domingo, 1 de março de 2015

Paredes

Essas paredes. Quanta história se acumula nelas. Quantas lágrimas e quantos risos. Quantos segredos e pecados. Quantas vidas elas abrigaram, cada qual com sua carga, sua confusão e seu valor.

Quanto há de vida e de morte impregnadas nessas estruturas que conseguem, quietinhas, frias, ir atravessando o tempo?

Quantas ventanias e tempestades elas contiveram do lado de fora?

E quanto mais essas paredes são capazes de suportar?

Quantos sonhos e frustrações elas testemunharam?

E quanto amor elas refugiaram até hoje?

Essas paredes centenárias. É impressionante pensar em algo que há tanto tempo guarda e protege. E como faz isso bem!

Abrigo nos inversos, refúgio nos verões, no entanto, tranquilas e serenas como em um eterno outono sem privar da primavera que não esmorece: sempre vem.

Até hoje, ao longo de tantas décadas, quanto de sono tranquilo elas já proporcionaram. Assim como novos despertares: da infância para a adolescência; da adolescência para a idade adulta; e desta para a dádiva de envelhecer junto e dentro de algo que se deixou possuir. Que cercou tantos ares e sustentou tantos céus. Infinitos céus!

Ornamentadas com quadros, fotografias, cores... suportes a todo tipo de registro da existência e, ainda assim, as mesmas paredes, o mesmo e fiel palco vertical de crenças, esperanças e saudades.

Paredes que um dia alguém sonhou em erguer para guardar tudo que tivesse e tudo o que fosse. E guardaram. Continuam guardando.

Quantas costas já devem ter apoiado? E mãos? E murros?

O projeto de uma casa até pode se tornar obsoleto com o passar do tempo, mas essas paredes jamais perderão sua poesia. São sustentáculos de algo muito maior do que uma casa. São sentimentos, emoções, lembranças, aprendizados sedimentados. Camadas e camadas de história. São feitas de muito mais do que tijolos e barro. Elas são feitas de insistência, de luta pela sobrevivência.

Apesar de serem construídas, entendem como ninguém de nascimentos e renascimentos. Dia após dia, sempre como se fosse a primeira vez, como se fosse a primeira vida que recebe.

Cúmplices incorruptíveis. Protetoras. Guardiãs. Paredes: alicerces de templos únicos, incontestáveis. Templos que, abastados ou humildes, são sempre inestimáveis. Verdadeiras caixas da existência. De muitas existências. Amiga, confidente e testemunha do tempo, certamente.

Será que sofrem com as perdas?

Será que se deixam contaminar com tanta boa e má humanidade?

Será que sentem saudade?

Talvez sejam apenas cofres invioláveis. O melhor e mais leal guardador de segredos.

Benditas sejam essas e todas as paredes, bem como todas as vidas que nelas se resguardam. De todas as vidas que reforçam as camadas dessas paredes, um sentimento lhes é comum: a genuína vontade de para elas sempre poderem voltar. 


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