Se um dia, por qualquer motivo, eu tiver de buscar outro lar, ele terá de ter um terraço igual a este aqui do lar em que vivo agora. E se não tiver, vou dar um jeito de construir. Não precisa ter luxo, basta que dê a volta em toda a casa, que caiba uma mesa bem grande de frente para a rua e que seja aberto – o suficiente para receber aqueles que trazem vida e lembranças eternas ao meu lugar.
Se eu não puder mais desfrutar deste terraço onde cresci, brinquei, namorei, recebi amigos e fiquei sozinha por tantas e tantas horas olhando a chuva cair; onde estiquei as redes para relaxar olhando o verde vivo do gramado, contando as casas de João-barro no alto das árvores, admirando a garça que há décadas vive sob o telhado do vizinho e ouvindo o barulho do trem de carga que empurra o mato da linha quase abandonada, será por um motivo muito sério, porque não há nada que me faça desejar estar longe daqui.
Mas se acontecer, tentarei recriar um terraço exatamente assim, na esperança de reviver os instantes acolhidos neste espaço, debaixo deste telhado que nos protegeu de tantas chuvas, sóis, serenos, sem que tivéssemos de abrir mão de presenças, de horas, de sabores, de barulhos, de contemplações, de risos e silêncios. E vou continuar povoando a mesa de gente que eu amo, com a comida que eu gosto, em todas as oportunidades. E quando não houver ninguém, farei o mesmo que estou fazendo agora: sentarei nessa mesa enorme com papel e caneta, talvez até uns lápis de cor, e tentarei decifrar um pouco mais da minha alma, como só consigo aqui, olhando o movimento da rua, o soprar do vento, o cair das tardes. Sentindo com os olhos e com a pele as estações do ano mudarem.
Daqui eu consigo ver os meninos brincando de carrinho ou rolando com os cachorros no chão; as avós os balançando na rede até dormirem; os churrascos com a turma da faculdade; a briga pelo primeiro pedaço do bolo de todos os aniversários; os almoços de família; as pessoas sentadas na beira do piso, balançando as pernas, jogando conversa fora nas tardes de domingo; as reflexões silenciosas de quando a gente só precisa de um tempinho pra pensar; os dias em que minha mãe e eu passávamos fazendo artesanato e falando sem parar; as vezes em que nos juntávamos para descascar toda a fava que meu irmão colhia da cerca; os papos que começavam do nada e iam longe; a churrasqueira de bloco; as gargalhadas; as respostas que só chegam quando se senta aqui.
Se esta casa é o pedacinho do céu, como eu gosto de pensar (e como todas as casas devem ser), então talvez esse terraço seja a eternidade. A minha eternidade. Nele estão imortalizados os momentos que fizeram de mim o que sou hoje. Por ele passaram as coisas em que acredito, as escolhas que fiz, tudo o que mais desejei. Passaram as pessoas mais importantes da minha vida, as que mais me influenciaram e as que mais me ensinaram também. Onde muitas lágrimas rolaram e muita coisa foi dita. Onde palmas bateram trazendo boas e más notícias, surpresas e descobertas. Onde muitas esperas foram encerradas, muitos encontros, consumados. Onde, simplesmente, os dias se transformaram em anos, que se transformaram em lembranças, que se tornaram ensinamentos e, por fim, saudades.
E hoje estou aqui, no meu terraço, revivendo essas lembranças e pensando nos meus sonhos. No futuro que apenas eles me garantem. Acho que os primeiros sonhos, quando chegaram, nem precisaram atravessar portas para me encontrar. Eles devem ter me achado já no terraço da casa, onde desde pequenina eu fico à espera, criando e recriando cada um deles.
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ResponderExcluirConheça o meu! Sou escritor, autor de 8 livros. Espero que goste! Abraços!
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