. Então eu entendi por que você lamentava, há poucos dias, o fim do que a gente tem. É porque isso que a gente tem é mágico demais pra acabar. Seria um desperdício enorme desse exercício de vida regada das mais sinceras ações.

Me deixa ver o seu amor mais de perto, me deixa te acariciar com mais freqüência, fica em silêncio comigo assim por uns minutos a mais. Isso me prende a você de uma forma como nunca fiquei presa antes. Me deixa ser importante na sua vida também. Sou tão apaixonada por você! Fica mais um pouco, deixa tocar mais uma música, segura a ponta dos meus dedos por mais um tempo, desse jeito que só você faz. Me concede o direito de rir das minhas próprias imperfeições só mais um pouquinho. Fica. Dois minutos, tá? Me deixa te mimar. Tenho tão pouco a te oferecer... mas nada pode impedir que esse pouco te seja entregue da forma mais sincera e mais amorosa. Eu posso fazer isso, eu quero. 


Quero te olhar de perto muitas e muitas vezes ainda e sentir, em todas elas, o gosto bom que isso tem. Ver seus olhos de menino se mexendo pra lá e pra cá conforme se expressa e lembrar, enquanto os observo, que foram eles que me capturaram há mais de um ano. Não há nada que eu não possa confessar a você. Assim como não há nada que eu queira te esconder. Diante de você sou exatamente como sempre quis. E diante do seu amor sinto uma disposição surpreendente em ser o melhor que posso, em oferecer tudo o que tenho, em, enfim, te fazer feliz. Sou mesmo, e ainda, e acho que sempre, apaixonada por você.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Versos sem categoria


São tão simplistas teus versos!
Não se encaixam em nenhuma categoria.
Não é arte, não é nada,
O que você pretendia?

São tão bobos teus poemas!
Cheios de rimas previsíveis.
Falam de sentimentos tão rasos,
Facilmente reconhecíveis.

Não sei a quem escreve tanto.
Intriga-me essa tua insistência.
Ou gosta de conversar com o vazio,
Ou quer provocar-me demência.

Investigo tuas letras,
Uma por uma, ponto e acento,
Fuço com zelo teus motivos,
Confundo-me de tanto que tento.

Irrita-me a tua pretensão.
Não é escritora nem dona da palavra,
E ainda assim expõe teu Português básico
Achando que meus sentimentos desbrava.

Desista!
Não hei de admirar-te.
Lerei tuas insanidades até meu último dia
Só pra desdenhar da tua arte.

Saiba que te leio com furor,
Revolta, maldade.
Poderia, ao menos, usar rimas mais nobres
Para denunciar minhas fraquezas à humanidade.

Sede de amanhã

A sede de amanhã
Que desperta a cada primeiro choro
Renova na multidão à volta
O vislumbre ao futuro.

Porque só o recém-chegado
Faz lembrar ao corpo cansado
Quantas possibilidades existem
Pra quem ainda não tem passado.

Despoluído de saudade,
Desprovido de lembrança,
O ser novo depende apenas
Do dia seguinte: sua única esperança.

Por isso é tão livre a alma nova.
Experimenta os instantes
Com tanta fé no que está por vir
Que não se torna refém do que houve antes.

Quem dera o ser vivido
Resgatasse essa sede;
Desejaria tanto o futuro
Que faria mais pleno seu presente.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

9 de setembro

Sei que pareço uma adolescente boba. Mal dormi esta noite de tanta ansiedade à espera deste amanhecer. Por que comemorar esse primeiro ano, afinal? Talvez porque eu tenha comemorado cada um dos dias que compõem esse ciclo que hoje se conclui. Mas como se trata de amor, eis a mágica: ele recomeça no mesmo compasso. Só isso já é motivo de festa para o meu coração infantil. E quiçá seja um ciclo sem fim! Mas o que é um dia, um único dia, diante de todos os dias em que tenho você? Não sei. É uma prova, eu acho. É a concretização de algo muito sonhado, muito esperado: você. É mais que presença, companhia, convivência. É viver.

Você é tão meu namorado! 
Você é o homem desenhado em todas essas linhas escritas em instantes de puro delírio, de puro desejo por algo que fizesse a vida ter um gosto que ainda não havia tido. O amor de paz tão idealizado, alegria compartilhada, intimidade que se descobre mais e mais. É o mais puro apreciar. Você materializa todas aquelas ideias, antes vagas, sobre amar por completo. Olho pra você e te compreendo, mergulho em suas razões. E isso acontece o tempo todo, quanto estamos juntos e quando estamos distantes. Analiso você, a cada experiência, e ainda encontro novos encantos.

Você é tão meu namorado!

Houve festa dentro de mim quando identifiquei você em meio a tanta gente por causa do conforto que trazia ao meu coração. Depois, houve festa novamente ao obter a reciprocidade da nossa bendita afinidade. Essa festa íntima só foi ganhando mais música e alegria com o tempo, à medida que a vida empurrava você pra mais perto de mim. E houve mais do que festa quando ganhei o primeiro beijo, o primeiro retorno, os demais encontros. E assim, um dia de cada vez, tenho observado cada uma das maravilhas que a sua presença opera em mim e tudo que eu tenho aprendido com você. Hoje, estou em festa porque tudo que tenho experimentado desde então só me faz bem, e embora ainda me comporte como uma menina boba e sonhadora, você tem me ajudado a crescer com o mais poderoso sentimento do mundo: o amor.

Você é tão meu namorado!

Não sei quantos dias mais teremos pela frente, mas cada minuto desse último ano foi saboreado por mim com uma intensidade inédita. Tenho tentado ser o melhor que posso, na tentativa jamais suficiente de retribuir a felicidade desse presente, do nosso hoje. Te amei sinceramente em cada um desses dias, um amor novo, um amor bem mais forte, um amor que quer sempre mais. Te amei por dentro, por fora, pedacinho por pedacinho. Te amei com admiração, com respeito, com entrega total. E sigo te amando, porque é isso que você me inspira.

Você é tão meu!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Te espero


Tempo
Pode passar como quiser
Rápido ou lento
Conforme suas intenções.
Não vou reclamar.
Quando você for vencido pelo sentimento
Ganharei um forte e demorado
Abraço de saudade:
A melhor de todas as recompensas
Por esperar,
Embora não sem dor,
Porém sem qualquer dúvida
Da força desse amor.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Durante seu sono


Gosto quando você dorme deitado no meu colo porque é nesse momento que eu me deparo com a minha própria capacidade de entrega, e isso faz com que eu consiga me conhecer melhor, pouco a pouco e repentinamente, sem uma real intenção. Só enquanto afago seus cabelos no meio da quietude desses instantes que consigo enxergar com uma clareza chocante o quanto nos transformamos diante de alguém que amamos e o quanto esse bem-querer ativa em nós uma série de desejos dos mais puros. Desejos esses que não exercemos ao longo do dia, com qualquer um. E eu até lamento por isso, mas como humana que sou, me permito esse momento de extrema lucidez pra reconhecer o quão mais fácil é exercitar nosso melhor diante de alguém que nos é valioso.

Fico olhando você lá, quietinho, tão bem encaixado no meu aconchego, e acabo sendo capturada por pensamentos sobre todas as coisas boas e simples que quero pra você: paz, felicidade, respeito, uma vida longa, sonhos realizados... Foi num desses momentos que me dei conta da oração rara que sai de mim exclusivamente pra você, sem planejamento nenhum. Eu apenas rogo a tudo que há de bom no universo para que te cuide muito bem. E como eu sei da força que esse tipo de oração tem sobre a energia vital, senti-me em paz por querer isso todas as vezes que te vejo dormindo, que é quando eu me obrigo a silenciar e simplesmente contemplar o seu sossego. O mesmo cuidado que tenho ao carinhar teu rosto de levinho, pra não te acordar, tenho ao pensar em coisas positivas para que nada contamine o seu descanso, que é também um momento sagrado no qual você me entrega sua confiança e intimidade.

Agora, que me dei conta desse ritual tão interno quanto espontâneo, fico curtindo com mais intensidade o amor que se movimenta em mim enquanto te observo. E todas as vezes é igual: como é fácil querer o bem assim. Então eu policio mais o que passa pela minha mente para emanar a você, ali, desligado e inconscientemente receptivo, as energias mais benéficas. Nesse momento de lucidez ímpar, tento não desviar-me de nada que polua os meus sentidos, de tão mágico que é estar diante do meu próprio melhor, estimulado por você, pelo que é pra mim. Com você lá, aninhado no meu colo, quero apenas colaborar para que o sentimento de paz que o seu cochilo sempre sugere, seja respeitado e contamine tudo que vier a seguir.

E assim eu vou te olhando, te paquerando, passeando com meus dedos em você até que o sono seja interrompido, o barulho invada o nosso espaço novamente e eu já tenha inundado o meu próprio coração desse amor desinteressado que me toma e me faz lembrar do quão grandiosos podemos ser diante de quem nos toca profundamente.

Gosto quando você dorme deitado no meu colo, porque isso me faz acordar para verdades humanas genuínas que o mundo, cada vez mais ligado, nos leva a esquecer. 


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Queria um beijo


Queria um beijo daqueles que não se precisa pedir. Um beijo impensado de tão desejado. De surpresa. Um beijo lento, sem pressa, sem ameaça, sem desconforto. Um beijo simples e honesto, sem grandes rompantes. Apenas um beijo dado com vontade. Nem rápido nem demorado, mas com sentimento. Beijo quentinho, que faz a gente amolecer inteira instantaneamente. Um beijo daquele que, de tão espontâneo, não se esquece mais. Daquele que deixa o gosto na boca da gente pra sempre. Como o primeiro beijo de um novo casal, cheio de descoberta, mas com mais intimidade. Tanta intimidade que a procura pelos lábios chega a ser intuitiva. Um beijo que abraça, curte, sente a outra pessoa por inteiro. Um toque leve de lábios, de línguas... olhos mansamente cerrados, mãos soltas, coração entregue. Beijo sem nota, sem avaliação. Beijo de namorado apaixonado. Beijo de saudade. Um beijo que, quando acaba, faz a gente respirar fundo e demorar pra abrir os olhos. Suave, calmo, de paz. Beijo que transmite aconchego, bem-querer, aceitação. Eu só queria, enfim, um beijo de amor. Agora. 


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Aprecia-me


Aprecia-me de novo
Como já se dispôs um dia.
Outro dia mesmo.
Quando me olhava e já sentia.

Aprecia-me de alguma forma
Não importa qual.
Busca com bondade, generosidade,
Algo que suplante o que tenho de mau.

Aprecia-me só mais uma vez
Pra eu lembrar o gosto bom
Que emanava de nós dois
Diante de um novo dom.

Aprecia-me com paciência,
Devagarinho, se for o caso.
Reencontre algum encanto,
Não me condene ao escasso.

Aprecia-me e deixe-me saber.
Porém, se não mais provoco-te motivação
Aceito seu silêncio, mas peço distância
Pois não existe amor sem admiração.


terça-feira, 5 de abril de 2011

Sob rodas


As rodas encostam no asfalto
E os poros já pedem pela intensidade.
Não se trata de uma viagem,
De uma corrida qualquer,
Trata-se do corpo misturando-se ao vento,
Dos pensamentos perdendo-se no intenso,
Da rotina comendo poeira na velocidade.
A vida vai acontecendo
Sobre essas duas rodas
Que mantém quente o asfalto
E exaltados os ânimos
De ser humano
- Eterno aprendiz -
Que se diverte enquanto desvia dos desafios.
Em frente.

(Esse poema eu criei para ilustrar o blog do meu super amigo Enriqueto Motoquento: http://guerreirodoasfalto.blogspot.com/) 



quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Bom, só quando recíproco


Não é só o amor que é bom apenas quando recíproco, mas também a saudade. Porque a saudade é uma das principais mensageiras do amor. É ela que sufoca, que desespera, que nos faz sentir na pele que estamos mesmo amando. Quando amamos alguém, sentimos saudade o tempo todo, em qualquer situação, mesmo após ter acabado de ver o ser amado.  Já quando essa falta não é sentida, então não deve... não pode ser amor. 

O ser amado faz falta na maior parte do tempo simplesmente porque se torna essencial, inevitavelmente. E mesmo que sua ausência seja justificável, compreensível, até mesmo necessária, uma vez que um pouco de distância conserva o relacionamento saudável, ainda assim carregamos o calorzinho da saudade no peito - mais mansa, mais amena, mas sempre ali. Afinal, seja qual for a situação, com a pessoa amada ao lado é muito melhor. 

Bom seria se pudéssemos saber mais da saudade que causamos lá do outro lado. No começo, com a paixão no auge, nem precisamos perguntar, essa falta é sempre relatada e das formas mais lindas possíveis. Mas depois ela vai sumindo até que você próprio sinta que não está fazendo falta alguma. E essa constatação machuca tão ou mais do que conviver em uma rotina na qual você não é mais é essencial. 

A saudade é a manifestação do amor em momentos e lugares improváveis. Incontrolável, ela nos lembra que o coração está repleto, que não estamos mais sozinhos.  E esse sentimento é tão idêntico ao amor que, quando escasso, gera a mesma e aparentemente incurável secura na alma. Não provocar saudade em quem amamos é duro e cruel, porque prenuncia um amor que já se foi sem nem sequer despedir-se. Ela nos traz de volta à dureza da realidade, e quando isso acontece é porque o sonho realmente acabou. E o amor é um sonho, o melhor de todos, mas que precisa ser forte e verdadeiro demais pra se mesclar à realidade a ponto de concretizar-se. Raras vezes é assim. 

E veja só, diante desse sofrimento que insistimos em experimentar vida afora, na eterna tentativa de tornarmo-nos raros enfim, quem segue nos acompanhando? A saudade. Essa megera que nos forçou reconhecer o fim do nosso sonho de amor continua a caminhada ao nosso lado ora em forma de lembranças, ora em forma de sufoco, eternamente em forma de lição. Ela nos faz sentir todo o tipo de falta: as doloridas, típicas do que foi e não volta mais; as necessárias, que têm um sentido maior; as irremediáveis, que carregamos o resto da vida e, sem elas, não conseguiríamos reconhecer nem a nós próprios, de tão intrínsecas.

O mais curioso nisso tudo é que vamos rodar, rodar e rodar e continuar buscando com uma necessidade insana a raiz de tudo isso: o amor. Tão logo nos recuperemos do trauma que causam tantas saudades acumuladas e não correspondidas, buscaremos amar novamente e provar as dores e as delícias que tantas saudades causam mais uma vez. E a lágrima que cai durante uma saudade recíproca é tão doce que não desejamos contê-la, pelo contrário, mergulhamos cada vez mais fundo no vício desse mel. Mas esse sabor é totalmente suplantado pelo amargo da lágrima que cai por causa daquela saudade que vai, porém, já  não volta mais.  


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Amor de Paz


Num relance desses que duram segundos
Lembrei-me do amor de paz
Que você sempre foi para mim.
Então senti-me envolta
Num abraço acolhedor
- invisível e indizível -
Idêntico aquele que senti
Quando encontrei seus olhos
Pela primeira vez.
Essa recordação bendita
Trouxe-me de volta à essência
Dos meus ideais mais íntimos,
De tudo o que eu sempre quis ser.
Agora exerço com consciência
A certeza desse amor de paz
Que acontece um dia de cada vez
E desfruto da libertação
Que isso reflete em mim e em você.
Não há melhor presente:
Um amor de paz vivido com liberdade.
Alimentado apenas
pela tranqüilidade de sabermo-nos onde,
de sentirmo-nos juntos sob os mesmos porquês
e da certeza de que todas as nossas oportunidades
ainda são coniventemente sonhadas.



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Não caibo nesse mundo

Eu não caibo nesse mundo.
Não por ser assim, grande, exagerada
Mas porque nem mesmo os meus
Possuem braços suficientes
Para acolherem-me totalmente.

Nós não cabemos nesse mundo:
Eu, meus conceitos, minhas crenças,
Meus volumes corpulentos.
Já dentro de casa enfrentamos a resistência,
A indisposição para enxergar
Além do volume de nossas existências.

Caberia nesse mundo, sim,
Se ele tivesse mais espaço
Para valores invisíveis a olho nu.
Ficaria realmente bem
Se confeccionassem modelos plus size
Que acondicionassem, simplesmente, mais amor.

Mas quem quer vestir isso?
Não está na moda.
Não eleva às custas de rebaixamento alheio.
Para quê ampliar os manequins
Se a visão de mundo e de vida
Não se ampliam fácil assim?

Eu não caibo nesse mundo
Não porque ocupo mais espaço
Do que os outros acham ocupar.
Mas porque acredito
Em valores muito aquém
Do que a maioria consegue acreditar.