Não se esconda de mim. Meus olhos, mesmo sem poderem te ver, buscam incansavelmente por todos aqueles elementos que me fazem reviver dias inesquecíveis.
No fundo, não é o ver ou o tocar que satisfazem o amor. O amor só é satisfeito pelo sentimento, por aquilo que representa, pelas marcas que deixa, pelo que se torna inquestionavelmente maior do que qualquer outra coisa. É a saudade, mas principalmente, a certeza de que o distanciamento não acaba com a lembrança e nem com a vontade de que continuasse para sempre.
E o sempre é o documento que prova o valor disso que eu agora relato a você. Não se esconda de mim, não. A ausência de palavras e afirmações não irão ajudar nesse processo que, na realidade, é mais doloroso do que o próprio fim. Declarações cada vez mais espaçadas ou o próprio silêncio não servem para nada quando a força do que foi dito antes ainda permanece nos cantos das nossas almas.
Não adianta ficar do lado de trás da porta, mas ainda colado a ela para ouvir o que se passa do lado de cá. Eu não faço segredos para você. Não se esconda e nem esconda seu coração de mim, porque o que não podia acontecer já aconteceu, e agora já faz parte da história de nós dois, por mais que ela não seja escrita a quatro mãos.
A força do que foi ainda é mais forte do que essa, do que é, do que está sendo. Não esconda seu brilho de mim, seus sussurros, seus desejos repentinos e despropositados. Eu ainda estou aqui, e junto comigo, o efeito teimoso de tudo que, juntos, já fizemos existir. E uma vez existente, não morre mais.
Embora invisível, construímos algo que se confunde, as vezes, ao amor. E por ter sido assim, tão incerto e tão improvável, permanece no ar misturado ao oxigênio das nossas lembranças eternas. Não se esconda de mim. Você é parte disso também, desse aroma que sempre será incomparavelmente único, dos elementos mais simples, do que nunca mais deixará de ser verdade.
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