Costumo dizer que a sexta-feira é o melhor dia da semana. E assim que termina o expediente tenho o melhor dia da semana no melhor horário. A noite de sexta parece mais longa, infinita e sem limites. Sim, é o anúncio do sábado com aquela deliciosa sensação de liberdade.
Em famílias numerosas e barulhentas como a minha é impossível planejar o fim de semana. Primeiro é preciso saber qual a disposição do pessoal, porque se há uma coisa imperdoável, é passar o final de semana longe um do outro. Mesmo que seja um dia livre, de sossego e guiado apenas pela vontade, há sempre um compromisso inadiável: estarmos todos juntos. Nós somos completamente contrários a regras, menos essa, que é sagrada.
Assim que amanhece o sábado o barulho já começa. Como se estivessem mortos de saudade, cada membro, grandes e pequenos, já vai chegando à sede da família: a casa da mamãe – que por sinal também é a minha. Na mesa do café, conversa vai conversa vem, e os planos que nunca são percebidos realmente como planos começam a acontecer. Nessa hora registramos os maiores níveis de volume na voz. Saem brigas, discussões, risos, piadas, declarações indiretas de amor eterno. Até que uma palavrinha mobiliza a turma toda: feijoada. Sim! Vamos fazer feijoada neste domingo!!!
Na verdade, a grande preocupação do sábado lá em casa é com o domingo: o que vai ter para o almoço na grande mesa lá de fora??? O importante é que todos estejam em casa, pois a falta de um já deixa a mesa meio bamba, o dia mais sem graça. Então, constatada a presença de todos, quanto vai ficar? Pensa que feijoada lá em casa é feita em uma panela de pressão? Que nada! Dia de feijoada é dia de pegar aquela panelona gigante, de escola, dar uma boa lavada e juntar a força tarefa. E então, divididas as despesas, é hora de ir ao supermercado.
A feijoada é especialidade de mamãe. Aliás, quase sempre é ela quem coloca a mão na massa literalmente. Mas dia de feijuca é expectativa, ansiedade, beiços lambidos o dia todo, já que a feitura do prato começa no sábado à noite para amanhecer pronto e descansado. Mas engana-se quem pensa que pela iguaria mais popular do Brasil amanhecer pronta o domingo nasce calmo. Ahahahaha. Quando não tem um dos filhos provando, em plena madrugada, em nome do ‘Controle de Qualidade”, essa penosa função é exercida assim que o dia amanhece – e o fiscal, geralmente, é meu irmão.
E o dia é uma bagunça! Mulher que não acaba mais dentro de uma cozinha tão pequena. Elas se juntam numa força tarefa que inclui colher a couve, preparar os torresmos e fazer o arroz, descascar as laranjas, lavar a louça, arrumar a mesa, fazer doces. Sim, claro, doce não pode faltar nessa mesa. Assumidamente gordos e escrachadamente felizes, esse pessoal nem se preocupa onde vai caber.
Nosso estômago é dividido
Em pouco tempo faz-se o silêncio. O que será que houve? Barriga cheia demais!!! Com muita preguiça, quase passando mal, um resmunga uma coisa aqui, outro responde ali, todos olham a rua, o céu, a grama, o sono. Chegou o momento de disputar uma rede e contemplar a gula satisfeita até que as sobremesas sejam trazidas. E viva o domingo, a fartura, o barulho , o sarro que um tira do outro por estar quase explodindo. E assim que os doces também são devorados, o ambiente é governado pela preguiça completa, quando cada um procura um cantinho pra tirar uma soneca ou simplesmente observar o céu recostado em algum dos pilares.
Lá em casa todo domingo é dia de festa. Festa sem música, sem bexigas e sem bebidas alcoólicas, entre onze membros de
Falando em menu... o que tem de bom aí pra comer?
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