Não conseguia compreender o seu silêncio. Sou barulhenta e bagunceira, e isso me torna insensível com os quietos. Com a verdade profunda. Com você, que nutre uma quietude que não aplaca apenas a fala, mas também os olhos, os movimentos, as intenções. Não consigo te ler! O não saber que esse silêncio impõe sempre me incomodou demais, porque eu preciso saber das coisas, gosto de ouvir o barulho das aflições, das exuberâncias, das contenções, das saliências, das dúvidas, das verdades, dos absurdos que compõem cada pessoa. Por mais incertos e tresloucados que sejam esses impulsos, prefiro ouvi-los. Assim como prefiro, desajustada, emiti-los.
Essa minha mania de viver depressa demais não te deixaria mesmo escapar, daí a vontade louca de te tomar num gole só. Mas você não é pra ser tomado em goles, quanto mais num só. Você é um oceano inteiro. Um oceano de águas inexploradas – as vezes temidas, as vezes desafiadas sem qualquer prudência, mas nunca navegadas de verdade. E só agora me dei conta que o seu silêncio é sua defesa. É a forma que encontrou de proteger-se dos medos, das grandes constatações, das próprias revelações. Então você se veste de jangada e se lança à deriva de si mesmo, e quem te sobrevoa se atenta à jangada solitária e esquece o oceano. E lá está você. Aparentemente feito de águas calmas e desabitado. Aparentemente. Escondido e inalcançável.
Senti-me culpada agora. Por fazer tanto barulho. Por não compreender o seu silêncio. Por não respeitar sua autoproteção em forma de sigilo. Por querer fazer onda no seu mar congelado. Só agora entendo muitas das coisas que você disse sem emitir ruído algum. Talvez eu aprenda com você a poupar também as cordas vocais da minha alma, que berra o tempo todo, propagando minha ânsia aos quatro ventos enquanto você só faz engolir a sua. Talvez eu aprenda, finalmente, a não impor minha música pobre aos ouvidos que me circundam. Senti-me egoísta e infantil agora. Porque você suporta as intempéries do tempo e do clima sem reclamar. Sozinho. Calado. Recebe e acolhe as gotas e os granizos despejados pelas tempestades que eu e outras nuvens pesadas impomos sobre você. Mesmo assim você se mantém. Poderia nos afogar se quisesse, mas prefere afogar-se no próprio mistério, e isso te torna cada vez mais profundo, mais distante da superfície. Mais calado.
Olhei nos teus olhos escuros com mais cuidado desta vez. Sem pensar apenas em mim, sem querer tanto, sem intenção nenhuma. Olhei em sossego e com o único intuito de buscar-te. Foi aí que enxerguei mais do que a jangada. Foi quando atentei-me à sua infinitude e à minha superficialidade. Você é um mar repleto de tesouros e de histórias. De águas límpidas, mas não transparentes. Um oceano de segredos. Impenetrável. Uma dessas obras-de-arte naturais que ainda não encontrou um explorador à altura. Só o silêncio.
Caraca !!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirque lindo...............
simplesmente lindo.............
curti cada palavra....
Miga......
Tudíbão!!!!!
Parabéns!
Beijos,
Norma.
Querida Aliz!
ResponderExcluirQue lindo!
Que loucura!
Não se culpe,isso acontece com quem tem a alma apressada,também já fui assim.
Lindo tudo que você colocou para fora nesse texto repleto de alma.
Amei!
Beijos no coração e não some não,viu?
Essa é a minha consultora de alma preferida. Uma "almóloga"! Bjs.
ResponderExcluirEles ficam assim as vezes amiga...
ResponderExcluirTem que deixar quieto senao espana.
: )
Mas que texto, hein amiga...
Voce nao tah pra brincadeira nao ne?
Lindo demais...