sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sua maldade te revela


A sua maldade te revela.
Mais do que isso: te desnuda.
E quanto mais dela se dedica, mais de você é renunciado perante o mundo. Mas você ainda não pode ver, não é? Pessoas que seguem esse modelo de conduta que você escolheu, geralmente, são completamente cegas com relação a si mesmas.
Mas eu não me conformo e gostaria de te abrir os olhos, porque é patético demais vê-la tão entregue assim.
Enquanto pensa que ela, a maldade, te torna imponente, mal sabe o quanto da sua vulnerabilidade está sendo exposta. Seus medos, sua inveja, sua fragilidade estão aí, para qualquer um ver e, quem sabe, por seus iguais ser usada contra você. Infelizmente, há mais da sua espécie no mundo.
Mas talvez o que possa realmente te incomodar é o fato de estar servindo de auxílio. Já chegou a pensar que na vã tentativa de prejudicar, acaba servindo de instrumento para proteger?
O acaso é sempre um mistério!
Sinto muito, mas é a inexorável lei da vida: toda força positiva é capaz de reciclar a força negativa disparada e coloca-la a serviço do bem. Você não sabia disso, não é? É porque a força negativa consegue ser ainda mais ínfima e insignificante do que quem faz uso dela.
Tanto esforço desperdiçado! Como o que te move é maléfico, não atinge qualquer intuito, já que, ao contrário, o que me envolve é benéfico.
É uma questão de essência, caráter e intenção, sabe? Não, você não vai saber...
Portanto, trato de continuar andando feliz pela vida com a certeza de que ela transforma em escudo todas as tuas – e mais de quem for - más intenções.
Confesso, porém, que seu sadismo choca, no entanto, vê-la assim, confessando suas próprias fraquezas por meio de suas atitudes, não deixa de ser útil. Um dia, quem sabe, isso te faça cansar de ser tão pequena e te leve a decidir, enfim, progredir.
Lembre-se: nunca é tarde para tornar-se gente de verdade.  
Enquanto isso, sigo distraída, protegida por minha própria indiferença – essa que você não consegue praticar de jeito algum e que a faz se sentir tão inferior diante dos demais.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Gosto de você

Gosto de você naturalmente. Gostei quando soube dos seus gostos e quando percebi algumas das suas tantas motivações. Gostei mais, logo após, quando encontrei os seus olhos e neles avistei um porto calmo, embora profundo e quase todo inexplorado. Hoje, gosto de você porque isso me faz sentir paz. Sua voz não me causa estranhamento, sua pele não impõe distanciamento. Gosto de você devagarinho, mais a cada dia, mais a cada descoberta. E gosto ainda mais sempre que me mostra formas tão diferentes de descobrir-me em você.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Silenciei




De O entardecer de 11 de março
 

Silenciei porque havia muito a dizer. Mas tudo sem tradução. Ainda busco as palavras, investigo as emoções. A saída foi silenciar para observar melhor o que tem acontecido, o que tenho sentido, o que está se realizando. Há quem diga que silenciar é um dom. Pra mim sempre foi um suplício, mas agora silencio em paz. O que venho sentindo é tão forte que me cala completamente, que me mantém estática, as vezes perplexa. Embora chocante, é justamente esse silêncio que está me salvando agora. Minha alma anda exigente e seus gritos acumulam-se ao ponto de ocultarem-me os caminhos, as respostas mais básicas, toda a direção. Melhor permitir-me calar para, quem sabe, ouvir, traduzir, compreender. Costumo insistir tanto que até esqueci o quando a insistência me irrita. Deve ser isso. Teimar é um tipo de burrice, de adiamento. Agora que tive coragem de desligar meus sons, entendi: há momentos em que não adianta fazer nada, só esperar. E a espera mais sã e suportável acontece em meio a quietude.

domingo, 11 de março de 2012

O meu lugar


Finalmente encontrei o meu lugar. É aqui, nesse abraço. A sua boca, minha bússola, me leva sempre para a mesma direção. E eu obedeço. Não há risco de me perder, já  decorei o mapa que reflete em teus olhos, o espelho onde sempre me encontro. Diante de você eu sempre acho o meu norte.  

Sim, você é o meu espaço predileto, meu habitat natural, minha casa, onde adormeço em paz, sob a proteção desses muros que são teus braços. Nesse lugar perfeito, onde me encaixo e me sinto realmente acolhida, sou a dona do mundo.

E o nosso mundo é tão incrível! Nos entregamos aos cuidados um do outro naturalmente. A sua voz dentro dessa casa é a música que enche de paz o meu coração, a melodia que dá fim à minha espera. É sossego. Sua presença recobre este lugar inteiro com uma manta de amor, de entrega, de confiança. De sentir.

Nosso namoro é quentinho como um chalé na serra com a lareira acesa. E é calmo como a brisa que esvoaça as cortinas  e nos mostra a pintura da vida lá fora enquanto misturamos nossos corpos debaixo desses lençóis brancos de paz. 

Quando estamos juntos, não há partida, só chegada. A cada descoberta, cada revelação, um facho novo de luz invade nossas janelas. E quanto mais claramente nos vemos, mais nos damos ao prazer da admiração.  

Agora entendo porque esse seu cheiro sempre me pareceu tão familiar. E porque a minha pele misturou-se tão facilmente à sua desde o primeiro toque. Porque a sua presença sempre me trouxe a sensação de saciedade. Junto de você consigo experimentar a verdade daqueles sonhos tão distantes de menina.

Você é o telhado que me protege das tempestades, as paredes que guardam meus tesouros mais valiosos. Sob a sua presença eu me torno uma pessoa melhor. Tanto que os ornamentos desse lar dos sonhos ficam por conta dos nossos risos soltos. O bom humor que presenteamos um ao outro mantém nosso lugar limpo e arejado.  Ele nos protege das armadilhas, de qualquer perigo. Ele nos cerca de respeito e de segurança.

Vem, fecha a porta aí de fora e abre esses braços: meu lugar. Tudo que preciso está em você. Tudo o que eu mais quis está guardado nessa alma infinita que não para de lançar-se a novos limites e mostrar-me o quanto o horizonte de um homem e de uma mulher que se querem pode ir além do inimaginável . 

Quando me deito aqui, no calorzinho bom do seu peito, tudo faz sentido. É tudo tão fácil, tão possível. Você espanta meus medos, minha solidão. Somos tão feitos para isso! Você é o melhor lugar do mundo. É onde eu finalmente me sinto em casa. Onde amo estar.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Terraço



Se um dia, por qualquer motivo, eu tiver de buscar outro lar, ele terá de ter um terraço igual a este aqui do lar em que vivo agora. E se não tiver, vou dar um jeito de construir. Não precisa ter luxo, basta que dê a volta em toda a casa, que caiba uma mesa bem grande de frente para a rua e que seja aberto – o suficiente para receber aqueles que trazem vida e lembranças eternas ao meu lugar. 

Se eu não puder mais desfrutar deste terraço onde cresci, brinquei, namorei, recebi amigos e fiquei sozinha por tantas e tantas horas olhando a chuva cair; onde estiquei as redes para relaxar olhando o verde vivo do gramado, contando as casas de João-barro no alto das árvores, admirando a garça que há décadas vive sob o telhado do vizinho e ouvindo o barulho do trem de carga que empurra o mato da linha quase abandonada, será por um motivo muito sério, porque não há nada que me faça desejar estar longe daqui.

Mas se acontecer, tentarei recriar um terraço exatamente assim, na esperança de reviver os instantes acolhidos neste espaço, debaixo deste telhado que nos protegeu de tantas chuvas, sóis, serenos, sem que tivéssemos de abrir mão de presenças, de horas, de sabores, de barulhos, de contemplações, de risos e silêncios. E vou continuar povoando a mesa de gente que eu amo, com a comida que eu gosto, em todas as oportunidades. E quando não houver ninguém, farei o mesmo que estou fazendo agora: sentarei nessa mesa enorme com papel e caneta, talvez até uns lápis de cor, e tentarei decifrar um pouco mais da minha alma, como só consigo aqui, olhando o movimento da rua, o soprar do vento, o cair das tardes. Sentindo com os olhos e com a pele as estações do ano mudarem. 

Daqui eu consigo ver os meninos brincando de carrinho ou rolando com os cachorros no chão; as avós os balançando na rede até dormirem; os churrascos com a turma da faculdade; a briga pelo primeiro pedaço do bolo de todos os aniversários; os almoços de família; as pessoas sentadas na beira do piso, balançando as pernas, jogando conversa fora nas tardes de domingo; as reflexões silenciosas de quando a gente só precisa de um tempinho pra pensar; os dias em que minha mãe e eu passávamos fazendo artesanato e falando sem parar; as vezes em que nos juntávamos para descascar toda a fava que meu irmão colhia da cerca; os papos que começavam do nada e iam longe; a churrasqueira de bloco; as gargalhadas; as respostas que só chegam quando se senta aqui. 

Se esta casa é o pedacinho do céu, como eu gosto de pensar (e como todas as casas devem ser), então talvez esse terraço seja a eternidade. A minha eternidade. Nele estão imortalizados os momentos que fizeram de mim o que sou hoje. Por ele passaram as coisas em que acredito, as escolhas que fiz, tudo o que mais desejei. Passaram as pessoas mais importantes da minha vida, as que mais me influenciaram e as que mais me ensinaram também. Onde muitas lágrimas rolaram e muita coisa foi dita. Onde palmas bateram trazendo boas e más notícias, surpresas e descobertas. Onde muitas esperas foram encerradas, muitos encontros, consumados. Onde, simplesmente, os dias se transformaram em anos, que se transformaram em lembranças, que se tornaram ensinamentos e, por fim, saudades.

E hoje estou aqui, no meu terraço, revivendo essas lembranças e pensando nos meus sonhos. No futuro que apenas eles me garantem. Acho que os primeiros sonhos, quando chegaram, nem precisaram atravessar portas para me encontrar. Eles devem ter me achado já no terraço da casa, onde desde pequenina eu fico à espera, criando e recriando cada um deles.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Um oceano de silêncio



Não conseguia compreender o seu silêncio. Sou barulhenta e bagunceira, e isso me torna insensível com os quietos. Com a verdade profunda. Com você, que nutre uma quietude que não aplaca apenas a fala, mas também os olhos, os movimentos, as intenções. Não consigo te ler! O não saber que esse silêncio impõe sempre me incomodou demais, porque eu preciso saber das coisas, gosto de ouvir o barulho das aflições, das exuberâncias, das contenções, das saliências, das dúvidas, das verdades, dos absurdos que compõem cada pessoa. Por mais incertos e tresloucados que sejam esses impulsos, prefiro ouvi-los. Assim como prefiro, desajustada, emiti-los.

Essa minha mania de viver depressa demais não te deixaria mesmo escapar, daí a vontade louca de te tomar num gole só. Mas você não é pra ser tomado em goles, quanto mais num só. Você é um oceano inteiro. Um oceano de águas inexploradas – as vezes temidas, as vezes desafiadas sem qualquer prudência, mas nunca navegadas de verdade. E só agora me dei conta que o seu silêncio é sua defesa. É a forma que encontrou de proteger-se dos medos, das grandes constatações, das próprias revelações. Então você se veste de jangada e se lança à deriva de si mesmo, e quem te sobrevoa se atenta à jangada solitária e esquece o oceano. E lá está você. Aparentemente feito de águas calmas e desabitado. Aparentemente. Escondido e inalcançável.

Senti-me culpada agora. Por fazer tanto barulho. Por não compreender o seu silêncio. Por não respeitar sua autoproteção em forma de sigilo. Por querer fazer onda no seu mar congelado. Só agora entendo muitas das coisas que você disse sem emitir ruído algum. Talvez eu aprenda com você a poupar também as cordas vocais da minha alma, que berra o tempo todo, propagando minha ânsia aos quatro ventos enquanto você só faz engolir a sua. Talvez eu aprenda, finalmente, a não impor minha música pobre aos ouvidos que me circundam. Senti-me egoísta e infantil agora. Porque você suporta as intempéries do tempo e do clima sem reclamar. Sozinho. Calado. Recebe e acolhe as gotas e os granizos despejados pelas tempestades que eu e outras nuvens pesadas impomos sobre você. Mesmo assim você se mantém. Poderia nos afogar se quisesse, mas prefere afogar-se no próprio mistério, e isso te torna cada vez mais profundo, mais distante da superfície. Mais calado.

Olhei nos teus olhos escuros com mais cuidado desta vez. Sem pensar apenas em mim, sem querer tanto, sem intenção nenhuma. Olhei em sossego e com o único intuito de buscar-te. Foi aí que enxerguei mais do que a jangada. Foi quando atentei-me à sua infinitude e à minha  superficialidade. Você é um mar repleto de tesouros e de histórias. De águas límpidas, mas não transparentes. Um oceano de segredos. Impenetrável. Uma dessas obras-de-arte naturais que ainda não encontrou um explorador à altura. Só o silêncio.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Presa na sua fantasia



As vezes você está tão perto, e quando acontece, sinto que finalmente alcancei aquele espacinho raro do seu coração. Mas de repente você se distancia e se fecha. Fico vendo isso acontecer sem saber onde errei, sem conhecer os porquês dessa sua fuga. E não poder fazer nada pra evitar é tão frustrante. Mas meu coração tolo não desiste e, teimoso, se adapta. Então, quando me acostumo a ter de esticar os braços pra te alcançar, você vem pra bem perto novamente e me faz crer que o meu amor foi aceito, que não há ameaças nem condições. Aí me aconchego no seu colo tão perfeito pra mim e me seguro bem forte, esperançosa de que assim permaneçamos até que a nossa música pare de tocar. 

As vezes você faz coisas que surpreendem até um coração romântico e incorrigível como o meu. Sem que eu espere, toma atitudes que gritam amor. Bem que me disseram que você não é de falar, só de fazer. Mas as vezes você se cala de um jeito que não há o que eu faça que consiga arrancar um suspiro seu. E eu tento, alfineto, investigo, observo, imploro, até que, exausta e confusa, simplesmente espero. E me conformo novamente com seu silêncio, por vezes frígido, cruel, insensível; por vezes indiferente, desatento. Aí me calo também, breco os rompantes da minha alma carente e sedenta, e penso estar aprendendo mais uma lição. É aí que seu amor ressuscita, renasce, se recobra do coma que me coloca de castigo, e se declara. 

Uma música, um carinho fora de hora, uma ligação surpresa, uma noite de amor incomum, aquele sorriso diferente, uma palavra, um agrado, cinco minutos a mais... São esses elementos que me prendem a você. Quando acho que não, você quer estar perto e só. O difícil é conseguir prever quando, porque as vezes sou eu que preciso que você queira estar perto. Perto de verdade. Prefiro acreditar que você esquece que eu também tenho necessidades que só você é capaz de suprir.

Será que esse amor, além de improvável, é tão provisório que não pode doar um pouco de segurança? Não faz sentido colecionar dias se eu não puder sentir que estivemos realmente juntos em cada um deles. O que é que te traz e o que é que te leva? Não tenho mais do que abrir mão, e não sei mais até onde posso compreender. Eu também preciso de um pouco de segurança. Pelo menos com relação ao que você sente. 

Algumas respostas encheriam de paz o meu coração e o deixariam mais forte para seguir adiante na nossa corda bamba. Mas acho que isso é pedir demais pra você, cada vez mais silencioso, reservado, arredio. E eu tenho te pedido muito mesmo. Está errado. O correto é não ter de pedir, e é isso que vou fazer daqui pra frente. Talvez pra compensar um pouco de tudo que você, indiretamente, me pede. E mesmo sem as respostas que tanto sonho, ainda estou disposta a me manter firme na corda bamba que leva até você e os seus extremos. Porque apesar do balanço e da ameaça de queda, você permanece aí, a poucos passos diante de mim e com os braços esticados para que eu não desista de alcançá-los. Apesar de tudo, sinto a ponta dos seus dedos, e eles dizem pra eu não cair e nem voltar atrás. Você ainda está comigo nessa aventura burra, perigosa, porém fascinante, e isso me prende à mesma fantasia.