segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Passou


Passava os dias distante.
Passava nas ruas distraída.
Passava e não olhava.
Ora, ela não sentia,
ela não tinha motivo para olhar.
Passava, simplesmente,
imersa nos seus sonhos,
perdida nos seus desejos.


Por fora parecia que tinha tudo.
Quem via reparava,
mas ela não,
nem notava.
Era tão comum, tão igual,
não se sentia observada.
Por isso passava, quieta,
sempre pelo mesmo caminho,
em direção ao mesmo lugar.


Um dia se sentiu diferente.
Sonha tanto.
Quem a via caminhando tão tranqüila
não conhecia o tamanho
dos sonhos que nutria,
do romantismo que escondia.
Um dia, num beijo
dado na mesma calçada em que passava
a despertou.
Sentiu-se distante do mundo.
Sentiu-se anormal.
Tanto sonhava,
tanto imaginava,
e veja só, caminhando sozinha
há tanto tempo que nem lembrava.


Agora, atenta a todos os lados,
procura apressada,
espera inquieta,
por alguém que nem sabe quem é.
Apenas anda e observa,
e vê em cada rosto
a possibilidade do encontro
que sempre sonhou pelo caminho:
o sorriso que tanto procura
nos lugares por onde passa,
nos capítulos que esperam,
nas lágrimas solitárias,
no romantismo em vão escondido.
Quase implora pela chegada
desse corpo e dessa alma
que finalmente surja
disposta a ser seu abrigo.

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